A atual novela das sete, em plena reta final, segue muito gostosa. Maria Helena Nascimento vem conduzindo sua primeira novela de forma competente e apresentando bons acontecimentos, apesar de alguns deslizes. Dirigida por Maria de Médicis e Dennis Carvalho, Rock Story merece os elogios que recebe desde a estreia. E uma das qualidades do folhetim é a escolha do elenco do núcleo principal. São vários bons nomes, mas quem vem roubando a cena mesmo é Ana Beatriz Nogueira.

Na pele da atrapalhada e superprotetora Néia, a atriz virou o grande destaque da novela, e com muito mérito. A mãe de Léo Régis (Rafael Vitti) e Yasmin (Marina Moschen) protagoniza as cenas mais engraçadas da trama, sendo o principal alívio cômico do enredo, que, ao contrário dos folhetins anteriores, não tem a comédia como foco. A personagem prometia bons momentos desde sua primeira aparição, mas cresceu além da conta, muito em virtude do talento extraordinário da intérprete.

Néia foi gari no passado e abandonou a profissão depois do sucesso de Leonardo Régis, que lhe deu uma excelente condição financeira. Ela faz de tudo pelos filhos e esse excesso de ‘cuidados’ muitas vezes resulta em tiradas impagáveis, além de planos ‘infalíveis’ que sempre dão errado. É um perfil que provoca risos pelas atitudes e não pela caricatura.

De caráter duvidoso, a mãe zelosa abusa de chantagens emocionais e criou um ódio mortal por Diana (Alinne Moraes), a ‘nora’ apelidada de ‘papa-anjo’. Embora cobre de Yasmin, é Léo o seu filho preferido e a ex-gari fazia várias armações para separá-lo da namorada.

Entre os vários planos da ex-gari, o seu falso sequestro foi o mais ousado e o que proporcionou melhores cenas para a intérprete. Em conluio com Lázaro (João Vicente Castro), Néia fingiu que foi sequestrada no dia do casamento simbólico de Léo e Diana.

A arrogante senhora ficou no apartamento humilde de Ramon (Gabriel Louchard), comparsa do empresário, e protagonizou momentos hilários ao lado do rapaz. Para culminar, ela se viu sequestrada de verdade e ainda acabou desmascarada pelo filho dias depois, que também descobriu suas outras armações, como a compra dos ingressos de um de seus shows para simular um abandono das fãs.

A personagem acaba se dando mal o tempo todo, abusando das lamentações e muitas vezes reclamando com o seu Santo Expedito. Ana Beatriz vive atualmente um raro momento de leveza na ficção, após uma sucessão de perfis dramáticos. Em Celebridade (2003) – como Ana Paula Diniz – e em Caminho das Índias (2009) – como Ilana -, ela já havia experimentado o humor, se saindo muito bem, o que não chega a ser surpresa. Mas agora a intérprete tem conseguido explorar sua veia cômica com muito mais facilidade, pois é o principal foco cômico da novela. Tanto que a autora vem caprichando no texto da Néia, inserindo cada vez mais tiradas debochadas e sarcásticas.

A atriz faz uma ótima dobradinha com Rafael Vitti, protagonizando ótimas cenas, sendo algumas repletas de humor e outras voltadas para o drama. Sua parceria com Marina Moschen também merece menção, destacando a relação cheia de patadas entre mãe e filha. E é impossível não citar o êxito na repetição da dupla formada com Alinne Moraes.

As duas talentosas intérpretes foram mãe e filha em Além do Tempo e foram agora sogra e nora que se odiaram. Os momentos das duas sempre renderam. João Vicente Castro e Gabriel Louchard ainda completam a lista de colegas que protagonizam divertidas sequências ao lado dela. Em suma, Ana brilha ao lado de todos com quem contracena.

Por sinal, a atriz vem formando uma dupla maravilhosa com Gabriel agora que Néia resolveu fingir que namora Ramon. Tudo porque Almir, seu ex-marido, voltou graças a Léo, que tenta reaproximá-los. Aliás, a escolha de Evandro Mesquita para viver o ex do perfil mais engraçado da novela foi de um acerto inquestionável. Ele e Ana tiveram uma sintonia imediata. Vale citar ainda Giovana Cordeiro, ótima como Stefany, também protagonizando bons momentos nesse núcleo ‘familiar’.

Essa é a quarta mãe controladora seguida que a atriz interpreta nas novelas. A mais marcante de sua carreira foi a Eva, da impecável A Vida da Gente (2011), que mimava Ana (Fernanda Vasconcellos) e destratava Manu (Marjorie Estiano). Depois vieram a Maria Aparadeira – do fraco remake de Saramandaia (2013), que era intransigente com a filha Marcina (Chandelly Braz), a Selma – da equivocada Em Família (2014), que idolatrava o filho Laerte (Gabriel Braga Nunes) – e a Emília, da ótima e já citada Além do Tempo (2015) – que queria mandar na vida da filha Lívia. Isso, claro, comprova que já passou da hora de Ana ser escalada para interpretar tipos diferenciados. Afinal, competência há de sobra e sua carreira comprova a sua versatilidade. Só precisa que os autores queiram sair da mesmice A sorte do atual papel é a veia cômica, o diferenciando dos anteriores, bem dramáticos.

Ana Beatriz Nogueira é uma das maiores atrizes do país e é rotina elogiá-la em toda novela que conta com seu talento. Em Rock Story não é diferente. A intérprete está irretocável na pele da descompensada Néia, sendo a responsável por algumas das melhores cenas da trama das sete. Não é por acaso que seu destaque tenha aumentado tanto. Ela rouba a cena sempre.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor