Uma das qualidades de Rock Story, atual novela das 19h da Rede Globo, é a consistência de seu elenco, seja no eixo principal (brilhantes desempenhos de Vladimir Brichta, Nathalia Dill e Alinne Moraes) ou nos núcleos paralelos (com bons nomes como Paulo Betti, Suzy Rêgo e Viviane Araújo). Todos os atores têm espaço para se destacar e, em alguns momentos, movimentam a trama com viradas decisivas.

Entretanto, na coluna de hoje, duas importantes peças merecem o foco: as talentosas Ana Beatriz Nogueira e Alexandra Richter, que vivem, respectivamente, a suburbana Neia e a terapeuta Eva.

O que chama a atenção nos desempenhos das atrizes é o currículo anterior de cada uma: Ana Beatriz, que vinha em uma sequência de fortes papeis dramáticos, se aventura pelo humor e garante boas risadas com as trapalhadas da mãe do cantor pop Léo Régis (Rafael Vitti). Alexandra, no rumo contrário, ganhou a oportunidade de mostrar seu talento em um tipo totalmente dramático, após participações em humorísticos como Zorra Total e Os Caras de Pau.

Neia é uma mulher totalmente deslumbrada com a riqueza e o sucesso do filho, mas não tem qualquer elegância e se intromete na vida pessoal dele e da filha caçula (Yasmin, personagem de Marina Moschen) sem qualquer pudor, principalmente por causa de dinheiro. Por várias vezes, chegou a fazer de tudo para atrapalhar o romance de Léo com Diana (Alinne Moraes), a quem chamava de “papa-anjo”, percebendo que a diretora artística da Som Discos não o amava verdadeiramente. Ao mesmo tempo, Neia chegou a ponto de encomendar o roubo do novo CD de Gui (Vladimir Brichta), ex-marido de Diana e rival de Léo, e assumiu a culpa do vazamento de fotos íntimas da ex-nora no lugar do filho.

Todo este conjunto tornou a personagem um dos maiores atrativos da história de Maria Helena Nascimento. E a escolha de Ana Beatriz Nogueira para interpretá-la foi mais do que acertada. A veterana atriz, nos últimos anos, vinha se destacando por personagens dramáticas, especialmente mães controladoras, como Eva, na elogiada A Vida da Gente (2011-2012); e Emília, na igualmente primorosa Além do Tempo (2015-2016).

Neia, aparentemente, seria mais um tipo semelhante na carreira da grandiosa intérprete, porém, o estilo escrachado e debochado da mãe de Léo deu um sabor diferenciado, que permitiu a Ana mostrar uma surpreendente veia cômica. A atriz ainda criou ótimas parcerias com Rafael Vitti, Marina Moschen, Gabriel Louchard (o atrapalhado fotógrafo Ramon) e João Vicente de Castro (o empresário Lázaro), além de repetir a boa sintonia com Alinne Moraes, que em Além do Tempo interpretou a mocinha Lívia, filha de Emília, nas duas fases.

Na outra ponta, Eva (Alexandra Richter) é uma mulher inteligente e solitária. Sua presença na novela se deu quando Gui foi obrigado a fazer terapia, após quase ser impedido de se aproximar da então esposa e da filha do casal, Chiara (Lara Cariello). Ao mesmo tempo em que cuidava do tratamento do ex-astro do rock, sofreu com a morte de seu marido – e descobriria mais tarde que ele tinha uma filha de outro casamento, a DJ Manu (Antônia Morais), cuja convivência é inicialmente conflituosa.

Em meio à decepção, Eva conhece Gordo (Herson Capri), pai de Diana, ex-sogro e grande amigo de Gui, e redescobre o amor. A relação transcorre sem grandes problemas até que Nanda (Kizi Vaz), uma funcionária do dono da Som Discos, se declara para ele, sem sucesso. Rejeitada, se disfarça de paciente da terapeuta e difama o patrão, fazendo com que Eva termine o namoro sem poder dar explicações (uma vez que, se revelasse, quebraria o sigilo médico). O relacionamento é retomado após Nanda ser desmascarada por Gordo e Syl (Lara Lazzaretti), cúmplice da armação.

Além de suas participações no Zorra Total e em Os Caras de Pau, Alexandra Richter já havia brilhado anteriormente em novelas como Passione (2010-2011) – na qual viveu a interesseira Jaqueline – e Cheias de Charme (2012) – interpretando a patroa esnobe Sônia Sarmento, chefe da protagonista Cida, personagem de Isabelle Drummond. Contudo, agora, a atriz está perfeita em um papel essencialmente dramático e mostra uma química evidente com Herson Capri. Ela ainda tem protagonizado boas cenas ao lado de Antônia Morais, enriquecendo a relação entre a terapeuta e a recém-descoberta enteada.

Versatilidade é um atributo importante para o ator. A capacidade de saber se reinventar a cada personagem, sem deixar qualquer vestígio dos papeis anteriores, e investir em temáticas não exploradas, saindo da zona de conforto, valoriza o talento dos bons intérpretes. E é justamente este atributo que faz de Ana Beatriz Nogueira e Alexandra Richter dois merecidos destaques de Rock Story. A autora Maria Helena Nascimento foi muito feliz em presentear as atrizes com papeis diferentes do que elas vinham interpretando. E, embora em situações “opostas”, ambas merecem todos os elogios pela entrega a suas personagens.


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