“Vamos para a festa, vem comigo, vem dançar! Juntos nesta dança pra se libertar…”

Com este refrão, o canal Viva convida o público a acompanhar, a partir desta segunda-feira (15), a novela Amor com Amor se Paga, de Ivani Ribeiro. A música embalava a abertura, recheada de porta-retratos, pratos, sabonetes, óculos e pingentes em formato de coração, ou coraçõezinhos estampados em lençóis, capa de agenda, cortina de banheiro, meias, gravatas e até uma calcinha.

A novela, escrita por Ivani Ribeiro, foi exibida no horário das seis entre março e setembro de 1984. O ponto de partida da autora foi uma antiga novela de sua autoria, escrita para a TV Tupi, Camomila e Bem-Me-Quer, exibida entre 1972 e 1973. Da trama original – que era baseada no personagem Harpagão, da peça O Avarento, de Molière –, Ivani pegou a história central e aumentou com novos personagens em tramas paralelas modificadas.

Para sempre ficará guardada na memória do público a interpretação de Ary Fontoura como o avarento Nonô Correia, talvez o seu personagem mais lembrado. A fixação do protagonista em fazer economia beirava a loucura e rendia boas risadas. Geladeira com cadeado e contagem regressiva para fazer as refeições eram suas marcas registradas. Vivia reclamando de miséria, mas era podre de rico, a ponto de esconder um tesouro.

Quem sofria nas mãos do avarento eram os filhos Tomaz (Edson Celulari) e Elisa (Bia Nunnes), bem como a divertida empregada Frosina – vivida pela humorista Berta Loran, bissexta em novelas.

O contraponto de Seu Nonô era o misterioso Tio Romão (Fernando Torres), um velhinho calmo e dócil, sempre com uma palavra amiga e um chazinho para apaziguar as mazelas do povo da pequena cidade de Monte Santo, onde se passava a história. Tio Romão aguçava a curiosidade de todos, pois era um andarilho que foi chegando no lugar e espalhando lições de bem-viver. Uns achavam que ele era um anjo, outros que era um bruxo.

Em meio às avarezas de Nonô Correia e os chás de Tio Romão, rolavam as demais histórias de Amor com Amor se Paga. Grace (Yoná Magalhães), sobrinha de Nonô, idolatrava tudo o que vinha dos Estados Unidos, enquanto Bruno (Carlos Eduardo Dolabella) era um patriota nacional convicto. É claro que eles viviam em atrito, principalmente após o convívio forçado pelo casamento de seus filhos: Rosemary (Mayara Magri), filha de Grace, e João Paulo (Matheus Carrieri), filho de Bruno.

Elisa (Bia Nunnes), a filha de Nonô, era uma moça extremamente tímida e romântica, mas que se achava um patinho feio. Era assediada por dois pretendentes: o velho Anselmo (Carlos Kroeber), amigo de Nonô, e Gustavo (Caíque Ferreira), um rapaz bonito e misterioso que vai trabalhar com o pai de Elisa, mas que, na verdade, estava de olho em sua fortuna.

Já Nonô se encanta pela jovem e bela Mariana (Cláudia Ohana em sua primeira novela), filha do Dr. Vinícius (Adriano Reys), um médico em débito com o avarento que se vê compelido a aceitar a corte dele sobre sua filha para se livrar da dívida. O problema, no entanto, é ainda maior: Mariana e Tomaz (Edson Celulari), filho de Nonô, se amam. Para melar esse romance, Bel (Narjara Turetta), a irmã invejosa de Mariana, apaixonada por Tomaz.

Quem também chega a Monte Santo é Renato (Miguel Falabella), filho do Dr. Vinícius que mentia que estudava na capital, mas torrava a mesada do pai com farras. Mau-caráter, o rapaz se encanta pela tímida Ângela (Júlia Lemmertz), até que ela descobre ser filha da doceira Judite (Chica Xavier) e Renato termina o namoro por que sua futura sogra é negra.

Barreto (Milton Moraes) é um prefeito demagogo que mal tem tempo para os filhos. Hipocondríaca, a primeira-dama de Monte Santo, Zélia (Vera Gimenez), morre por causa de automedicação. Barreto casa-se novamente com Silvia (Arlete Salles), melhor amiga de Grace, mas terá que enfrentar a mimada Camilinha (Giovanna Pieck), a caçula de Barreto, uma verdadeira peste.

Tito (Flávio Galvão) e Santusa (Wanda Stefânia) são donos de um restaurante e aparentam um casamento feliz, mas, na verdade estão em crise por causa do ciúme doentio dela. Santusa ainda maltrata o órfão Zezinho (Oberdan Jr. com 13 anos na época, mas aparentando menos), amigo de seu filho Carlito (Egon Azsman). Zezinho passa a frequentar a casa de Nonô e nasce ali uma amizade aparentemente impensável: o doce e esperto menino consegue, aos poucos, amaciar o coração de pedra de Nonô, a ponto de o velho adotá-lo.

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Um dos méritos da autora era enredar a trama central (de Nonô Correia) com as demais histórias paralelas da novela de forma que se entrelaçassem, já que todos os personagens estavam, de certa forma, ligados ao protagonista – Nonô era proprietário de vários imóveis na cidade, logo, a maioria dos personagens devia algo a ele.

A maestria de Ivani Ribeiro ao conduzir as histórias de Amor com Amor se Paga comprovam o domínio da autora na carpintaria da telenovela. Ivani construiu um folhetim redondinho, leve e agradável, muito apropriado ao horário das seis da época, repleto de dramas humanos, com personagens engraçados ou carismáticos.

Ao final, a bonita mensagem de que o amor não vale dinheiro algum: só se retribui com amor. Ou melhor: amor com amor se paga.

AQUI tudo sobre Amor com Amor se Paga: a trama, elenco completo, personagens, trilha sonora e muitas curiosidades.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor