Após o sucesso de Cheias de Charme, Filipe Miguez e Izabel de Oliveira amargaram um grande fracasso com Geração Brasil, novela que terminava há exatamente oito anos, em 31 de outubro de 2014, de forma decepcionante e sem cumprir tudo o que havia prometido em seu primeiro mês de exibição. Cercada de expectativas, a trama decepcionou, entrou para a lista das piores do horário das sete e impressionou a forma como a história foi se perdendo ao longo dos meses.

A segunda novela da dupla de autores parecia promissora e a estreia foi em grande estilo, com um capítulo engraçado, história interessante, grande elenco e repleta de personagens populares. E esta boa primeira impressão foi mantida nas primeiras semanas. A ideia de apresentar um enredo que tinha tecnologia como tema central era arriscada (vide o fracasso de Tempos Modernos), mas os núcleos cômicos atraentes e o drama central convincente faziam uma boa mescla com o mundo dos computadores.

No entanto, Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, mirando no êxito da mistura de ficção com internet de Cheias de Charme, se preocuparam mais em focar na interação com o público do que com a história. O concurso feito logo no começo da trama para a escolha do novo Jonas Marra tinha o objetivo de mesclar reality show com teledramaturgia e inicialmente funcionou.

Copa do Mundo

Mas logo a ideia foi esvaziada e na época da Copa do Mundo (quando os capítulos passaram a ter menos de cinco minutos – com Davi e Manu pedindo para o telespectador enviar vídeos fazendo determinadas brincadeiras) a novela já estava entediante.

Com o término do evento esportivo, houve uma esperança do roteiro encontrar seu rumo. Entretanto, nada mudou. Os autores continuaram investindo em competições fictícias dentro da história (vide a escolha da Garota do Barata, por exemplo, que se arrastou por dias), deixando o enredo de lado. A promissora trama envolvendo o protagonista ambíguo Jonas (Murilo Benício) foi esvaziada, enquanto que os demais núcleos foram perdendo a função.

O enredo parecia estagnado enquanto situações irrelevantes iam acontecendo. Com uma audiência baixa e sem perspectiva de melhora, os autores resolveram excluir tudo relacionado ao mundo da ‘transmídia’ e dos realities, para focar no roteiro. E foi exatamente a partir desta mexida na trama que a falta de um fio condutor e de conflitos atraentes ficou nítida. Quando a novela resolveu ser novela, não houve base dramatúrgica para sustentá-la.

A falta de um fio condutor ficou evidente, assim como o excesso de personagens avulsos. O grande segredo sobre o passado de Jonas Marra foi sendo arrastado ao longo dos capítulos e quando toda a trama foi revelada, inclusive mostrando Herval (Ricardo Tozzi, fraco) como um mocinho que virou vilão – situação bem semelhante ao contexto envolvendo Flora (Patrícia Pillar) e Donatela (Cláudia Raia) em A Favorita -, já era tarde demais para gerar algum tipo de interesse. Já os núcleos paralelos tiveram praticamente nenhum aproveitamento, apesar do ótimo elenco.

Equívocos

Aracy Balabanian foi uma figurante de luxo e esta foi a pior personagem de sua respeitável carreira. O núcleo da Família Marra da Taquara desapareceu da história, sumindo com Luiz Henrique Nogueira, Titina Medeiros e Miguel Roncato. A grande Renata Sorrah teve seu talento desperdiçado com a Gláucia Beatriz, uma vilã picareta que tinha tudo para roubar a cena. Rodrigo Pandolfo começou a trama se destacando com seu afetado Shin-Soo e teve uma ótima química com Elisa Pinheiro (Lara), mas foi outro perfil que se perdeu por completo e teve sua importância significativamente diminuída.

Taís Araújo brilhou com sua Verônica e merece todos os elogios, entretanto, a jornalista foi outra que sofreu com a história mal desenvolvida. O perfil ativo e determinado se transformou em tipo inseguro e apático. Já Gisele Fróes (Rita), Nando Cunha (Dante), André Gonçalves (Cidão), Mônica Torres (Susana), Marcelo Airoldi (Elias), Ellen Roche (Ludmilla), Débora Lamm (Edna), Daisy Lúcidi (Marlene), Lady Francisco (Madá), Juliana Martins (Jojô), Ana Terra Blanco (Luene), Bel Wilker (Evangelina) e Jéssica Ellen (Alice) foram atores que ficaram perdidos na novela, aparecendo e sumindo dependendo do rumo que a história tomava.

Os casais que tinham tudo para enriquecer a novela se perderam. Lara e Shin-Soo formavam um dos melhores pares da história, mas o romance foi aniquilado para que a personagem ficasse com Brian Benson (Lázaro Ramos), através de uma situação que nunca foi engraçada, embora o intuito fosse a comicidade: a reprogramação mental do guru.

Já Manu (ótima Chandelly Braz) e Davi (Humberto Carrão) demoraram demais para se encontrar e quando aconteceu houve uma paixão súbita e pouco convincente. O rompimento do casal também foi mal desenvolvido, tanto quanto a aproximação entre o apático mocinho e a patricinha Megan (Isabelle Drummond) – e o falho desenvolvimento continuou com a volta dos mocinhos na reta final. Infelizmente, a superficialidade se fez presente o tempo todo.

Já Ernesto (Felipe Abib) e Pâmela (Cláudia Abreu) formaram um excelente par, transbordando química. Entretanto, os autores resolveram escrever esta aproximação somente na reta final, o que foi um grave erro. Poderiam ter aproveitado esta boa sintonia ao longo da novela, o que não aconteceu. O mesmo vale para a personagem da Cláudia, que passou meses à sombra de Jonas, sem uma história própria. A atriz, inclusive, tinha uma ótima sintonia com Isabelle Drummond (que se destacou vivendo um tipo completamente diferente de tudo o que já tinha feito), mas a relação de mãe e filha foi outro ponto que se perdeu, principalmente quando as duas passaram a atrapalhar o romance de Davi e Manu – vale colocar também que o sotaque americanizado e artificial cansou ao longo da novela.

Poucos acertos

Porém, é preciso citar três acertos do folhetim: Barata, Dorothy Benson e Tomás. Leandro Hassum deu um show na pele do excêntrico personagem que era completamente apaixonado por Verônica. E Luís Miranda brilhou absoluto na pele de seu transgênero que se orgulhava de sua condição. Ambos representaram bem a comicidade de seus perfis, ao contrário do que ocorreu com Brian Benson, por exemplo, que pecou pelo exagero e sua onipresença cansou logo no começo da história. Já Gabriel Palhares foi uma grata revelação-mirim e o carisma do menino impressionou.

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E, apesar do festival de erros, o último capítulo apresentou algumas boas cenas que merecem menção. A cena de Jonas Marra saindo da cadeia (ficou quatro anos preso por fraude) e encontrando a sua família foi muito bonita, assim como o reencontro de Davi e Manu. O momento que Barata encontra um clone da Verônica (a periguete Veruska – Taís Araújo ótima), seu grande amor, foi um final já visto em outras novelas mas divertido.

Outro final inspirado foi Pâmela ganhando o Globo de Ouro pelo seu desempenho como Princesa Shelda. A sequência onde Brian abençoa o quarto filho de Verônica emocionou e misturou ficção com realidade, uma vez que a atriz estava grávida do ator, seu marido na vida real. Já a foto final, com parte do elenco reunido, encerrou o ciclo da trama (apesar dos pesares) de forma agradável.

Geração Brasil foi um grande equívoco de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, que não souberam conduzir a própria trama que criaram. A superficialidade de várias situações, a perda de rumo do roteiro, a fragilidade na formação dos casais e o mau aproveitamento do elenco aniquilaram a história. O fracasso nos números de audiência – a média geral foi de 19 pontos, índice inferior ao obtido por Além do Horizonte (20) – foi condizente com o conjunto apresentado ao telespectador. A ousadia na abordagem do mundo tecnológico não valeu a pena porque não foi capaz de sustentar a novela. E uma trama central que fisgasse o público, com bons ganchos, fez muita falta.

Uma pena que a promissora novela do primeiro mês tenha se transformado em um folhetim tão desinteressante e equivocado. As inúmeras falhas fizeram desta produção um fracasso para ser esquecido. Definitivamente, Geração Brasil não deixou saudades.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor