Uma das qualidades da atual novela das sete é a presença de vários personagens bem construídos. Rock Story apresenta muitos perfis cheios de camadas, evitando o tradicional maniqueísmo do bem contra o mal, embora algumas vezes tenha mesmo esse tradicional embate, até para honrar os elementos de um bom folhetim. E o tipo mais complexo da trama de Maria Helena Nascimento, dirigida por Maria de Médicis e Dennis Carvalho, é Diana, vivida com brilhantismo por Alinne Moraes.

A personagem foi casada com o protagonista Gui Santiago (Vladmir Brichta), com quem tem uma filha. Empresária bem-sucedida e sócia da Som Discos, empresa que tem em sociedade com seu pai, o bonachão Gordo (Herson Capri), Diana é uma mulher arrogante e mimada. Trata os outros com um ar de superioridade e não mede esforços para conseguir o que quer. Sempre foi perdidamente apaixonada pelo marido, mas acabou dando um basta na relação, após várias atitudes inconsequentes dele, inclusive muitas traições.

Para se vingar do pai da sua filha, Diana começou um relacionamento com Léo Régis (Rafael Vitti), o grande rival do marido, que fez um grande sucesso cantando “Sonha Comigo”, música de autoria de Gui (que o acusa de roubo). Porém, ela nunca amou o rapaz mais jovem e sempre o tratou como um mero passatempo.

Tanto que, recentemente, Diana o abandonou em pleno altar, após ter adiado várias vezes o casamento. A personagem fez questão de ainda tentar uma volta com o ex, sem sucesso. A negativa de Gui, claro, fez aumentar o ódio da empresária por Júlia (Nathalia Dill), a mocinha da história e atual namorada do roqueiro.

A filha de Gordo passa longe de ser uma mera vilã que quer separar os mocinhos. Ela tem algumas atitudes reprováveis, como quando usa Chiara (Lara Cariello) para atrapalhar o romance de Gui, e outras perfeitamente compreensíveis, vide toda a sua armação para separar o pai da interesseira Laila (Laila Garin). É um perfil bastante humano e longe do maniqueísmo. A forma como enfrenta o canalha Lázaro (João Vicente de Castro) – que sempre foi apaixonado por ela – é outra questão interessante, pois o humilha com facilidade e nunca se intimida com suas ameaças. Uma mulher decidida e segura de si.

A atriz está ótima no papel e a escalação foi uma das mais acertadas da novela. Difícil imaginar Diana sendo vivida por outra intérprete e Alinne sempre se sobressai em seus trabalhos, o que não é diferente agora. A personagem, por sinal, cresceu ainda mais nas últimas semanas, sendo a responsável pela nova virada da história: a transformação de Léo Régis, que, magoado, passará a infernizar a vida de todos ao seu redor, principalmente da ex, o grande alvo de sua raiva. Alinne, vale destacar, tem protagonizado boas cenas de briga com Rafael Vitti. Aliás, a sua parceria com a grande Ana Beatriz Nogueira também merece menção, pois os embates entre Diana e Néia são hilários – impossível não lembrar, inclusive, das duas brilhando em Além do Tempo, quando foram mãe e filha.

A química que Alinne tem com Vladimir Brichta – já observada no filme “Fica Comigo Esta Noite” (2006) e na microssérie “Amor em 4 Atos” (2011) – é mais um ponto positivo, favorecendo as cenas deles, quase sempre repleta de discussões e mágoas. A intérprete ainda protagoniza ótimos momentos ao lado de Herson Capri, sendo necessário destacar os bons embates nas sequências com Nathalia Dill. E todas as situações valorizam as nuances da personagem, que algumas vezes se comporta como uma egoísta mimada e em outras como uma filha amorosa e mulher apaixonada. O melhor de tudo é que a empresária nunca foi uma coisa só.

Diana é o perfil mais rico de Rock Story e Alinne Moraes honra a complexidade dessa personagem tão fascinante, que lembra bastante outros dois tipos dúbios que marcaram o horário das sete recentemente: a patricinha Amora Campana, de Sangue Bom (2013), e a poderosa Carolina Castilho, de Totalmente Demais (2015).


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor