Foi um prazer ver Alexandre Nero como Tonico Rocha, o grande vilão de Nos Tempos do Imperador, novela das seis que está sendo finalizada na Globo.

O personagem iniciou a trama com uma deliciosa dose de comicidade e ganhou a simpatia do público. No entanto, na segunda fase, fez jus ao posto de malvado da história de Alessandro Marson e Thereza Falcão, principalmente através da relação repugnante do coronel com sua esposa, a sofrida Dolores (Daphne Bozaski).

Alexandre Nero

O ator engrandece qualquer cena e vale destacar seus bons momentos ao lado de Daphne, José Dumont (Eudoro), Gabi Medvedovski (Pilar), João Pedro Zappa (Nélio) e Selton Mello (Pedro II).

Os autores ainda se mostraram inspirados quando colocaram na boca do canalha falas já ditas pelo atual presidente do país. E Nero sempre correspondeu. Não virou um dos trunfos do folhetim por acaso.

Estreia tardia

A estreia dele na televisão foi tardia. Com 38 anos, em 2008, o ator caiu nas graças do público logo em sua primeira novela. Na pele do humilde verdureiro Vanderlei, Alexandre se destacou vivendo um dos personagens de menor importância de A Favorita, primeira novela de João Emanuel Carneiro no horário nobre.

Pois seis anos se passaram e o ator ganhou sua melhor oportunidade como o protagonista de Império, em 2014, na trama de Aguinaldo Silva, cuja reprise se encerrou em novembro.

José Alfredo foi um personagem bem complexo e engrandecedor para qualquer ator. O protagonista da trama mesclava momentos de vilania com atos enobrecedores.

Era machista, frio, amoroso, cruel, herói, vilão, sonegador, honesto, canalha, sincero, enfim, uma contradição ambulante. Uma escolha ousada do autor que deu certo, já que nem todo personagem central com tais características funciona. O carisma do intérprete ajudou bastante na aceitação popular.

Acerto em Império

A complexidade dos sentimentos do comendador ao longo do enredo proporcionou para Alexandre Nero cenas ótimas, que evidenciaram o acerto de sua escalação. O ator esteve impecável na pele do bem construído e machista personagem, que tinha uma amante muito mais jovem, era pai de quatro filhos e casado com uma mulher que só pensava em poder.

Aguinaldo escreveu José Alfredo especialmente para o ator e acertou em cheio. Uma pena que tenha errado ao insistir na relação muito mal abordada do personagem com Maria Isis (Marina Ruy Barbosa).

Tanto que as melhores sequências de Nero foram os fortes embates que o comendador teve com Maria Marta, repetindo a boa parceria do ator com Lilia Cabral, vista anteriormente na já citada A Favorita. Na época, ambos viviam perfis completamente distintos: enquanto ele dava vida ao humilde Vanderlei, ela interpretava a sofrida Catarina, que era constantemente espancada pelo marido.

Emendando destaques

Nero vem emendando um trabalho atrás do outro e sempre se destacando. Começou na carreira tardiamente, mas tem colhido merecidos frutos desde que surgiu na telinha. Após A Favorita, brilhou em Paraíso (2009), na pele de Terêncio, e deu um show com seu primeiro grande vilão: o Gilmar, de Escrito nas Estrelas (2010), que foi um dos pontos altos da trama de Elizabeth Jhin. Já em 2011, o ator interpretou o homofóbico Baltazar – motorista de Tereza Cristina (Christiane Torloni) – e fez uma dupla divertida com Marcelo Serrado, o mordomo Crô, em Fina Estampa, ainda que hoje em dia todo aquele contexto seja deplorável.

Em Salve Jorge (2012), Alexandre deu vida ao advogado Stênio, formando o melhor casal da novela de Glória Perez ao lado de Giovanna Antonelli, a delegada Helô. Eles roubaram a cena e viraram o par protagonista da história.

Já em 2013, Nero ganhou o vilão Hermes, de Além do Horizonte e também brilhou, embora não tenha ficado até o fim por causa do seu protagonista de Império – precisou sair do folhetim de Marcos Berstein e Carlos Gregório para se dedicar ao José Alfredo.

Em 2015, um novo protagonista: o controverso Romero Rômulo, de A Regra do Jogo. Novamente fez um casal arrebatador ao lado de Giovanna Antonelli, a 171 Atena. Entre 2017 e 2019, o ator divertiu na pele do cínico Geraldo Bulhosa, na série Filhos da Pátria. Ainda em 2018, interpretou com entrega o empresário Pedro Gouveia, protagonista de Onde Nascem os Fortes, a última novela das 23 horas.

Outros que brilharam

Leticia Sabatella

Evidentemente, ele não foi o único destaque da novela. Letícia Sabatella, por exemplo, foi uma escolha certeira para interpretar a esposa de Dom Pedro II (Selton Mello). A atriz adotou um tom ameno e conformista que coube bem ao papel.

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O casal coadjuvante formado por Nélio (João Pedro Zappa) e Dolores (Daphne Bozaski) também conquistou seu espaço.

Mas é evidente que Alexandre Nero levou a novela nas costas. A recente reprise de Império e a atual novela das seis apenas comprovaram seu talento.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor