Zamenza

Além da Ilusão, atual novela das seis da Globo, tem reunido todos os ingredientes que um bom folhetim da faixa precisa ter. Após um início bastante pesado, onde um pai assassinou a própria filha e incriminou um inocente, a trama vem sendo contada de maneira leve.

A trilha sonora é um primor e os figurinos coloridos, o que remete a uma novela mais lúdica. Alessandra Poggi conseguiu reunir vários bons clichês com sua trama. Ao mesmo tempo, a autora merece uma menção especial por uma ousadia peculiar que vem praticando.

Além da Ilusão

A maioria dos folhetins, para não dizer todos, costumam apresentar vilões inteligentes e mocinhos burros. Afinal, os planos dos malvados precisam dar certo ao longo da história para o roteiro andar.

Caso contrário, fica quase impossível exibir um enredo clássico com viradas e movimentações. Tanto que o público já aprendeu a engolir certas situações forçadas porque sabe que é necessário para a teledramaturgia. Ainda que certos questionamentos sejam feitos, como achar um absurdo determinado personagem não ter percebido tal armação, por exemplo.

Inovação

Além da Ilusão

Porém, a autora tem conseguido inovar em sua novela. Ao menos até agora, os mocinhos estão sempre um passo à frente dos vilões, que enfiam os pés pelas mãos a todo instante.

Joaquim (Danilo Mesquita) é um completo imbecil e a cada plano que coloca em prática para afastar Isadora (Larissa Manoela), sua noiva, de Rafael (Rafael Vitti), consegue piorar sua relação com a herdeira da Tecelagem Tropical.

Sua última ideia foi atrapalhar o desfile da empresa para prejudicar Dorinha, que foi uma das responsáveis pelos vestidos. O mauricinho acabou com a luz elétrica do evento. Mas o mocinho conseguiu reverter tudo com um truque de mágica e acendeu vários lampiões.

Aliás, a magia de Rafael, identidade que roubou de um outro rapaz, funciona como um artifício para a escritora criar qualquer situação estapafúrdia e o telespectador ser obrigado a aceitar. Isso porque Davi não é mágico. O que ele faz na história é digno de um bruxo do nível de Harry Potter ou um X-Men.

Magia

Rafael Vitti

Não há truques em nada do que o personagem faz. Há magia mesmo. Doutor Estranho ficaria com inveja. É uma licença poética válida e até imprime um toque de realismo fantástico bem-vindo na novela. No entanto, deveriam ter apresentado o Davi como um feiticeiro e não mágico. Seria até mais interessante para o conjunto.

Mas, voltando para a questão da inteligência, o protagonista sempre percebe todas as armações de Joaquim. Ninguém consegue fazê-lo de idiota. Até porque passou 10 anos preso e fugiu da cadeia por conta de sua esperteza (e bruxaria também).

E não é só Rafael/Davi que prima pelo intelecto. Isadora também não é burra e percebe que seu namorado não é flor que se cheire. Assim que surge algo duvidoso na fábrica, a mocinha já acende o sinal amarelo para seu parceiro. E Dorinha nunca engoliu a sogra porque sabe que não passa de uma interesseira.

Situações constrangedoras

Barbara Paz em Além da Ilusão

Por sinal, Úrsula (Bárbara Paz) é outra vilã que raramente se dá bem. A personagem teve a ideia do filho desviar dinheiro da Tecelagem e o rapaz quase acabou preso. Ainda tenta a todo momento conquistar Eugênio (Marcello Novaes), mas acaba protagonizando situações constrangedoras com Violeta (Malu Galli), por quem o empresário é realmente apaixonado. Violeta, vale um adendo, nunca engoliu Joaquim por duvidar de sua índole.

Já Onofre (Guilherme Silva) é mais um mau-caráter que não consegue se dar bem por muito tempo. Espalhou a fofoca sobre o interesse de Olívia (Débora Ozório) no padre Tenório (Jayme Matarazzo) e acabou transferido para o turno da noite por ela.

Além da Ilusão

É verdade que voltou para o horário diurno porque se aliou a Joaquim, mas já começou a ser humilhado pelo patrão. O próprio Matias (Antônio Calloni) entra na lista porque desenvolveu esquizofrenia depois que assassinou sua filha e virou uma peça vulnerável.

Além da Ilusão tem se mostrado uma agradável trama e, mesmo em meio a tantos clichês, Alessandra Poggi soube sair da mesmice construindo mocinhos espertos e vilões idiotas. Que essa essência siga assim até o final.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor