André Santana

Na tentativa de elevar a audiência pífia, Fuzuê passou por várias mudanças. A trama, inclusive, perdeu o tom nonsense inicial e deu espaço a um thriller policial, deixando tudo mais sombrio.

Felipe Simas e Marina Ruy Barbosa em Fuzuê
Felipe Simas e Marina Ruy Barbosa em Fuzuê (Divulgação / Globo)

Com isso, personagens essencialmente cômicos acabaram perdendo espaço na novela. Isso fica claro ao analisar a evolução do personagem Heitor, de Felipe Simas, que passou de picareta canastrão a homem sério e bondoso sem qualquer sutileza.

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Malvado favorito

 

No início de Fuzuê, Heitor era praticamente o “malvado favorito”. O deputado era um vilão, mas seu jeito engraçado e sua falta de traquejo ao propor armações deixavam o personagem leve. Ele era “do mal”, mas, ao mesmo tempo, inofensivo.

Na prática, Heitor servia como alívio às maldades de Preciosa (Marina Ruy Barbosa). Estabeleceu-se na dinâmica do casal uma relação parecida com a do desenho animado Pink e Cérebro: a ruiva maquinava e o rapaz executava, de um jeito meio atabalhoado.

A interpretação vários tons acima de Felipe Simas deu ainda mais personalidade a Heitor, que era um tipo canastrão – no melhor sentido da palavra. Os discursos cheios de nuances, mas vazios de conteúdo, diziam muito sobre Heitor e se colocavam como uma sátira política interessante. O personagem bebia da fonte de João Plenário, tipo vivido por Saulo Laranjeira em A Praça É Nossa.

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Mudanças

Juliano Cazarré e Felipe Simas em Fuzuê
Juliano Cazarré e Felipe Simas em Fuzuê (divulgação/Globo)

Porém, como Fuzuê não atingiu os índices de audiência esperados pela Globo, começaram as intervenções. O autor Gustavo Reiz e o supervisor de texto Ricardo Linhares promoveram mudanças na trama, que deixou a comédia de lado para apostar numa história mais séria a partir da chegada de César (Leopoldo Pacheco).

Isso acarretou em transformações no perfil de vários personagens, inclusive os mocinhos. Miguel (Nicolas Prattes) passou de sujeito tímido a super-herói. Já Luna (Giovana Cordeiro), muito viva no início, mostrou ter “emburrecido” ao cair na conversa de Julião (Romulo Arantes Neto).

Sobrou até para Heitor, que perdeu seu lado histriônico e, do nada, virou um homem sério e responsável. A mudança, além de excessivamente forçada, serviu para descaracterizar o personagem, que ficou perdido dentro da novela.

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Outro homem

Marina Ruy Barbosa e Felipe Simas em Fuzuê
Marina Ruy Barbosa e Felipe Simas em Fuzuê (Divulgação / Globo)

Se no início de Fuzuê, Heitor tinha um jeito over, agora ele está “real” até demais. Do nada, ele decidiu ser um político responsável, passando a atuar realmente pensando no melhor para o povo.

O personagem de Felipe Simas perdeu o ar canastrão e assumiu um tom de “mocinho arrependido”. Ele simplesmente se cansou do casamento com Preciosa e decidiu deixá-la. Depois, flertou com Alicia (Fernanda Rodrigues), mas, agora, mira seus esforços em Selena Chicote (Talita Younan).

Ou seja, Heitor se perdeu totalmente. Dá a impressão de que o autor Gustavo Reiz, ao transformar Fuzuê numa trama mais séria, não soube o que fazer com os personagens essencialmente cômicos. E o político foi o que mais sofreu com isso. Ele virou um bom homem na novela, mas, para o público, o personagem simplesmente perdeu a graça.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor