Uma novela pode mudar a situação de uma emissora. Foi com base nisso que a Manchete, já em grave situação financeira, apostou todas as suas fichas naquele que seria o último folhetim de sua história: Brida (1998), com Carolina Kasting e Leonardo Vieira (foto abaixo).
Produzida como “salvadora”, Brida se converteu em um grande fracasso de audiência e, consequentemente, de faturamento.
A trama acabou com os recursos do canal e saiu do ar três meses após o seu início, em uma situação pra lá de lamentável.
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A última cartada
A situação da Rede Manchete em 1998 era a pior possível. A programação chegava, no máximo, aos dois pontos de audiência. Diante de números tão baixos, o mercado publicitário deixou de anunciar na estação, que foi loteando a grade com horários vendidos.
Lançar uma novela nova (e cara) nessa configuração foi uma grande ousadia – ou irresponsabilidade. A última cartada da direção da emissora foi no estilo “ou vai ou racha”.
Os envolvidos optaram pela adaptação do best-seller de Paulo Coelho. Um elenco de peso foi convidado pelo diretor geral Walter Avancini (foto abaixo). Além de Carolina Kasting e Leonardo Vieira, a obra contou com Rubens de Falco, Bete Mendes e Nádia Lippi.
Contratos de risco
A Manchete não mediu esforços na obra, lançada em agosto de 1998. A aposta arriscada incluía gravações fora do país, na Irlanda – uma extravagância para uma rede de televisão que precisava economizar.
Os índices de audiência não corresponderam ao investimento e, para piorar, a rede havia prometido entregar 5 pontos de audiência para os anunciantes; os acordos só seriam validados com tais números.
Estacionada nos 2 pontos, Brida mudou de horário um mês após a estreia, passando de 19h para 22h20, explorando cenas de erotismo. Tudo para chegar à audaciosa meta de 10 pontos…
Os índices não subiram, o dinheiro deixou de entrar em razão do cancelamento dos contratos e não foi possível honrar os compromissos financeiros, nem manter o folhetim no ar.
Final precipitado
Foi assim que, sem mais nem menos, com apenas 54 capítulos exibidos, Brida foi retirada do vídeo em 23 de outubro de 1998.
Sem recursos até mesmo para gravar as últimas cenas, a produção precisou improvisar para dar um desfecho “digno” à história.
A solução foi recorrer a cenas gravadas anteriormente, cobertas com a narração realizada por Eloy de Carlo, tradicional voz do canal, para explicar o fim dos personagens.
A essa altura, o elenco e vários profissionais de bastidores estavam em greve pela falta de pagamento.
O fim da Manchete
O pouco público que o enredo possuía ficou sem entender o que aconteceu, já que não houve anúncio algum sobre a reta final ou mesmo do último capítulo.
A ficha caiu quando, na semana seguinte, a reprise de Pantanal (1990, foto acima, com Cássia Kis e Cristiana Oliveira) ocupou o horário da narrativa encerrada bruscamente.
A dívida da Manchete, que, além de funcionários, incluía instituições financeiras e outros credores, cresceu exponencialmente devido ao mau momento econômico do país, com juros nas alturas.
A rede que tanto contribuiu para a televisão e a teledramaturgia brasileira chegou ao fim meses depois, em maio de 1999.
Após muitos problemas, acordos fracassados, venda impugnada e proibições na Justiça, a concessão da Manchete passou para os empresários Marcelo de Carvalho e Amilcare Dallevo, proprietários da RedeTV!.
A reapresentação da saga dos Leôncio e das Marruá foi concluída pela sucessora – que adotou tal nomenclatura apenas em novembro de 1999, quando lançou a sua programação definitiva.
A título de curiosidade, a RedeTV! soma 24 anos de atividade, enquanto a Manchete encerrou os seus trabalhos precocemente, às vésperas de completar 16.