A terceira versão de um clássico: confira os bastidores de Meu Pé de Laranja Lima (1998)
07/12/2017 às 19h00
– Em 1998, após exibir três produções independentes – A Idade da Loba (1995), O Campeão (1996) e Perdidos de Amor (1996) – a Band decidiu reativar seu núcleo de teledramaturgia. Lançou Serras Azuis, adaptação de Ana Maria Moretzsohn para o romance de Geraldo França de Lima. Com o departamento ainda engatinhando, sobrou também para Ana Maria a responsabilidade pelo folhetim substituto.
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– Foi a autora quem sugeriu a adaptação de Meu Pé de Laranja Lima, livro de José Mauro de Vasconcelos, que já havia rendido uma versão cinematográfica e duas novelas. O filme, de Aurélio Teixeira, e o folhetim, de Ivani Ribeiro, foram lançados em 1970. Dez anos depois, Ivani se transferiu para a Band, reeditando a trama escrita originalmente para a Tupi.
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– A intenção de Moretzsohn era cuidar dos primeiros capítulos e depois transferir a titularidade para uma de suas colaboradoras: Dayse Chaves, Maria Cláudia Oliveira, Vera Villar ou Izabel de Oliveira, coautora de Cheias de Charme (2012) e Geração Brasil (2014).
– O trabalho, contudo, não foi tão simples quanto parecia: os roteiros de Ivani Ribeiro estavam praticamente apagados – reflexo da ação do tempo sobre as folhas batidas em máquina de escrever. Muitos capítulos, aliás, já não existiam mais. Nos originais, uma inscrição na folha de capa, que indicava as condições precárias da Tupi em 1970: “Não perca seu script, porque não temos outro para lhe dar”.
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– Nas indicações de Ivani, menções ao estado de penúria em que vivia a família do protagonista Zezé (Caio Romei), um garotinho de seis anos, inteligente e arteiro. A equipe responsável pela atualização “abdicou da pobreza”, optando por ambientar o enredo numa cidadezinha do interior paulista, bucólica e aprazível.
– As cenas em externas foram realizadas no Centro de Mecanização e Automação Agrícola (CMAA), próximo a Jundiaí, a 50km de São Paulo.
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– Já espoleta nas duas primeiras versões, Zezé ganhou ares ainda mais “traquinas” para se aproximar do perfil das crianças da década de 1990. Outra alteração importante: cenas em que o menino era agredido, pelo pai Paulo (Genézio de Barros) ou pelas irmãs Jandira (Flávia Pucci) e Lili (Regiane Alves), foram praticamente abolidas.
– De motorista de táxi, Manuel Valadares, o Portuga (Gianfrancesco Guarnieri) – melhor amigo de Zezé -, passou a proprietário de uma firma de turismo, apaixonado por carros antigos. O hábito do pequeno de subir nos veículos, sempre conduzidos pela experiente Ana (Lu Grimaldi), causou sérios desentendimentos com o velhinho.
– Sem muita importância no livro e na adaptação de Ivani, o menino Serginho (Bruno Bezerra) ganhou novos contornos aqui. Riquinho, ele inveja a liberdade que Zezé desfruta, fazendo de tudo para se aproximar do menino (inclusive acenando com seus caros brinquedos).
– O núcleo de Serginho também cresceu: sua mãe, Heloísa Villa Rica (Jacqueline Dalabona), era a benfeitora da cidadezinha, cuidando desde o funcionamento da escola, onde Cecília (Chris Bonna) lecionava, até a inauguração de um novo posto de saúde. O médico Bernardo Reis (Fausto Maule), contratado para a instituição, se envolve com a jovem viúva – buscando revelar as maldades cometidas por seu falecido marido. Na reta final, surge João Pedro (Eduardo Conde), homem do passado de Heloísa que a afasta do filho.
– Até o pé de laranja lima, com o qual Zezé conversava, teve seu nome alterado: de Xururuca para Minguinho. Desta forma, convém-se apostar mais em uma trama inédita do que numa adaptação da obra de Ivani Ribeiro.
– Gianfrancesco Guarnieri, aliás, participou da versão de 1970, como Ariovaldo Pedrosa – personagem inexistente em 1998.
– A atriz Karla Muga despontou para o estrelato como Grampola, de A Indomada (1997). Foi ela a principal aquisição da Band para a novela. Regiane Alves, que no mesmo ano havia protagonizado Fascinação, no SBT, também se revelou uma grata presença.
– Karla e Regiane viviam Godóia e Lili. A primeira, doente do coração, descobre-se apaixonada por Henrique (Rodrigo Lombardi). O rapaz havia se abrigado na cidade, fugindo do pai milionário e repressor. O mistério em torno de Henrique desperta o interesse de Lili, que passa por cima do desejo da irmã e de seu paixão por Diogo (André Cursino), na tentativa de se unir ao forasteiro. Por fim, Henrique paga a cirurgia de Godóia; enquanto isso, Lili convence Diogo a aceitar que ela estude em outra cidade – Campinas ou São Paulo -, quando a moça, grávida do namoradinho, enfim entende que só a educação pode fazê-la “subir na vida”.
– Para a primogênita de Paulo e Estefânia (Eliana Guttman), a infelicidade de ser cortejada pelo comerciante Caetano (Sebastião Campos). Baqueada com a situação financeira de sua família, Jandira cede à investida, mesmo estando apaixonada por Raul Madeira (Fernando Pavão). Muitas vilanias depois, Caetano se descobre encantado por sua funcionária Eugênia (Sueli Oliveira), dando sossego para sua prometida e para a família Soares.
– Meu Pé de Laranja Lima contou com um orçamento modesto: R$ 2,4 milhões.
– A escolha do protagonista Zezé se deu por meio de testes com 320 crianças. Caio Romei já havia participado do longa-metragem Tainá – Uma Aventura na Amazônia (lançado apenas em 2000). Após a novela, Caio passou por programas da casa e pela série As Aventuras de Tiazinha (1999). Em 2000, se integrou ao elenco de Chiquititas, no SBT, onde fez também Pequena Travessa (2002).
– Outro garoto do elenco encontrou o sucesso em Malhação (2003). Ícaro Silva vivia o menino Juvenal, que supera os problemas de fala, se transformando num cantor de rap. Ícaro, no ar em Pega Pega, foi campeão do Show dos Famosos, quadro do Domingão do Faustão.
– A Band aproveitou a estreia de Meu Pé de Laranja Lima para repaginar sua programação. Estreou o Mulheres do Brasil, com Márcia Peltier, às 16h; na sequência, o Programa Silvia Poppovic (17h). ‘Meu Pé’ ocupou a faixa do H, de Luciano Huck, remanejado de 18h para 20h30. Em novo horário e com o subtítulo ‘de Verão’, a atração pode lançar mão de closes mais “reveladores” da beldade Suzana Alves (a Tiazinha). Logo após a novela, os jornais locais (19h), a série Louco Por Você (19h30) – Mad About You, estrelada por Helen Hunt – e o Jornal da Band (20h), então ancorado por Paulo Henrique Amorim, num novíssimo cenário com direito à redação cenográfica idealizada pelo artista plástico Joyme Nakayama. Ancorado por Sérgio Rondino, o Jornal da Noite (0h) também inaugurou um espaço diferente, idealizado por Jean Philippe Therené.
– Nas primeiras semanas, Meu Pé de Laranja Lima manteve a média do H: dois pontos.
– Os índices, contudo, não atendiam às expectativas da Band. A emissora suspendeu as atividades de seu núcleo de teledramaturgia após o término da novela.
– No último capítulo, Zezé perde o amigo Portuga. Ao saber que o pequeno corre risco de vida, o senhorzinho assume o volante de um carro, após anos sem dirigir, e acaba se acidentando. Crente de que o sofrimento faz crescer, o menino deixa de conversar com o pé de laranja lima. Anos depois, tocando os negócios que herdou de Portuga, Zezé (agora Kiko Mascarenhas) volta ao quintal para ouvir o sobrinho Manoelzinho, filho de Godóia e Henrique, contar o seu grande feito: é capaz de conversar com uma árvore!
– Passaram pela direção de Meu Pé de Laranja Lima o veterano Henrique Martins, Antônio Moura de Matos, Del Rangel e o ator Giuseppe Oristânio. Os dois últimos participavam da novela anterior, Serras Azuis: Del dirigindo; Giuseppe interpretando Olímpio Serpa.
-, ‘Meu Pé’ foi adquirida pela TV Diário (do Ceará), que a exibiu às 16h, entre março e julho de 2011. Caio Romei foi a Fortaleza para a apresentação da novela ao mercado publicitário. A trama também foi reprisada no canal fechado Fox Life, de janeiro a setembro de 2006. E pela católica Rede Vida, entre agosto e dezembro de 2013.