Uma medida adotada para a programação das emissoras do Norte e Nordeste do Brasil durante o horário de verão vem causando muitas críticas. É a chamada Rede Fuso, criada originalmente pela Globo – e que inspirou medidas semelhantes adotadas por concorrentes -, que vigora durante este período nestas regiões. A exibição da programação com uma hora de atraso em relação ao resto do país tem despertado críticas merecidas e, no momento atual, não tem razão de existir.
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Criada em 2008 para os estados com fusos horários mais atrasados em relação ao horário de Brasília, a Rede Fuso passou a ser adotada pelas regiões Norte e Nordeste durante o período do horário de verão, do qual estas regiões normalmente não participam, em 2009/10. O objetivo desta modificação era garantir que os programas obedecessem à vinculação horária da classificação indicativa (ou seja, aqueles classificados 12 anos passariam apenas a partir de 20h, 14 anos às 21h e assim sucessivamente).
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Com isso, em vez de a programação ser exibida em tempo real (leia-se uma hora mais cedo) diariamente, isto ocorre apenas aos domingos, enquanto a grade dos outros dias segue o seu horário normal, trocando-se apenas o horário do Jornal Nacional (que entra às 19h30) e da novela das 19h (que entra logo depois do JN, sendo praticamente uma “novela” das oito).
Quando se precisa exibir um evento ao vivo, como o futebol, o quadro é mais complexo. Antes, era veiculada apenas parte dos capítulos de quarta-feira das novelas das sete e das nove e o futebol entrava ao vivo com 10-15 minutos de atraso.
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Agora, para o futebol ser transmitido desde seu início, a atração das nove passa a ser exibida após o jogo, sendo praticamente uma novela das 11 e causando um inevitável estranhamento (além de prejuízos na audiência da região). As cenas restantes que não são exibidas ficam para os outros episódios ao longo da semana, deixando-os com durações às vezes bem mais longas que o normal.
Em 2016, a restrição foi derrubada, permitindo às emissoras exibir mais cedo produtos de classificações “maiores” e, com isso, tornando sem efeito a prática da Rede Fuso. No entanto, esta foi novamente adotada nos horários de verão de 2016/17 e 2017/18, algo totalmente difícil de entender.
A decisão despertou ainda mais críticas durante a semana final de A Força do Querer, exibida na primeira semana do horário de verão e que passou com atraso para estas regiões, fazendo com que o público se deparasse com os spoilers do final da novela de Glória Perez.
Um caso crasso ocorreu nesta semana, com três eventos ao vivo: duas edições do The Voice Brasil (cuja fase ao vivo é exibida em tempo real para o Nordeste desde 2013, após pedidos de fãs do programa) e o futebol de quarta-feira.
Para adequar a programação para priorizar o ao vivo, as atuais novelas das 19h e 21h, Pega Pega e O Outro Lado do Paraíso, têm exibido capítulos bem menores que o normal. Como exemplo, o capítulo de terça-feira da trama de Walcyr Carrasco nas regiões com fuso foi exibido em dois dias (terça e quarta-feira). Fica confuso para quem acompanha a história, pois não é seguida a sequência correta.
A Rede Fuso também afeta os outros telejornais e programas ao vivo diários da emissora, que são exibidos com delay e com o selo de “gravado” sobre o “ao vivo”. Como exemplo recente, no dia 25 de outubro o Jornal Hoje chegou a ser interrompido duas vezes por plantões da rede sobre a edição gravada. Ficou estranho.
Por todos estes transtornos que provoca e pelas bagunças na grade de programação para adaptar os eventos ao vivo, além do desconforto de assistir tudo com uma hora de atraso em relação ao eixo Centro-Sul, a Rede Fuso não tem mais nenhuma razão de existir. A prática do atraso do line-up, antes obrigatória em função da restrição imposta pela Classificação Indicativa, perdeu o sentido após a derrubada da vinculação horária.