A “oitava Casseta”: A trajetória de Maria Paula, de VJ a humorista

19/02/2018 às 16h00

Por: Fabio Marckezini
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Se você perguntar, para qualquer pessoa que passou pela juventude na década de 1990, “quem eram as musas daquele tempo?”, muitos irão dizer, sem pensar: Maria Paula. A apresentadora foi, por muitos anos, a “dona Casseta” ou a “oitava Casseta”, do programa Casseta e Planeta, Urgente! (1992). Mas a caminhada até a trupe do humor não foi fácil.

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Maria Paula nasceu e cresceu em Brasília, no Distrito Federal. Desde pequena se mostrava uma garota inteligente e traquinas: foi expulsa de um colégio de freiras por estourar uma bomba no banheiro; aos 16 anos, tinha passado no vestibular para a Universidade de Brasília. Morou um tempo sozinha em Londres, contrariando a vontade do pai; se apaixonou e acabou casando com o jornalista Augusto Xavier. O então marido morava em São Paulo. Ela se mudou para a “terra da garoa”, com planos de terminar a faculdade de psicologia.

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Paralelo a chegada de Maria Paula à capital paulista, a MTV Brasil desembarcava em solo tupiniquim atrás de rostos jovens, os tais ‘VJ’s’ da nova emissora. Logo ela viu que tinha a cara da MTV. Já Xavier não acreditava na possibilidade da esposa ser uma VJ.

O canal musical gostou do estilo da então nova apresentadora, que logo se tornou a “cara da MTV”, ganhando fama e notoriedade pelo seu estilo despojado e espontâneo em frente às câmeras. O “namoro” durou dois anos: ela foi demitida depois de bater de frente com a direção da casa. Seu casamento também acabara. Desempregada, Maria Paula recebeu propostas do SBT, da Band e até da Record. Mas sua vontade era ir pra Globo, que não lhe oferecia nenhuma oportunidade. Enquanto enfrentava o remorso por ter recusado outras ofertas e estar fora da mídia, finalmente veio o convite: para ancorar o festival Hollywood Rock, em janeiro de 1993.

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Idealizado pela Souza Cruz, fabricante de cigarros, o Hollywood Rock trazia grandes bandas de rock do Brasil e do mundo. Em 1993, não seria diferente: Red Hot Chilli Pepers, Alice in Chains e Simply Red, entre outras, tocariam por aqui. A mais esperada era o Nirvana, banda grunge que fazia grande sucesso na época. Maria Paula conduziu ao vivo o show do Nirvana, bem perto do público, de pé em uma plataforma. Muitos homens tentavam puxa-la pelos calcanhares e ela aguentou xingamentos e ofensas. Até mesmo papeis, latas de cerveja e garrafas foram jogadas em sua direção.

Sem perder o humor, ela conduzia a transmissão, chorando durante os intervalos. O show do Nirvana foi um desastre, considerado uma das piores apresentações da banda. Mas para Boni – José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, todo-poderoso da Globo – Maria Paula foi uma grata surpresa.

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Boni a convidou para apresentar o Radical Chic, baseado na personagem criada por Miguel Paiva, representada pela atriz Andrea Beltrão. O programa era um misto de game show com humor, no qual adolescentes respondiam perguntas após assistirem um esquete estrelado por Beltrão. Era uma tentativa de atrair o público jovem que estava ligado na MTV e no Programa Livre, apresentado por Serginho Groisman no SBT. Mesmo conquistando os adolescentes, a crítica negativa e a baixa audiência fizeram a atração sair do ar no final de 1993. Mais uma vez, Maria Paula estava fora da telinha, mas não por muito tempo.

O Casseta e Planeta, Urgente!, que entrou no ar em 1992, dentro do Terça Nobre, inovou o humor fazendo uma mistura de comédia com jornalismo, algo até então inédito e criativo na televisão. O grupo, formado por sete amigos, já era conhecido por parte do público: seja pelas revistas Planeta Diário e Casseta Popular, pelo disco ‘Preto com um buraco no meio’, lançado em 1989, ou pela cobertura do carnaval de 1990. Depois de escreverem para o TV Pirata (1988) e criarem um programa com a atriz e jornalista Dóris Giesse, o Dóris para Maiores (1991), a equipe conquistou um programa solo na Globo.

O humorístico era apresentado pela jornalista Kátia Maranhão, com passagens por SBT e Band. Ela não fazia parte dos esquetes e das reportagens do programa. Pela primeira vez fora do jornalismo, Kátia não se adaptou. Os “Cassetas” estavam insatisfeitos. Foi aí que se lembraram do talento e do bom humor de Maria Paula.

Ela aceitou o convite e foi participar da primeira reunião de pauta do grupo, em março de 1994, momento decisivo para a nova temporada do programa. Durante o encontro, Maria Paula se mostrava interessada em ajudar e participar da elaboração da atração, mas os “Cassetas” não demostravam interesse e esnobaram a jovem apresentadora: “agora senta ali e faz um desenho para os tios“, disse um dos humoristas. Ela assentiu, pegou o papel e foi desenhar. Voltou minutos depois, exibindo o papel com um desenho especialmente para o grupo: era um falo.

Se é pra botar o pau na mesa, tá aí“, intimou Maria Paula. Nesse momento, os tios do Casseta e Planeta perceberam que fizeram uma ótima escolha para apresentadora daquele ano. Maria Paula não apenas apresentou, mas atuou e participou ativamente da criação do programa, mostrando seu talento e sua versatilidade em meio a sete marmanjos. Maria Paula era a cara do Casseta e Planeta, Urgente!, e o Casseta e Planeta, Urgente! era a cara da Maria Paula.

Fabio Marckezini é pesquisador e mantém o canal Arquivo Marckezini no YouTube. Ocupa este espaço às segundas-feiras.


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