Poucos sabem, mas a TV Gazeta de São Paulo já teve um núcleo de teledramaturgia que produziu teleteatros e até uma novela em meados dos anos 70. E essa única novela produzida pela “a mais paulista das TV’s” – que completa 48 anos hoje -, envolveu-se em uma polêmica na época em que a censura trabalhava a todo vapor.
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Logo no inicio das transmissões, a Gazeta investiu nos novos talentos da dramaturgia e trouxe um gênero que as outras emissoras tinham deixado de lado: o teleteatro.
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A Gazeta apostou nos atores amadores, que fariam as peças ao vivo, dando assim uma opção aos telespectadores que não queriam ver as novelas tradicionais. Assim nascia o Teatro Gazeta, mostrando um teatro sem luxo, porém, humano.
Além desse programa, a emissora trazia um debate no qual atores e autores destacavam os problemas e os pontos positivos do teatro brasileiro.
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Foi uma estratégia corajosa e até inovadora do canal 11, que tinha como diretor teatral o veterano Ibsen Wilde, oriundo da Tupi, Excelsior e Bandeirantes. Mesmo com a ousadia, as dificuldades financeiras e a baixa audiência fizeram com que os programas saíssem do ar no meio do semestre.
Esses desafios não eram o fim da dramaturgia na Gazeta, pois o produtor Kleber Afonso tinha muitas ideias e queria retomar o núcleo e modernizá-lo. Junto com o diretor Luiz Francfort, foi criando um elenco com atores vindo da televisão, do teatro e do cinema – esse último que vivia a febre da pornochanchada na época.
O Teatro Gazeta voltava com a peça A Mansão do Fim da Estrada, do autor escandinavo Henrik Ulmer Klaft. A repercussão foi positiva e deu um ânimo à equipe do Canal 11 em continuar investindo na teledramaturgia.
Assim foi feita a novela Zulmira, com a direção de Kleber Afonso. O horário era bem diferente e inovador: sua exibição se iniciava a partir das 15 horas, algo novo na televisão.
Zulmira mostraria os desafios da dona de casa da classe média preocupada com o marido e filhos, com a alta dos preços, que adora uma fofoca e não perde um capítulo de sua novela favorita.
O enredo era de uma novela água com açúcar: nada ali poderia incomodar os censuradores. Porém, algo importunou, e muito: uma parte específica do cenário.
A trama se passava dentro da casa de Zulmira, especialmente no banheiro. O cenário contava com tudo que um banheiro tem: pia, box, o vaso sanitário, etc. Acreditem, uma cena ser rodada dentro desse cômodo era inovador naquela época.
Os primeiros capítulos foram gravados e enviados para a censura federal, pois era preciso o crivo dos militares para que qualquer coisa fosse ao ar. Para a surpresa da emissora, a censura cismou com o vaso sanitário que era exibido no cenário do banheiro, pois segundo os militares, era uma afronta ter um vaso exposto aos olhos dos telespectadores.
A censura “prendeu” a fita e a exibição da novela foi proibida bem no dia de sua estreia, que marcaria os oito anos da TV Gazeta. Funcionários da emissora foram até os órgãos responsáveis para argumentar que aquele motivo para censurar uma novela era uma imbecilidade.
Por conta da proibição, a produção ficou parada esperando uma resposta do governo federal. Mas o sonho da dramaturgia na Gazeta acabou não com a censura, e sim com o derrame de Kleber Afonso, que o impossibilitou de continuar à frente da direção do canal.
As fitas foram apagadas e a novela que teve poucos episódios gravados nunca foi ao ar e, após esse triste fato, a Gazeta nunca mais apostou na dramaturgia própria.
Na época da parceria com a OM/CNT, o canal exibiu novelas latinas e algumas produções independentes como Amor de Pai, Antônio dos Milagres, Coração Navegador entre outras.
O fracasso da novela da Gazeta mostra o quanto a censura pode atrapalhar a liberdade de expressão em diversos níveis. E isso mostra o quanto a censura é um fracasso.