“A gente quer manter o teatro vivo”, diz Ricardo Rathsam sobre postagens de fotos de peças

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Antes de ler o texto e a entrevista abaixo, abra o perfil de Ricardo Rathsam no Instagram: @RicardoRathsam.

Viu que álbum de fotos maravilhoso?! Agora ao texto.

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A quarentena e a paralisação das atividades impostas pelo novo coronavírus fez aguçar em muitos a criatividade na hora de interagir nas redes sociais. Neste cenário, o ator, diretor e produtor teatral Ricardo Rathsam vem destacando-se no Instagram com postagens de fotos que contam a história do Teatro. Um trabalho primoroso de pesquisa e resgate histórico.

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Sandra Bréa e Tereza Rachel em “Oh Carol” (1975) de José Antônio de Souza, direção Jô Soares – Teatro Mesbla RJ

Acho a iniciativa de Rathsam extremamente importante neste momento em que o teatro segue distante do retorno às atividades presenciais e em que Artes e Cultura são constantemente vilipendiadas pelas autoridades governamentais. Antes da quarentena, Rathsam estava em turnê com a peça “Teatro Para Quem Não Gosta”, na qual dividia os palcos com Marcelo Médici.

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Nelson Rodrigues como ator e Léa Garcia em “Perdoa-me por Me Traíres” (1957) direção Leo Jusi

Como nasceu essa ideia e o que te motivou?

Por ter escrito o “Teatro Para Quem Não Gosta”, pesquisei muito sobre o nosso teatro, e também o mundial. Veio a quarentena e decidi compartilhar algumas coisas que já tinha lido sobre. Claro que o que tem em registro é uma parte muito recente da nossa história. Mas também é muito rica.

Também o que me motivou foi o fato do teatro estar parado. A gente que é do ramo sempre quer mantê-lo vivo. Teve quem fez apresentações online, leituras. Eu só quis ajudar a lembrar o quão rica é nossa arte.

Bibi Ferreira dirigindo Rogéria em “Gay Fantasy” (1981)

Como é feita a pesquisa, quais os critérios para escolha das fotos e qual a abrangência?

Comecei a postar cenas de peças importantes, só do teatro nacional, e vou brincando com o tempo. Fico viajando entre os anos 40 e hoje. A escolha de ser tudo P&B não é só questão estética, para o feed ficar bonitinho, mas também para dar essa atemporalidade do teatro. Quando coloco Dulcina de Moraes e, em seguida, Drica Moraes, a ideia é mostrar todos na mesma história, com igual importância. Nossa cultura, a história de todos nós, mesmo de quem não é desse meio.

O critério de postagem é variado. Às vezes me lembro de peças importantes, atores que já se foram. Mas tento misturar os gêneros. Drama, comédia, alternativo, infantil, musical – mistura que fizemos [Rathsam e Médici] na realização de nossa peça contando sobre teatro (“Teatro Para Quem Não Gosta”).

Às vezes, percebo preconceito na própria área. Gente de drama que não gosta de comédia, ou de alternativos que não curtem o que eles chamam de peças “comerciais”, ou que acham teatro para crianças como se fosse algo menor, ou que acham teatro musical menos “teatro”. Busco fugir desses preconceitos todos. E gosto de pensar que são todos importantes, porque acredito nisso. No meu espacinho, Cacilda Becker merece postagem tanto quanto outra atriz que muitos não sabem o nome, mas que também passou a vida ralando nos palcos.

É tanta coisa boa em nossa história que mesmo nessas poucas décadas de registro, precisaria de mais umas encarnações para conseguir postar tudo. Muitas vezes não encontro foto. Ou a definição é péssima (já consegui restaurar algumas fotinhos mesmo sem saber mexer em Photoshop). Também fico chateado quando não encontro o crédito do fotógrafo. É mais fácil encontrar fotos boas dos anos 50 do que dos anos 90, não me pergunte porquê.

Não é porque eu postei foto de determinada pessoa que eu sou necessariamente fã. Ou não postei alguém ainda porque não gosto. Posso não ir com a cara de alguém, mas reconhecer a importância de seu trabalho, talento e dedicação ao teatro. E tenho amigos que devem até estar me estranhando porque eu ainda não postei. Como ainda pretendo continuar (não sei até quando) não tenho pressa. Evito postar produção minha para ter álibi contra cobrança.

Claudia Abreu e Vera Holtz em “Um Certo Hamlet” (1991) direção Antonio Abujamra – Teatro Dulcina

Como é a repercussão?

Começou a rolar de pessoas comentarem “Eu vi esse espetáculo!”, ou “Que saudades dessa atriz, vou pesquisar mais sobre ela!”, ou escrever outras curiosidades que sabem sobre a peça, ator. E isso foi me dando mais gás para pesquisar e postar. Não tenho tantos seguidores, não sou influencer, mas é uma delícia ver a quantidade de gente no meu círculo interessada nessa história.

E nessas de pedir foto quando não encontro [a atores, para postar], já aconteceu de reunir pessoas que fizeram um trabalho e não se falavam há anos, ou de colocar na internet fotos nunca antes registradas (como peças da Sônia Braga).

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Ricardo Rathsam em “Teatro Para Quem Não Gosta” (foto: Cátia Coelho)

Não vou fugir da pergunta clichê: como você prevê o teatro daqui para frente?

Nas pesquisas de teatro para escrever a peça, vi o tanto que o teatro conseguiu sobreviver a guerras, censuras de governo, proibições de igreja, pestes, crises. O teatro caminha junto à história da humanidade. A gente passa por tudo isso, a arte também. Acredito que depois da vacina o teatro pode ganhar ainda mais força. Acho super válido essas alternativas online e pode ser que resistam também. Mas não há nada como a troca presencial.

Sei de produções que estão prontas para voltar assim que liberarem os teatros, antes mesmo da vacina. Já outros preferiram esperar. A gente [Rathsam e Médici em “Teatro Para Quem Não Gosta”], o Antônio Fagundes com “Baixa Terapia” também… Mesmo com possibilidade de isolar cadeiras para distanciamento, eu não me sentiria nada a vontade de convidar pessoas para irem na minha peça nesse momento.

Resumindo, é só um passatempo na quarentena onde uni o útil ao que me é agradável. A informação simples para quem tem interesse sobre algo que amo. Não tenho nenhuma pretensão, mas se ajudar a despertar curiosidade sobre nossa história ou vontade de assistir alguma peça, que lindo! Já fico muito feliz só quando surge alguém falando que viu tal peça e amou, ou que sente saudades do que não viveu.

SOBRE O AUTOR
Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira.

SOBRE A COLUNA
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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