A Força do Querer teve uma estreia morna

“Querer… querer não é sonhar. Querer é se jogar. Querer é trabalhar, superar, realizar. Querer não é desejo, desejo sem suor. Querer é movimento, insistência, persistência, o meu melhor”. O teaser de A Força do Querer apresentou essa mensagem para o público, iniciando uma espécie de descrição a respeito da motivação dos personagens da nova novela das nove, que estreou nesta segunda-feira (03/04), substituindo a problemática e desfigurada A Lei do Amor. A responsabilidade de Glória Perez, agora, é recuperar a audiência do horário nobre – afinal, ironicamente, sua ‘tarefa’ com Salve Jorge (2013) era manter o imenso sucesso de “Avenida Brasil”, falhando na missão.

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Pela primeira vez, após várias novelas, a autora não abordará cultura de outros países e focará exclusivamente no Brasil. Tanto que a história começou na fictícia vila do Parazinho, no Pará, tendo a sensual Ritinha (Isis Valverde) como figural central. Ela é uma das três protagonistas do enredo, dividindo o posto com Bibi Perigosa (Juliana Paes) e Jeiza (Paolla Oliveira).

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Glória adotará um esquema de rodízio de protagonismos, mesclando as três futuramente, tendo a policial vivida por Paolla como elo de ligação, pois a mesma se envolverá com o ex de Ritinha (Zeca – Marco Pigossi) e tentará prender Bibi – que vira a Baronesa do Pó após se envolver com um traficante (Rubinho – Emílio Dantas).

O curioso é que na estreia só uma protagonista apareceu de fato e ainda assim bem pouco. O desgaste da relação de Bibi com Caio (Rodrigo Lombardi) foi exposto, para logo depois vir o término e a junção definitiva dela com Rubinho. Já a sensual Ritinha só apareceu nos minutos finais, nadando no rio em meios aos peixes. Nada de Jeiza.

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A novela teve uma primeira fase que durou meio capítulo, começando através do afogamento que vitimou Ruy (Fiuk) e Zeca quando crianças, provocando o desespero do pai Eugênio (Dan Stulbach) e Abel (Tonico Pereira) – aliás, os dois veteranos emocionaram. Os meninos foram salvos por índios e acabaram unidos por um chá e um colar que um xamã os deu.

A primeira fase foi retratada há cerca de 20 anos e também focou no núcleo protagonizado por Lilia Cabral e Humberto Martins, cujo enredo será o vício de Silvana em jogos de azar. Já ficou claro que o marido Eurico desaprova a atitude da mulher, embora os dois se amem. Os atores prometem uma boa sintonia em cena e têm química.

Outro núcleo que foi iniciado já na estreia foi o convidativo drama em torno da menina que não aceita ser quem é. A abordagem em cima do transgênero é muito importante e tem tudo para ser o conflito mais atrativo da trama. Maria Fernanda Cândido vive a perua Joyce, que tenta a qualquer custo deixar a filha Ivana um clone seu – desde criança, como foi mostrado no início. Carol Duarte faz sua estreia na televisão vivendo essa difícil personagem e será desafiada ao extremo.

A estreia foi morna, sem grandes acontecimentos ou maiores conflitos. Parecia um capítulo qualquer e não o primeiro. Não é um elogio e nem uma crítica, apenas uma constatação. Pode até refletir em algo bom porque várias novelas que começaram prometendo muito decepcionaram depois. Mas pode também implicar em um enredo pouco empolgante. Só o tempo mesmo dirá se a produção é boa mesmo ou não.

A direção de Rogério Gomes é caprichada, valorizando belas imagens e abusando de uma linda fotografia. A trilha incidental (de Rodolpho Rebuzzi) demonstra um costume do diretor que precisa ser renovado, pois remete imediatamente a outras novelas dirigidas por ele, como Além do Tempo, Morde & Assopra, Império, Amor Eterno Amor, entre outras. Mas é um profissional de talento que engrandece qualquer trabalho e Glória fez bem em tê-lo – é a primeira parceria deles.

A abertura deixou a desejar, em virtude da pouca inspiração das imagens, embora “O Quereres”, cantada por Caetano Veloso (e que também foi tema de abertura da série Divã, em 2011) seja linda. Outra situação que incomodou foi a semelhança da relação entre Eugênio e Eurico com os conflitos entre Raul (Alexandre Borges) e Ramiro Cadore em Caminho das Índias. Os irmãos que brigam pelo controle da empresa foram vistos na novela anterior da autora e coincidentemente com Humberto vivendo o mesmo papel. Para culminar, Joyce lembra bastante Melissa Cadore (Christiane Torloni) e a chegada da vilã Irene (Débora Falabella) deixará tudo ainda mais parecido, lembrando a Ivone (Letícia Sabatella). Mas resta aguardar.

A Força do Querer teve um começo cauteloso, evitando uma sucessão de acontecimentos. Nem mesmo as protagonistas apareceram de fato e houve uma preocupação em contar pedaços do enredo principal de forma mais serena. Quase uma tentativa de se aproximar do público lentamente. Os próximos capítulos poderão mudar essa impressão ou fixar a real intenção de Glória Perez.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas


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