A última novela de Glória Perez no horário nobre não deixou saudades. Salve Jorge (2013) tinha como grande objetivo manter o sucesso da faixa após o fenômeno Avenida Brasil, mas fracassou miseravelmente na complicada missão. Cheia de furos, situações absurdas e personagens sem carisma, a trama foi massacrada por crítica e público, tendo ainda vários atores fazendo figuração de luxo como defeito.

Para culminar, a própria escritora criticou a direção fraca do folhetim. Agora, passados quatro anos, a veterana autora retorna com um enredo focado na vida de três mulheres e não terá um país de fora (com bordões, danças e costumes) como parte do conjunto.

A história, dirigida por Rogério Gomes, será protagonizada por três personagens femininas fortes: a policial Jeiza (Paolla Oliveira), a bandida Bibi Perigosa (Juliana Paes) e a sedutora Ritinha (Isis Valverde).

O trio norteará o roteiro e cada uma terá o seu momento na novela. A escolha das atrizes se mostra muito bem pensada, pois são nomes de peso e que geram repercussão. Glória declarou que os conflitos serão contados individualmente no início para só depois tudo se entrelaçar. O clipe de 30 minutos da trama dedica praticamente 10 minutos para cada protagonista, mesclando com alguns núcleos paralelos que prometem outras situações interessantes.

Movidas pelo querer, as pessoas são sempre desafiadas a fazer escolhas. Escolhas que fazem bem ou que se voltam contra. Os quereres são múltiplos e se interligam, se chocando ou se harmonizando. São justamente essas questões que serão traduzidas através do enredo escrito por Glória.

Bibi se relacionará com Caio (Rodrigo Lombardi) – repetindo a parceria bem-sucedida dos atores em Caminho das Índias, da mesma autora, mas terminará com ele e o rapaz, advogado em formação, largará a possibilidade de administrar uma das maiores empresas do Brasil por conta disso. Bibi acabará se casando com Rubinho (Emílio Dantas) e os dois passarão por dificuldades financeiras, o que fará a personagem entrar para o mundo do crime, ganhando o sobrenome Perigosa (a mulher, inclusive, existe na vida real).

Já a protagonista que mais tem provocado repercussão é a Ritinha. Moradora de Parazinho, vila fictícia do Pará, a menina com ares de ninfeta adora ser cobiçada pelos homens e é noiva do caminhoneiro Zeca (Marco Pigossi) – filho de Abel (Tonico Pereira).

Ela desperta o interesse de Ruy (Fiuk), filho de Eugenio (Dan Stulbach de volta à Globo) e noivo de Cibele (Bruna Linzmeyer). O rapaz se encanta pela garota e nem imagina que ela é noiva do sujeito que quase morreu afogado junto com ele no rio, anos atrás. E Rita ainda sonha em ir para o Rio de Janeiro, o que serve de ‘incentivo’ para jogar com Ruy, uma vez que Zeca não quer levá-la de jeito nenhum, pois é um machista.

A menina ainda se veste como sereia para animar crianças e ‘acredita ser filha do boto’ – lenda do folclore brasileiro abordada pela autora. Isis repetirá a boa parceria com Zezé Polessa (Edinalva, a mãe de Ritinha), já vista em Beleza Pura, quando a atriz viveu a inesquecível Rakelly.

E Jeiza é uma policial que trabalha no Batalhão de Ações de Cães e sonha em se tornar uma lutadora de MMA. Nunca conseguiu encontrar um parceiro que respeite o seu trabalho e será a responsável pela representação do empoderamento feminino na trama.

Ela se envolverá com Zeca e passará a ser a inimiga número um de Bibi Perigosa, por razões óbvias. No início da história terá uma relação conflituosa com o personagem de Alejandro Claveaux, que não entende a profissão da namorada. É a policial a responsável pela interligação das protagonistas, pois terá um relacionamento com o noivo de Ritinha e tentará prender Bibi.

Além das situações mencionadas, a história ainda abordará a questão do transgênero através de Ivana (Carol Duarte em sua primeira novela). O assunto é de suma importância e bem atual, o que já provoca polêmica em virtude dos preconceituosos.

A autora sempre aborda questões sociais em seus trabalhos e essa será mais uma. Filha da ricaça Joyce (Maria Fernanda Cândido, de volta aos folhetins, após anos fazendo apenas minisséries) e do empresário Eugenio, a menina descobrirá ao longo do enredo que é um homem que nasceu no corpo de uma mulher.

Embora não faça parte do núcleo principal, é um contexto que tem tudo para roubar a cena. Até porque ainda terá a ótima Débora Falabella interpretando uma vilã – Irene é uma mulher manipuladora que fará de tudo para atingir os seus objetivos. Ela seduzirá Eugenio e o contexto lembra muito o triângulo de Caminho das Índias, quando Ivone (Letícia Sabatella) manipulou Silvia (Débora Bloch) e seduziu (Raul (Alexandre Borges).

Outro núcleo que desperta interesse é o protagonizado por Lília Cabral, que viverá uma viciada em jogos. Silvana é esposa de Enrico (Humberto Martins) – irmão de Eugenio – e mãe de Simone (Juliana Paiva). A elegante mulher é viciada em adrenalina e a jogatina será a sua perdição, para o desespero do marido, que se indignará com a sua dependência. O elenco ainda conta com nomes como Totia Meirelles, Edson Celulari (de volta após a cura do câncer), Othon Bastos, Elizângela, Betty Faria, Raul Gazolla, Cláudia Mello, Lucy Ramos, Ilva Niño, Fafá de Belém, Lua Blanco, Gisele Fróes, entre outros.

Apesar das chamadas não serem muito convidativas, A Força do Querer tem boas chances de reverter a má impressão causada por Salve Jorge em virtude das promissoras situações apresentadas na sinopse. Resta aguardar a estreia e observar o desenvolvimento de todo esse conjunto, constatando ou não o potencial da novela.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor