Integrante da primeira equipe de esportes da Record, ainda nos anos 1950, Silvio Luiz está de volta à emissora. Aos 87 anos, ele assinou contrato para ser um dos narradores das transmissões do Campeonato Paulista de 2022, que será transmitido pelo canal. Mas o locutor, que também passou por canais como SBT, Band e RedeTV!, tem outra passagem curiosa na estação.

A Copa do Mundo de 1982, realizada na Espanha, mostrou ao mundo uma das melhores seleções já vistas: Zico, Sócrates, Falcão, Junior, entre outros, encantaram a todos com seus belos dribles e gols. Sem sombra de dúvidas, esse foi um time mágico sob o comando de Tele Santana.

Além do show brasileiro, essa Copa contou com um fato curioso: muitos telespectadores deixaram a televisão no mudo e aumentaram o som do rádio.

A Globo teve total exclusividade na Copa, deixando a TV Cultura e a TV Educativa do Rio retransmitirem os jogos simultaneamente. Essa condição foi conquistada graças à norma da OTI (Organização da Televisão Iberoamericana), dona dos direitos da Copa do Mundo e das Olimpíadas, que vendia as concessões dos eventos para as emissoras aqui no Brasil e em outros países.

A emissora que transmitiria a Copa de 1982 seria a mesma que exibira as Olimpíadas de 1980, de Moscou. E a Globo foi o único canal brasileiro a mostrar os jogos realizados na União Soviética dois anos antes.

Aquela foi a maior equipe que a Globo reuniu em uma Copa do Mundo até então. Inovando com a câmera exclusiva e montando uma estrutura incrível, o canal deixou as emissoras do mundo todo de boca aberta. Até mesmo os uniformes eram estilizados, com peças assinadas por Clodovil.

Naquela época, depois de anos de ouro, a Record era um canal com baixa audiência e com pouca relevância no mercado televisivo. No entanto, a Rádio Record tinha força, tanto no AM quanto no FM, e contava com um grande narrador na equipe: justamente Silvio Luiz, que também atuava na TV.

Silvio já era bem conhecido e querido pelo público na época: seus bordões, como “pelas barbas do profeta!”, “pelo amor dos meus filhinhos! e “olho no lance!”, já faziam parte de suas narrações que agitavam o dial da Record.

Paulinho Machado de Carvalho, diretor da Rádio Record, teve a ideia de comprar os direitos da Copa para o veículo e mandou sua equipe diretamente para a Espanha, lançando uma campanha: “Abaixe o volume da tevê e acompanhe a Copa pela rádio”.

A Record investiu fortemente nisso, espalhando outdoors por São Paulo e fazendo anúncios em jornais e revistas. Era uma estratégia nova e corajosa, pois o saudoso Luciano do Valle narrava os jogos da Seleção pela Globo, dominando a audiência.

Apesar de ser feita no rádio, a transmissão era como se fosse pela televisão: Silvio narrava mais pausadamente, citava o que o telespectador estaria vendo na telinha e citava até mesmo os replays dos principais lances.

O resultado foi excelente para a Rádio Record: a emissora triplicou sua audiência e os telespectadores paulistas abaixavam o volume da televisão e acompanhavam os jogos da seleção sob o comando de Silvio Luiz, que também tinha na equipe nomes como Pedro Luiz Paoliello, Flávio Prado, Ely Coimbra e Ronny Hein.

No campo, foi diferente: o Brasil perdeu para a Itália por 3 a 2, abandonando o sonho do tetracampeonato.

Esse fato curioso marcou a carreira de Silvio Luiz, que levou, com seu jeito único, a Copa para milhões de pessoas pelas ondas do rádio, criando, assim, um costume que muitos adotaram para sempre: abaixar o volume da televisão e ouvir o jogo pela sua rádio favorita.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor