André Santana

A Globo demorou para anunciar o retorno de Paraíso Tropical (2007), que estreia em 27 de novembro no Vale a Pena Ver de Novo. E a confirmação só veio depois que muitos consideravam como certo o retorno de Salve Jorge (2012). Deu a impressão de que a seleção do próximo cartaz da faixa se deu sobre muitas incertezas.

Paraíso Tropical - Camila Pitanga e Wagner Moura
Wagner Moura (Olavo) e Camila Pitanga (Bebel) em Paraíso Tropical (Divulgação / Globo)

Tal impressão tem razão de ser, afinal, está ficando cada vez mais difícil selecionar uma boa reprise de novela para a grade vespertina da Globo. E a dificuldade se dá por uma série de fatores, incluindo aí uma armadilha que a emissora criou para si mesma e que vem afetando a tradicional faixa de reprises.

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Horário nobre em crise

Um Lugar ao Sol - Andréia Horta, Cauã Reymond e Juan Paiva
Cauã Reymond, Andréia Horta e Juan Paiva em Um Lugar ao Sol (João Miguel Júnior / Globo)

Ao criar a Edição Especial às 14h40, a Globo avisou que o Vale a Pena Ver de Novo priorizaria tramas do horário nobre, enquanto o novo horário de novelas se dedicaria às histórias mais leves, preferencialmente das seis. Essa decisão diminuiu drasticamente as opções da faixa das 17h, já que não são muitos os grandes sucessos mais recentes no horário das nove da Globo.

A emissora não está disposta – ao menos por enquanto – a reprisar tramas como Um Lugar ao Sol (2021), Amor de Mãe (2019), ou O Sétimo Guardião (2018). Enquanto isso, os grandes sucessos da década de 2010 foram reapresentadas em 2020 e 2021 no horário nobre por causa da pandemia da Covid-19. Fina Estampa (2011) ou A Força do Querer (2017), por exemplo, provavelmente se sairiam muito bem numa reprise vespertina.

Sobrou então os “clássicos” mais antigos. É esse o motivo de o canal ter apelado para reprises de reprises e engatado, nos últimos anos, repetecos como O Rei do Gado (1996), Por Amor (1997), Laços de Família (2000), Senhora do Destino (2004) e a atual Mulheres Apaixonadas (2003).

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Reprise fora de hora

Júlia Lemmertz, Malu Mader e Isabela Garcia em Celebridade
Júlia Lemmertz, Malu Mader e Isabela Garcia em Celebridade (Divulgação / Globo)

Justiça seja feita, a direção da Globo também apostou em reprises menos batidas nos últimos anos. No entanto, algumas delas se revelaram verdadeiros fiascos. É o caso de Celebridade (2003) e Belíssima (2005), que foram reprisadas em 2018 e afundaram a faixa de repetecos. Típico caso de reprise fora de hora: ambas se mostraram datadas demais para um repeteco tantos anos depois de sua exibição original.

Talvez por isso, a emissora se viu desestimulada a apostar em outras tramas da década de 2000. Porto dos Milagres (2001), América (2005) e Páginas da Vida (2006), por exemplo, fizeram um enorme sucesso, mas, mesmo assim, não tiveram uma nova chance – ao menos ainda.

O fato de as novelas da década de 2000 não terem ganhado uma reprise também tem a ver com o fato de, durante anos, o Vale a Pena Ver de Novo ter se dedicado a reapresentar tramas um pouco mais recentes. Mas, nos anos 2000, por conta da classificação indicativa, uma reprise de novela das oito/nove se tornou inviável. Isso fez com que o canal perdesse o “timing” destes repetecos.

 

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Encruzilhada

Paraíso Tropical - Gustavo Leão e Gloria Pires
Gustavo Leão (Matheus) e Gloria Pires (Lúcia) em Paraíso Tropical (Divulgação / Globo)

Tudo isso fez a Globo chegar ao atual cenário, vendo-se numa encruzilhada. O canal não pode mais recorrer aos velhos clássicos de sempre, com o risco de desgastá-los de vez – O Clone (2001) e Mulheres Apaixonadas, por exemplo, tiveram uma segunda reprise menos bem-sucedida que a primeira.

Se as principais novelas das nove dos anos 2010 já foram reprisadas na pandemia, então o que “sobra” é justamente testar títulos menos óbvios, caso de Paraíso Tropical. Se a trama de Gilberto Braga e Ricardo Linhares emplacar à tarde, pode abrir caminho para uma reprise de Páginas da Vida, por exemplo. Ou ainda Duas Caras (2007). Quem sabe?

Mas, daqui alguns anos, o canal terá que retomar a velha prática de exibir novelas mais “recentes”. Daqui uns dois anos, por exemplo, Pantanal (2022) já estaria pronta para voltar. Apesar de o público chiar, a história mostra que reprises de novelas mais recentes funciona melhor no Vale a Pena Ver de Novo, já que ainda estão frescas na memória do telespectador.

Enquanto isso, tramas mais antigas podem ficar reservadas ao Viva e ao Globoplay mesmo…

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor