André Santana

Elas por Elas trouxe um ar diferente na faixa das seis da Globo. Nos últimos anos, o horário foi dominado por romances de época e/ou interioranos. Já o atual folhetim traz uma “urbanidade” que não se via há tempos na faixa.

Deborah Secco em Elas por Elas
Deborah Secco em Elas por Elas (Reprodução / Globo)

Tal mudança pode ter afugentado o público. Em seus primeiros capítulos, a trama escrita por Alessandro Marson e Thereza Falcão se manteve abaixo dos 20 pontos de audiência, que é a meta da Globo no horário.

Com isso, Elas por Elas está correndo o risco de repetir a história de Negócio da China (2008), que foi encaixada na faixa das seis da emissora para dar um “respiro” às histórias de época, mas acabou se tornando um dos maiores fracassos do horário.

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Ontem e hoje

O Cravo e a Rosa - Adriana Esteves e Eduardo Moscovis
Adriana Esteves (Catarina) e Eduardo Moscovis (Petruchio) em O Cravo e a Rosa (Nelson Di Rago / Globo)

Novela das seis é sinônimo de novela de época, certo? Nem sempre. Nos anos 1990, por exemplo, a Globo praticamente não produziu tramas situadas no passado. Nessa década, apenas Salomé (1991) e Força de um Desejo (1999) eram de época. As demais novelas das seis foram todas contemporâneas.

Mas isso começou a mudar a partir do sucesso de O Cravo e a Rosa (2000). A direção da Globo logo percebeu que as tramas de época de Walcyr Carrasco faziam sucesso no horário e tratou de investir mais no filão.

Além de Carrasco, autores como Walther Negrão, Elizabeth Jhin e Alcides Nogueira também apostaram em folhetins de época às 18h. Assim, entre 2000 e 2008, a Globo exibiu nada menos que 11 tramas de época no horário, contra cinco histórias contemporâneas.

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Cansaço

Negócio da China - Miguel Falabella
Miguel Falabella (Reprodução / Web)

No entanto, aos poucos, a audiência da faixa foi caindo. Tramas como Eterna Magia (2007), Desejo Proibido (2007) e Ciranda de Pedra (2008) não alcançaram expressivos índices de audiência. Na época, a direção da Globo entendeu que o excesso de novelas de época havia cansado o público, já que as tramas acabaram ficando parecidas umas com as outras.

Para tentar reverter a crise, a emissora apostou em uma estratégia ousada: tratou de encaixar Negócio da China, um projeto de Miguel Falabella apresentado inicialmente para às 19h, na faixa das seis da tarde. Falabella, então, se viu obrigado a reduzir seu humor escrachado habitual e apostar fundo nos romances para tentar emplacar sua história neste novo horário.

No entanto, a estratégia não deu certo. Negócio da China registrou os piores índices de audiência do horário até então. Deu tão errado que o próprio Miguel Falabella revelou estar “traumatizado”, afirmando que jamais escreveria novamente para a faixa.

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Nova Negócio da China?

Protagonistas de Elas por Elas
Protagonistas de Elas por Elas (divulgação/Globo)

Curiosamente, Elas por Elas também tem cara de “novela das sete às seis”, assim como Negócio da China. E, assim como aconteceu em 2008, o remake da trama de Cassiano Gabus Mendes foi uma aposta da Globo para diversificar a temática da faixa das seis.

Apesar de ter havido um maior equilíbrio entre tramas de época e contemporâneas na década de 2010, as histórias do passado têm dominado o horário nos últimos anos. Antes de Elas por Elas, o último folhetim urbano foi Órfãos da Terra (2019). Depois disso, vieram Éramos Seis (2019), Nos Tempos do Imperador (2021), Além da Ilusão (2022) e Amor Perfeito (2023), além de Mar do Sertão, que era contemporânea, mas com cenários interioranos, o que também lhe dava um ar “de época”.

Ou seja, Elas por Elas veio para “quebrar” a hegemonia dos dramas de época da faixa. Mas, pela fraca recepção inicial, parece que o público do horário anda preferindo mesmo um romance do passado.

Porém, vale ressaltar que a audiência de Elas por Elas não está muito diferente dos números da primeira semana de Amor Perfeito. A atual trama das seis fechou a primeira semana com 17,7 pontos, enquanto a história de Marê (Camila Queiroz) alcançou 18. Sendo assim, a saga das sete amigas ainda pode se reerguer.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor