Um dos grandes sucessos da faixa das sete da Globo, Cambalacho estreava há exatamente 36 anos, em 10 de março de 1986.

Fernanda Montenegro

Confira abaixo inúmeras curiosidades sobre a novela:

– Concebida para as 19h, Cambalacho quase foi remanejada para a faixa das 20h. A direção da Globo buscava uma substituta para o fenômeno Roque Santeiro (1985); contudo, Silvio de Abreu, ciente de que sua história só poderia ser contada por um viés cômico ainda estranho ao horário mais nobre, rejeitou a “promoção”. Cogitou-se então Barriga de Aluguel, texto de Gloria Perez, produzido em 1990 às 18h. E acabaram por optar por uma regravação de Selva de Pedra (1972), de Janete Clair.

– Cotada para dar vida à vilã Andréia Souza e Silva, Maria Zilda Bethlem foi remanejada para Selva de Pedra – substituindo Sylvia Bandeira, que já havia gravado suas primeiras cenas como Laura.

– A escalação de Gianfrancesco Guarnieri para o golpista Jejê atendeu aos desejos da protagonista, Fernanda Montenegro, a trambiqueira Naná. Numa entrevista, a atriz elegeu Gianfrancesco como seu ator preferido. Silvio então concebeu a dupla de trambiqueiros já com os dois em mente. No ano seguinte, ele propiciou a Paulo Autran atuar ao lado de Tônia Carrero, em Sassaricando. As “dobradinhas” caracterizaram uma espécie de recompensa a Montenegro e Autran pela confiança depositada em seu trabalho na emblemática Guerra dos Sexos (1983).

Gianfrancesco Guarnieri

– Em Sassaricando, aliás, há uma menção a Cambalacho. A feirante Tancinha (Cláudia Raia) pede ao figurinista Marco Aurélio que crie para ele um vestido de noiva igualzinho “o da Natália do Vale no primeiro capítulo daquela novela”. A peça, como mangas bufantes bem ao estilo anos 1980, fez muito sucesso com as mocinhas na eminência do altar.

– E por falar em Cláudia Raia… Silvio de Abreu concebeu a bailarina Debbie Day especialmente para ela. Mas o esticamento de Roque Santeiro, onde a atriz vivia a prostituta Ninon, acabou pode impedir sua escalação. A multimídia Christine Nazareth, então esposa do autor Euclydes Marinho (com quem havia colaborado em duas produções), assumiu a personagem. E Cláudia surgiu numa participação, como uma sedutora mexicana que tenta seduzir o fidelíssimo Wanderley (Roberto Bonfim).

– Também tentaram seduzir o marido de Ceci (Rosamaria Murtinho), a mando de seu cunhado Rogério (Cláudio Marzo), as então modelos Luiza Brunet e Monique Evans e a atriz Inês Galvão.

Cambalacho

– Outras participações especiais abrilhantaram ainda mais a trama: a cantora Rosemary como Maria Vargas, bailarina que abalou o casamento de Rogério e Amanda (Susana Vieira); Wilza Carla como a gordinha irresistível Marilena, que malhava no instituto de beleza Physical; Evandro Mesquita como seu “sósia” Alcebíades – repetindo a parceria do teatro com Regina Casé; e os astros das chanchadas da Atlântida, dos anos 40 e 50, Zezé Macedo, Adelaide Chiozzo, Ivon Cury, Wilson Grey, Catalano, Wilson Vianna, Eliana e Emilinha Borba e o diretor Carlos Manga. Com estes, Silvio de Abreu reverenciava também a novela Feijão Maravilha (1979), uma de suas referências em teledramaturgia. E nas cenas envolvendo o elenco da Atlântida, gravadas no Hotel Glória, Rio de Janeiro, a presença das Garotas do Fantástico – quadro mais famoso do dominical na época – num desfile de biquínis.

– A presença mais aguardada, contudo, foi a de Ângela Maria, desafeto de Lili Bolero (Consuelo Leandro), que atribuía à “Sapoti” o seu insucesso como cantora. Após atirar ovos na rival, Lili sobe ao palco e conta com a estrela o seu tema, ‘Estrela de Bastidor’, selando a paz. Ângela já havia participado, em 1979, das gravações de Pai Herói, de Janete Clair.

Consuelo Leandro

– Ainda, Abelardo Barbosa recebendo Tina Pepper (Regina Casé) em seu Cassino do Chacrinha; o piloto de automobilismo Ingo Hoffman patrocinando o corredor de motocross Athos (Flávio Galvão); Daniel Filho com o agente da Interpol que prende Andréia no último capítulo; o diretor Jorge Fernando como o palhaço do circo de Rick (Marcos Frota); e o autor Silvio de Abreu, padre que celebra o casamento de Naná e Jejê nas últimas cenas da novela.

– Foi com Cambalacho que Marcos Frota tomou gosto pelo trapézio. O ator, que já trabalhava no picadeiro, pôs em prática após o término da trama o seu projeto de escola circense, mantido até hoje.

– Emiliano Queiróz e Zilka Salaberry, numa participação, retornavam às novelas após dedicados, respectivamente, às séries O Bem-Amado (1980) e Sítio do Picapau Amarelo (1977).

– A ausência sentida: por problemas de saúde, Joana Fomm deixou o elenco logo nos primeiros meses de novela. A atriz voltou ao ar em agosto, com Cambalacho ainda em exibição, em Roda de Fogo, às 20h.

Joana Fomm em Elas por Elas

– Na época da saída de Fomm da produção, Silvio de Abreu se viu obrigado a reescrever algumas sequências. Para não atrasar a entrega dos capítulos, o autor contou com o auxílio de Daniel Más, então roteirista de Armação Ilimitada (1985). Em 1987, Silvio retribuiu a ajuda, colaborando com Daniel na confecção da sinopse de Bambolê, exibida às 18h.

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– O autor também contou com o auxílio da pesquisadora Silvia Moreira, que lhe apresentou uma série de artifícios utilizados por golpistas profissionais, base dos trambiques de Naná e Jejê. A novela se propunha a alertar o público a respeito destas práticas criminosas.

– O “start” de Cambalacho veio do caso Abi-Ackel, ministro da Justiça do governo de João Figueiredo, que, em março de 1983, se viu envolvido em denúncias acerca do contrabando de pedras preciosas.

– Eis que, na véspera da estreia, o governo de José Sarney lançou um novo plano econômico, o Cruzado, que “congelou” salários e preços de produtos e serviços. Uma aparente onda de honestidade tomou o país, com o surgimento dos “fiscais do Sarney”, pessoas comuns que, “convocadas” pelo presidente, denunciavam a remarcação de preços no comércio. A crítica proposta por Cambalacho acabou comprometida. O jeito foi apostar em definitivo na comédia.

Cambalacho

– Anos depois, Silvio de Abreu comentou que Vale Tudo (1988), de Gilberto Braga, Leonor Bassères e Aguinaldo Silva, transmitiu a mensagem sobre a imoralidade “em vigência” no Brasil que ele gostaria de ter passado com Cambalacho.

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– Por conta da troca da moeda, de Cruzeiro para Cruzado, a edição inseriu nos capítulos legendas que atualizavam os valores mencionados pelos personagens, do dinheiro que já não valia mais.

– As chamadas de estreia da novela aguçavam a curiosidade do público: “você sabe o que quer dizer cambalacho?”. A expressão acabou se popularizando.

– Cambalacho não foi exibida às 20h, como a direção da Globo chegou a pensar, mas acabou no horário das 18h por conta das transmissões da Copa do Mundo no México. Sinhá Moça, então em cartaz na faixa, foi remanejada para as 17h.

Cambalacho

– Serviram de locações para a novela o presídio Talavera Bruce, no Rio de Janeiro, e a Praça da Sé, em São Paulo. Também na capital paulista, no Viaduto Santa Efigênia, a cena final, que mobilizou 600 figurantes e 20 bailarinos da equipe da emissora. Juntos, os recrutados se organizaram formando o logotipo de Cambalacho.

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– Nos últimos capítulos, Andréia trancafia a irmã Amanda dentro do Physical e ateia fogo ao local. Silvio de Abreu só escreveu a cena, uma das mais marcantes da novela, após ter absoluta certeza de que a Globo não reaproveitaria a estrutura em produções futuras. Bombeiros “de verdade” participaram da sequência.

– Os amantes Debbie Day e Rogério se conheceriam em Las Vegas. A produção, contudo, foi deslocada para Roma, na Itália, aproveitando a infraestrutura da Telemontecarlo, canal do qual a Globo era acionista. Já as cenas finais de Tina Pepper foram rodadas no Rio Grande do Norte, uma sugestão da Embratur – numa ação que visava divulgar o Passaporte Brasil, programa que concedia descontos de 25% nos serviços turísticos de algumas regiões do país.

Regina Casé

– As passagens de tempo de Cambalacho consistiam em letreiros coloridos com frases como “cai a noite…”. A ideia, que Jorge Fernando já havia utilizado no especial de fim de ano de Rita Lee e Roberto de Carvalho, em 1985, foi executada com o auxílio de um painel eletrônico localizado no topo de um edifício do Vale do Anhangabaú – foi neste mesmo local, usando este mesmo painel, que a Manchete gravou a primeira abertura do Programa de Domingo (1983).

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– As maldades de Andréia Souza e Silva – que perde consideravelmente sua força na segunda metade da trama – renderam o prêmio de pior vilã de todos os tempos, concedido pelo Vídeo Show por conta das comemorações dos 50 anos de TV no Brasil, em 2000. Andréia superou candidatas “de peso”, como Odete Roitman (Beatriz Segall), de Vale Tudo.

– A inversão de papeis do casal Ana Machadão (Débora Bloch) e Tiago (Edson Celulari) – ela, mecânica; ele, bailarino – foi reaproveitada em As Filhas da Mãe, também de Silvio de Abreu: Joana (Priscila Fantin) era lutadora; Diego (Mário Frias), seu namorado, estilista.

Debora Bloch

– O sucesso de Ana e Tiago levou Débora Bloch e Edson Celulari para a capa da trilha internacional de Cambalacho, a segunda mais vendida do horário das sete na década de 1980 (776.258 cópias), atrás apenas do álbum internacional de Hipertensão, sua sucessora.

– Em julho de 1991, Cambalacho estreou em Vale a Pena Ver de Novo, substituindo Top Model (1989). Cogitou-se, a princípio, exibir Roque Santeiro (1985) na faixa. Mas o folhetim de Dias Gomes e Aguinaldo Silva foi alocado às 17h, a partir de 1º de julho, abrindo espaço para o retorno da comédia de Silvio de Abreu, na segunda-feira seguinte. Na semana subsequente, 15 de julho, a estreia da clássica Vamp às 19h, substituindo Lua Cheia de Amor – Salomé e Felicidade eram exibidas às 18h; O Dono do Mundo às 20h.

– Com 115 capítulos, a reprise de Cambalacho chegou ao fim em 13 de dezembro de 1991, sendo substituída por Fera Radical (1988). Entre agosto de 2015 e março de 2016, a novela foi reexibida na íntegra no canal pago da Globosat.

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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.