Em 1998, a extinta TV Manchete já agonizava, vivendo uma terrível crise financeira e loteando espaços na programação para concessionários. A emissora, então, apostou todas as suas fichas em uma nova novela, confiante no êxito da nova produção.

Leonardo Vieira em Os Maias
Leonardo Vieira em Os Maias

Estrelada por Carolina Kasting e Leonardo Vieira (na foto), Brida entrou no ar em 11 de agosto daquele ano cercada de expectativas, já que se tratava da adaptação de um best-seller de Paulo Coelho. Porém, nem mesmo o sucesso da obra do escritor garantiu a audiência da novela.

Na verdade, o fiasco foi tão grande que a Manchete se viu obrigada a encerrar a trama no capítulo 54, deixando a novela sem um final convincente.

Última novela da Manchete

Escrita por Jaime Camargo e dirigida por Walter Avancini, Brida contava a história da personagem-título, vivida por Carolina Kasting. A jovem era a reencarnação de uma bruxa que viveu na Irlanda do século 17, onde era perseguida pelo mago Vargas (Rubens de Falco), já que era a única capaz de destruí-lo.

300 anos depois, Brida está noiva de Lorens (Leonardo Vieira), herdeiro de uma empresa na qual Vargas é funcionário. O mago, então, volta a persegui-la e se une à Priscila (Guilhermina Guinle), uma amiga de Brida que é apaixonada por Lorens. Assim, a moça arma para separar Brida de Lorens.

A trama reunia um grande elenco, composto também por nome como Augusto Xavier (o jornalista da RedeTV!), Bete Mendes, Nadia Lippi, Tania Alves, Fafy Siqueira, Victor Wagner, Carla Regina, Rosane Gofman e Marcos Pasquim, entre outros.

Fracasso

Carolina Kasting em Brida
Carolina Kasting em Brida

Mesmo em meio à crise, a Manchete não economizou para colocar Brida de pé. A emissora, inclusive, investiu em cenas gravadas na Irlanda, viabilizadas por meio de permutas. A Manchete apostava, sobretudo, na força internacional da obra, em razão do sucesso de Paulo Coelho no exterior.

Por isso, o canal de Adolpho Bloch partiu para o tudo ou nada, seduzindo os patrocinadores com uma proposta ousada: eles só pagariam a emissora caso a trama alcançasse, pelo menos, cinco pontos de audiência. O que não aconteceu. A trama entrou no ar patinando nos dois pontos e, com isso, o desejado dinheiro não entrou.

Diante de tamanho desastre, a emissora se mexeu rapidamente: afastou Jaime Camargo e recrutou a dupla Sônia Mota e Angélica Lopes para assumir a trama, na tentativa de imprimir um “olhar feminino”. A novela também passou por mudanças nos cenários e ficou mais “leve”.

Brida também deu espaço ao humor e aos atores conhecidos do público da Manchete, como o galã Victor Wagner. Além disso, também apelou para a sensualidade, característica comum das tramas da emissora. Mas nada disso surtiu efeito.

Novela sem final

Com dois meses no ar, a crise de Brida se agravou. Os atores já estavam havia um mês e meio sem receber salários e, com isso, se recusaram a gravar mais cenas do folhetim. Sem saída, a Manchete não teve o que fazer a não ser encerrar a novela.

Brida, então, terminou de surpresa, no capítulo 54, que foi ao ar em 23 de outubro de 1998. Como não havia dinheiro para gravar o último capítulo, a solução foi apostar num desfecho narrado por Eloy Decarlo, tradicional locutor da Manchete, enquanto cenas já gravadas da trama eram exibidas.

Foi a pá de cal para que a Manchete se afundasse de vez. Tanto que a emissora saiu do ar em 10 de maio de 1999, sendo substituída pela RedeTV!.

Assim, Brida repetiu o mesmo triste destino de Como Salvar Meu Casamento (1979), última novela da TV Tupi. A trama foi encerrada sem um final em fevereiro de 1980, já que a emissora estava afundada em dívidas. A Tupi saiu do ar em julho daquele ano.

Compartilhar.
Avatar photo

André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor