Após greve inédita, Globo relançou faixa das seis com novela de sucesso
19/01/2022 às 5h45
Rio de Janeiro, última noite do ano de 1900. Nasce o século 20. Nasce um grande amor, o de Adriano (Lauro Corona) e Rosália (Glória Pires).
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Com esse enredo, no dia 16 de fevereiro de 1987 renascia o horário das 18h da Globo, após uma interrupção de três meses por conta de uma greve inédita de atores e técnicos no Rio de Janeiro (RJ) e uma reprise tapa-buraco de Locomotivas (1977), de Cassiano Gabus Mendes.
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A interrupção e a ameaça de desativação da faixa foi provocada por problemas com o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões do Rio de Janeiro, que reivindicava um limite máximo de seis horas diárias de trabalho para seus afiliados.
Resolvido o problema, A Noiva das Trevas, radionovela de Janete Clair, ganhou força nas mãos de Walther Negrão e brilho através da direção primorosa de Jayme Monjardim, tornando-se Direito de Amar, uma das mais belas produções do canal na década de 1980.
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O TV História reconta aqui a trama central, inspirada na história de vida da avó de Dias Gomes, esposo de Janete.
Confira:
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Rosália era uma mocinha romântica; jamais sofredora. Seu comportamento diante das adversidades surpreendera seus pais, encantara Adriano e fez despertar no temido Senhor de Montserrat (Carlos Vereza) um amor tão grande que o mesmo quase se redimira perante os telespectadores, tamanha era a sua devoção à mocinha.
Quando a novela se inicia, Montserrat está em vias de executar a dívida de Augusto (Edney Giovenazzi), industrial que, diante da eminente falência, pensa em suicídio. É impedido, no entanto, pela chegada da filha, Rosália, que será sua tábua de salvação, ainda que isto lhe custe o seu “direito de amar”. Encantado com a menina, e acreditando ainda ser um homem forte e viril, Montserrat exige a mão de Rosália em casamento, como pagamento da promissória. Para ele, “não faz sentido que uma dívida passe de um século para outro”. Na mesma noite, durante um baile de máscaras, Rosália dança com um misterioso alguém, que lhe propõe um brinde não só ao início de 1901, como também a todos os anos subsequentes.
Montserrat observa a cena e, preocupado com os arroubos da juventude aos quais Rosália está sujeita, decide precipitar seu matrimônio: promete esperar Rosália por três anos, mas quer que seu casamento civil seja realizado imediatamente. Apesar de ter aceitado a proposta, Augusto sucumbe a culpa e adoece, fazendo com que sua mulher Leonor (Esther Góes) aceite os termos de Montserrat. Ingenuamente, Rosália assina a certidão de casamento, na presença dos pais, de Montserrat e de um juiz que reconhece a legitimidade do documento. Está casada! E para que Montserrat não atente contra a moral da sua agora esposa, Leonor e Augusto a levam para um colégio interno. Na clausura, Rosália só faz recordar o mascarado com quem dançou.
Ele é Adriano, que, por ironia do destino, vem a ser filho de Montserrat. Médico, por influência do amigo Jorge Ramos (Carlos Zara), opositor de seu pai, Adriano está de volta ao Rio de Janeiro, obstinado a cuidar da tia adoentada, Joana (Ítala Nandi), que Montserrat mantém trancafiada no sótão de sua nefasta mansão. Na mesma noite em que conhece Rosália, Adriano salva o pai após um acidente com sua carruagem e aceita seu pedido, para que volte a morar na casa onde fora criado, e que tantas lembranças ruins causam ao rapaz. Ali, Adriano só se sente bem na presença de Berenice (Célia Helena) e Raimundo (Rogério Márcico), caseiros da residência. Dois anos depois, Adriano também segue obstinado a reencontrar a moça do baile.
Eis que Montserrat decide visitar sua prometida no internato e toma conhecimento de sua paixão pelo homem com que ele a viu dançar na noite de réveillon. Desconfiado de que o rapaz em questão é o seu herdeiro, Montserrat pede a Leonor e Augusto que busquem Rosália, para realizarem o casamento religioso o mais rápido possível. A precipitação tem razão de ser. Adriano, como médico, visitara o colégio interno e, tão logo cruzou seu olhar com o de Rosália, a abordou com as mesmas palavras que usara no baile. Estavam juntos novamente; desta vez, sem máscaras. O que Rosália sequer imagina, e que lhe causará grande decepção quando descobrir, é que Adriano, enquanto esteve sozinho, namorou Paula, a invejosa prima da moça.
Filha dos hilários Manel (Elias Gleiser) e Catarina (Yolanda Cardoso), donos da confeitaria onde a boêmia local se reúne, Paula se interessa por Adriano na mesma noite em que o médico conhece Rosália. Ardilosa, prometeu a prima que descobriria quem era o tal rapaz mascarado, mas ao invés disso, tratou de se apresentar como a moça com quem ele dançou. Desmentida pelo próprio Adriano, a vilã continuou insistindo, até os dois firmarem compromisso. Compromisso este desfeito tão logo ele reencontra seu grande amor, o que leva Paula até Montserrat, confirmando as suspeitas do banqueiro de que Rosália está encontrando seu amado.
Pegos em flagrante por Raimundo, que os observava a mando de Montserrat, Adriano e Rosália são surpreendidos pela espantosa revelação que Paula lhes faz. “Você não pode ter o filho porque já pertence ao pai!” é a frase com a qual a prima malvada põe fim aos sonhos românticos de Rosália. Revoltado, Adriano promete a Ramos que não irá mais ver Rosália e rechaça uma carta apaixonada da moça, intermediada por Tonica (Betty Gofman), sua grande amiga. Descrente com relação ao amor que o médico dizia sentir, Rosália aceita subir ao altar com Montserrat. Mas o que parecia resignação, a princípio, simboliza uma nova fase na vida da moça. Encerrada a cerimônia, Rosália dá as costas ao noivo e diz que, uma vez casada, passa a ser emancipada; portanto, dona de seu nariz.
É assim que ela deixa a igreja rumo à pensão da mal falada Esmeralda (Cinira Camargo), onde passa a trabalhar como faxineira. Após receber a maledicente Paula, que enxota jogando um balde de água em sua cabeça, Rosália é surpreendida por um Adriano, ainda mais apaixonado. A união leva a um plano de fuga, fracassado por conta de uma epidemia de febre amarela no orfanato local. Direito de Amar evocava as lembranças do início daquele próximo centenário no Rio de Janeiro. Das previsões de Nostradamus que faziam as personagens temer pela virada do século, passando pelos intelectuais e artistas boêmios, até a campanha de Oswaldo Cruz pelo saneamento básico.
A abordagem da febre amarela surgiu para dinamizar o perfil contestador de Rosália. Interessada em angariar recursos para os cuidados médicos, a jovem concordou em posar, praticamente despida, para o pintor Danilo (João Carlos Barroso), que confeccionava cartões postais. Diante da repercussão negativa de sua atitude, que a afasta até mesmo de Adriano, Rosália se vê obrigada a aceitar o convite de Montserrat para se mudar para a mansão. Ela assim o faz, após ser intimidada, em plena luz do dia, por supostos homens de bem, que a achacavam por conta de suas poses sensuais nos cartões.
A atitude de Rosália surpreende Montserrat e entristece Adriano. Ciente de que agora tem a mulher sob seus domínios, o vilão se aproveita de um jantar em que reúne toda a família, sua e da esposa, para dizer que ele e Augusto realizaram um ótimo negócio com o casamento. O clima de animosidade se instala na mansão e não cessa nem mesmo quando Rosália confessa a Adriano que preferiu mudar para a casa de Montserrat do que ir para a residência dos pais apenas para ficar perto do amado. A situação se complica após Paula simular uma noite de amor com Adriano, que, dopado, não tem como argumentar diante da insistência de Manel, para que o médico repare o mal que fez a sua filha.
Satisfeita com o sucesso de sua empreitada, Paula desfila de vestido de noiva pela confeitaria e atira seu buquê no colo de Rosália, ali em companhia de Montserrat. Inconformada com a traição de Adriano, a protagonista se deixa envolver pelo vilão, com quem vai cavalgar e sofre um pequeno acidente. Submetida aos cuidados de seu grande amor, Rosália, mais uma vez, se rende à paixão. O que ela não esperava é que Adriano, envolvido com o anarquismo, fosse ser baleado durante uma passeata pública, inviabilizando uma nova fuga do casal.
O tiro que atinge o médico faz Joana sucumbir ao desespero. Ela pressente o perigo que o rapaz corre e foge da mansão, sendo encontrada, em meio à multidão da passeata, pelo bondoso Padre Inácio (Cazarré). Até este ponto, acompanhamos a triste vida de Joana: reclusa por imposição de Montserrat no sótão de sua casa; vítima de sua violência, já que sempre a castigava fisicamente; auxiliada por Dr. Ramos, que demonstra extremo carinho por ela; e encontrando-se em segredo com Carola (Cristina Prochaska), supostamente, sua filha. Ramos, empenhado em seu tratamento, a faz se lembrar de sua irmã, Bárbara, por quem fora apaixonado. Montserrat e Ramos se acusam mutuamente pela morte de Bárbara, em um acidente com uma carruagem.
Após o tiro que imobiliza Adriano, Rosália decide ajudá-lo a se recuperar. Ao tomar conhecimento do fato, Montserrat envia os policiais à pensão de Esmeralda, onde o médico se refugiou. Adriano acaba preso e Ramos, o verdadeiro doutor anarquista, que vem ajudando os grevistas em suas passeatas, se entrega à justiça também. Eis que Adriano é libertado, enquanto Ramos é enviado para uma prisão distante do Rio de Janeiro. Ao interceder pelo médico, Rosália é surpreendida por uma exigência do marido: ela terá que cumprir os seus deveres de esposa. Após a libertação de Ramos, sem ter como fugir da promessa, Rosália se deita com Montserrat e só não é deflorada porque Joana irrompe o quarto, bradando aos quatro ventos que está sendo vítima de uma traição.
Para fugir do assédio do marido, Rosália também conta com a ajuda de Mercedes (Suzana Faini), governanta da mansão, apaixonada pelo patrão. Um novo fato, no entanto, irá conter os intentos de Montserrat: Ramos e Adriano abrem o túmulo de Bárbara e descobrem que ele está vazio; sendo assim, a primeira esposa do vilão está viva. Ao tomar conhecimento do caso, Rosália recusa-se a deitar com Montserrat, por ele estar cometendo o crime de bigamia.
A recuperação da lucidez de Joana levam ao paradeiro de Bárbara: tratava-se da mulher louca presa no sobrado; ou seja, Montserrat manteve a esposa trancafiada, enquanto todos acreditavam que ela estava morta. A chegada da verdadeira Joana, irmã gêmea de Bárbara que vivia em Paris como Nanette, uma cortesã, elucida em definitivo a trama. E expõe outro segredo: Ramos é o verdadeiro pai de Adriano. Para não ser preso por bigamia, Montserrat ignora as reações do médico e do suposto filho, e foge para a torre onde passou a manter Rosália trancafiada, desde que tomou conhecimento, por intermédio de Paula, que a mocinha iria fugir com Adriano.
É a ardilosa vilã quem vai ao encontro de Adriano no porto, relembra que está grávida dele (mentira, é claro!), e diz não ter conhecimento do paradeiro de Rosália; a esta altura, mantida sob a vigilância de um ermitão, Cipriano (André Valli). Descoberto por Ramos, Montserrat o convoca para um duelo. Ciente de seu fracasso, em todas suas investidas (em especial, na conquista do coração de Rosália), Montserrat aponta sua arma para o alto e se deixa balear por Ramos – uma sequência sugerida por Carlos Vereza, inspirada no romance A Montanha Mágica, de Thomas Mann.
Já Paula é desmascarada enquanto está no altar com Adriano, pela chegada de Cirineu Farfan (Carlos Gregório), que diz ser o pai da criança que ela espera. Eis que, em 1904, Adriano finalmente poderá cumprir o que prometera a Rosália no primeiro encontro dos dois: será um ano muito feliz, começando, aliás, com o casamento dos dois, enfim vivendo o amor em sua plenitude.
Além da trama deliciosamente folhetinesca, outros elementos fizeram de Direito de Amar um grande sucesso: sua trilha sonora primorosa; cenografia, figurinos e direção de arte; e o elenco, que trazia ainda Rômulo Arantes (Nelo), Priscila Camargo (Alice), Tim Rescala (Bodoque), Narjara Turetta (Mariana) e Rosana Garcia (Marizé). Um clássico da televisão brasileira.