Há 26 anos, a Globo exibia o último capítulo da minissérie O Portador. A produção, uma das primeiras a abordar os desdobramentos da Aids, era estrelada por Jayme Periard e dirigida por Herval Rossano – parceiro do ator em trabalhos como A Gata Comeu (1985) e Dona Beija (1986). ‘Portador’ esteve no ar num período em que as novelas dominavam a programação – com direito a uma segunda faixa de reprises nas tardes, além do Vale a Pena Ver de Novo. Confira!

Diferente do que vemos hoje, o Bom Dia Brasil (às 7h) entrava no ar antes dos jornais locais (às 7h30) – o Telecurso 2º Grau abria a programação, às 6h30. Xuxa Meneghel reinava absoluta nas manhãs do canal! Naquele ano em que Sérgio Mallandro a substituiu no primeiro trimestre, a apresentadora renovou contrato com a Globo, já certa de que a atração chegaria ao fim no ano seguinte. O Xou da Xuxa (8h) estreou em 1991 dois desenhos icônicos: Capitão Planeta e Tiny Toon. O LP ‘Xou da Xuxa Seis’, que vendeu 900 mil cópias na época, trouxe novos temas para o infantil: ‘Novo Planeta’, por exemplo, substituiu a clássica ‘Amiguinha Xuxa’ na “chegada da nave”.

Fernando Vannucci, Isabela Scalabrini, Léo Batista e Mylena Ciribelli se revezavam no comando do Globo Esporte, às 13h. Com apenas 10 minutos de duração, o esportivo antecedia o São Paulo Já, apenas para o estado de São Paulo, e o Jornal Hoje, com Márcia Peltier e Valéria Monteiro, para todo o Brasil.

Cambalacho, de Silvio de Abreu, estava em cartaz em Vale a Pena Ver de Novo (às 13h35). A divertidíssima trama, exibida originalmente em 1986, narrava as desventuras de Naná (Fernanda Montenegro) e Jejê (Gianfrancesco Guarnieri), dois golpistas de bom coração que armam uma tremenda cilada para o milionário Antero (Mário Lago). O velhote deixa toda sua fortuna para a trambiqueira, que enfrenta a fúria da viúva Andréia Souza e Silva (Natália do Vale) na Justiça, colocando em lados opostos o casal Amanda (Susana Vieira), irmã de Andréia, e Rogério (Cláudio Marzo); ela defende Naná; ele, a cunhada. Destaque também para a hilária Tina Pepper (Regina Casé), a pobretona com mania de grandeza que se transforma em popstar na reta final, usando os vocais de sua mãe, Lili Bolero (Consuelo Leandro).

A Sessão da Tarde daquela sexta-feira foi suspensa por conta da transmissão do Campeonato Sul-Americano de Vôlei, Brasil x Argentina (às 15h). Estreia do ano anterior, a Escolinha do Professor Raimundo seguia sua trajetória de sucesso, entrando no ar mais cedo, às 17h. Chico Anysio se dividia entre a sala de aula e o Estados Anysios de Chico City, humorístico exibido às quartas-feiras. Dois momentos chamaram a atenção do público para a ‘Escolinha’ naquele ano: a presença da ministra Zélia Cardoso de Mello, encontrando sua caricatura Célia Caridosa de Mello (Nádia Maria), e a saída de Nerso da Capitinga (Pedro Bismark) da lista de chamada.

A icônica Roque Santeiro (excepcionalmente, 17h30), de Dias Gomes e com valorosa contribuição de Aguinaldo Silva, ganhou uma reprise “extraordinária”, cujo primeiro capítulo foi exibido antes da ‘Escolinha’ e todos os demais colados à novela das 18h. A história da viúva que foi sem nunca ter sido, Porcina (Regina Duarte), e de seus amores – o suposto marido morto Roque (José Wilker) e o amante Sinhozinho Malta (Lima Duarte) – chegou a registrar médias acima dos 35 pontos, um recorde para o horário. E veio na carona de um projeto que pretendia converter a novela em série, a exemplo do que aconteceu com O Bem-Amado (1973), também de Dias. A ideia, contudo, não foi adiante. Na foto, Cássia Kis (Lulu), Eloísa Mafalda (Pombinha) e Lucinha Lins (Mocinha).

Salomé, folhetim das 18h – única trama de Sérgio Marques como autor-titular – se aproximava de seus momentos finais. A novela de “tiro curto” (apenas 107 capítulos), baseada no romance de Menotti del Picchia, concentrava sua ação no conflito dos vilões Antunes (Carlos Alberto) e MacGregor (Rubens de Falco). Interessado em prejudicar o rival, Antunes encomendou ao capanga Capivara (Anselmo Vasconcellos) – que também atendia MacGregor – a explosão de um bistrô, na tentativa de incriminar o desafeto. Mas eis que sua enteada, Salomé (Patrícia Pillar), por quem ele era apaixonado, decide ir até o local encontrar seu amado, o radialista Duda (Petrônio Gontijo). O gancho do capítulo daquele 20 de setembro foi este: Antunes aflito ao saber que Salomé se dirigia ao local que ia voar pelos ares!

Enquanto os vampiros “bonzinhos” de Armação dos Anjos buscavam a cruz de São Sebastião, que os livrariam do poderio de Vlad (Ney Latorraca), a garotada de Vamp (18h50) se agitava com a inauguração da rádio Corsário. E a histriônica Mary Matoso (Patricya Travassos) sonhava em ter um programa para chamar de seu – mas com aquela voz enjoada, era melhor a esposa de Matoso (Otávio Augusto) ficar de lábios cerrados, como na foto acima. A tal rádio rendeu uma trilha complementar para a novela de Antonio Calmon – além dos (excelentes) repertórios nacionais e internacionais. No setlist, nomes como Kid Abelha, que ainda eram Abóboras Selvagens (‘Não vou ficar’), uma inusitada parceria de Lobão e Nelson Gonçalves (‘O inferno é fogo’) e uma curiosa incursão de Cláudia Ohana nos vocais com um clássico da Jovem Guarda (‘Quero que vá tudo pro inferno’).

Na sequência dos jornais locais (19h45) e do Jornal Nacional (20h00), O Dono do Mundo! Cartaz das 20h40, a trama padeceu com audiência aquém das expectativas. Contudo, os “reparos” feitos pelo autor Gilberto Braga para ampliar os números não prejudicaram a inteligente e intrigante narrativa, como bem vimos na reprise da trama no VIVA, em 2014. No capítulo de 20 de setembro de 91, a odiosa Constância Eugênia (Nathalia Timberg) viu o marido Altair (Paulo Goulart) afivelar as malas e partir para a casa da suburbana Nanci (Ana Rosa). A separação dos pais afetou Felipe Barreto (Antonio Fagundes), então se fazendo de bom moço, levando-o a procurar seu grande desafeto, Márcia (Malu Mader), a virgem vingativa que o levou à lama.

Celso Freitas era o apresentador do Globo Repórter (21h45), já alocado nas noites de sexta-feira. O jornalístico antecedeu o último capítulo de O Portador (22h55), minissérie de José Antônio de Souza que abordava, com otimismo, o HIV. Léo (Jayme Periard) foi contaminado após receber uma transfusão de sangue, em razão de um acidente de avião. Ao descobrir ser portador do vírus da Aids, ele passa a buscar pelo colega de voo que o contaminou – Alfredão (Jonas Mello), um criador de cavalos que se relacionou com prostitutas sem proteção. A minissérie levantou a bandeira de instrução, da prevenção e das dificuldades e preconceitos com portadores de HIV. E recebeu elogios do sociólogo Hebert de Souza, o Betinho, então presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA).

Em seguida, o Jornal da Globo (00h05), com Fátima Bernardes e William Bonner; sessão dupla do Corujão, com Frances (00h40) e A Corrida do Século (3h) e a série O Poderoso Benson (5h).


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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.