Novela da Globo que terminava em 1994 fez sucesso, mas nunca foi reprisada
13/05/2021 às 17h20
Em Sonho Meu, que terminava há exatamente 27 anos, em 13 de maio de 1994, Marcílio Moraes unia duas sinopses de Teixeira Filho, A Pequena Órfã (1968) e Ídolo de Pano (1974), buscando manter o sucesso dos remakes na faixa das seis, que vinha do excelente desempenho de Mulheres de Areia.
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Acusada por setores da imprensa de ser extremamente melodramática, Sonho Meu reunia todos os clichês do gênero, mas de modo tão sofisticado (com o requinte do texto e o aparo da direção) que acabou por impingir ao público a veracidade necessária para que o telespectador embarcasse na história – há, acreditem, quem desconheça se tratar de uma adaptação. A ambientação em Curitiba, única trama da Globo produzida lá, contribuiu para conferir ainda mais charme à novela.
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A trama era encabeçada por Cláudia (Patrícia França), mocinha que, para fugir da violência do marido, Geraldo (José de Abreu), acabava abandonando a filha, Carolina (Carolina Pavanelli). Vivendo no Rio de Janeiro, Cláudia é descoberta pelo marido e decide fugir para Curitiba, onde se emprega na fábrica de brinquedos Ludens, de propriedade da família Candeias de Sá, conduzida por Paula (Beatriz Segall), avó do playboy Lucas (Leonardo Vieira) e do médico Jorge (Fábio Assunção).
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Cláudia passou por toda a sorte de sacrifícios, em nome da saúde de sua filha, portadora de leucemia. A princípio, seduziu Jorge, diante da possibilidade de utilizar o dinheiro do rapaz para bancar o tratamento de Carolina. Mas o coração da operária bateu forte mesmo por Lucas, noivo da publicitária Lúcia (Isabela Garcia). Para ficar ao lado da amada, o jovem se opõe à avó e desiste de sua herança, empecilho para as necessidades emergenciais de Cláudia. Ela chega a aceitar suborno de Paula para se afastar de Lucas (200 mil dólares necessários para submeter Carolina a uma cirurgia no exterior); a matriarca, no entanto, recua ao ver que o neto está se deteriorando após o término do namoro.
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Cláudia e Lucas, então, se casam; ao mesmo tempo, ela entra em acordo com Geraldo, para não perder em definitivo a guarda de sua pequena. Os dois passam a morar juntos na humilde rua das Flores, que estabelece um imenso contraste com a suntuosa mansão Candeias de Sá. Cláudia se torna gata borralheira de dia e Cinderela à noite. O único que compartilha de sua vida dupla é Tio Zé (Elias Gleiser), polonês que fabrica brinquedos artesanais e se afeiçoa a Carolina, a quem passa a tratar por Lalesca.
Desde que fora abandonada pela mãe, Carolina passou a viver com sua tia Elisa (Nívea Maria, em ótima atuação), irmã de seu pai. Impaciente, a megera abandona sua sobrinha em um orfanato, dirigido pelo não menos asqueroso Fiapo (Carlos Alberto), que se torna amante da víbora. Ao fugir da instituição, Carolina vai parar na casa de tio Zé, que a aproxima das outras crianças da rua e lhe mostra um mundo de imaginação e alegrias. Ainda assim, a menina passa por diversos infortúnios: chega a ser explorada por dois bandidos e sequestrada por Jorge. Quando está prestes a voltar para os braços da mãe, é pressionada por Elisa a dizer, no Juizado de Menores, que deseja continuar no orfanato; caso contrário, a tia má irá levar o seu amigo Trigo (Fabiano Miranda) para um reformatório.
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Os vilões Elisa e Fiapo também atazanavam a vida de Cláudia. Foram os primeiros a descobrir sua bigamia e só não foram além na chantagem que faziam contra a moça porque tiveram seus intentos barrados por Giácomo (Eri Johnson), mordomo da mansão que escondia ser filho bastardo de Bartolomeu, esposo de Paula. Aquele que mais teria motivos para se opor a Cláudia, quando sua vida dupla veio à tona, era Lucas. E foi justamente o herói quem a apoiou, bancando o tratamento de Lalesca, embora tenha passado a manter relações com Cláudia, afora o seu casamento de fachada, importante para que ele conseguisse a presidência da empresa da família.
Cláudia fora extremamente hostilizada (chegou a ser apedrejada pelos vizinhos da rua das Flores), até que se descobriu grávida de Lucas. Paula então a acolheu, bem como à Carolina, que com seu jeito doce e sua amizade com o cachorro Tofe, acabaram por humanizar a “dama de ferro”. Paula também se sensibilizara com Cláudia, que contraiu infecção renal, e por pouco, não deu adeus à vida. A irmã de Paula, Fabíola, também sofreu deste mal quando engravidou do polonês Roman Marzursky, de quem se separou para não desagradar à família. O polonês em questão vinha a ser o tio Zé, que, por ter sido rechaçado por Paula e seus pais, a desprezava profundamente.
Um dos grandes responsáveis pelas dificuldades pela qual Cláudia passou durante a gravidez foi Jorge. Obcecado pela moça, e pelo posto do irmão na empresa, o médico aprontou poucas e boas. Logo de cara, descobriu que era filho de Mariana (Débora Duarte, outro destaque), e fora dado para Paula, para que esta substituísse o verdadeiro Jorge, morto em um acidente aéreo na França, ao lado dos pais. Estranhando a proximidade de Mariana, a quem empregou como enfermeira em sua clínica, Jorge ordenou que o advogado Varela (Carlos Kroeber) a investigasse. Ao descobrir toda a verdade, o velho passou a chantagear Jorge, que ordenou que a mãe o matasse, simulando um ataque cardíaco.
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Guerra (Walmor Chagas), diretor da clínica em que Jorge atuava, acabou responsabilizado pela morte, acusado de erro médico, e, ao tomar conhecimento da situação, fez com que Jorge mandasse a própria mãe para a cadeia. Cada vez mais fora de si, Jorge dopa a avó para que ela acredite que está com a saúde frágil; entra em negociatas escusas com Willian (Jayme Periard), diretor da fábrica, para desviar dinheiro para o exterior; torna-se namorado de Lúcia e joga charme para Aída (Cláudia Scher), empregada da mansão que conhece todos os seus segredos.
Nos últimos capítulos, Jorge é misteriosamente assassinado. Me lembro da cena com clareza e do making of, exibido no Vídeo Show, que mostrava Fábio Assunção colocando as bolsas de sangue por baixo de sua camisa, para simular os três tiros que levara. Lucas chegou a ser acusado pela morte do irmão, mas logo foi solto, já que as suspeitas recaíam sobre Willian. Ao final, a surpresa: Guerra assume a autoria do crime, para impedir que Lúcia, sua filha e verdadeira assassina, vá presa.
Sonho Meu apresentara outras cenas importantes. Dentre elas, a do belíssimo natal em Curitiba, com a apresentação de um coral que levava Lalesca, tio Zé e o público às lágrimas. A novela contou também com boas tramas paralelas: Guerra era casado com a tresloucada Magnólia (Yoná Magalhães), que implicava com o marido por ele pegar o seu chinelo e deixa-la descalça, no frio de Curitiba. A doidivanas se envolvia com Ortega (Alexandre Lipiani), rapaz mais jovem que ela, acometido pelo complexo de Édipo. Já Fontana (Flávio Galvão) era o marido fiel que sofria com o ciúme infundado da esposa, Gilda (Françoise Forton). A perua incentivou o romance do filho, Santiago (Ângelo Paes Leme), com a jovem Marília (Karina Mello), sem notar que a moça, na verdade, estava interessada em Fontana; a essa altura, já envolvido com Márcia (Cristina Mullins), secretária particular de Paula.
Outro destaque de Sonho Meu é sua trilha sonora. A nacional não me agrada. Mas a internacional veio recheada de hits dançantes daquela primeira metade dos anos 90. ‘What is love’ (Haddaway), ‘Mr. Vain’ (Culture Beat), ‘Show me love'” (Robin S.) e ‘More and more'” (Captain Hollywood Project) eram alguns dos temas que se misturavam à canções românticas como ‘Wild world’ (Mr. Big) e a belíssima ‘For whom the bell tolls’ (Bee Gees), que embalava o casal Cláudia e Lucas.
Dentre tantos temas, tramas e personagens, Sonho Meu transcorreu seu caminho de sucesso pelo horário das seis – é a segunda maior média da faixa na década de 90. Infelizmente, nunca mais tivemos uma oportunidade de rever a novela que, certamente, seria muito bem vinda no canal Viva ou no Globoplay.