Em 2004, força do folhetim tradicional mandou Deusa da Ilusão, novela-reality da Globo, para o arquivo

05/10/2017 às 9h00

Por: Duh Secco
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Afastada da TV desde o término de Malhação – Casa Cheia, em junho de 2014, Ana Maria Moretzsohn já foi um dos grandes nomes da teledramaturgia de muitas emissoras. Parceira de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares em tramas como Tieta (1989) e Fera Ferida (1993), pioneira nas produções independentes veiculadas pela Band em meados da década de 1990 e com uma breve passagem pela Record, a autora ensaiou, em 2004, levar à telinha um projeto ousado: a novela-reality Deusa da Ilusão.

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Após experimentar o êxito às 18h com Esplendor (2000) e Estrela-Guia (2001), Ana Maria viu Sabor da Paixão (2002) sucumbir – frente os poucos apelos da trama. Em julho de 2003, ao retornar das férias, Moretzsohn apresentou à Globo uma sinopse para a faixa das 19h, Até Que Enfim. A proposta tinha inspiração nas séries: no centro da narrativa, a trajetória da mulher romântica, dona de uma agência de casamento, apaixonada por um pragmático empresário do ramo. As tramas paralelas advinham dos casais que procuravam ambos os profissionais – promovendo um entra-e-sai de personagens em participações curtas.

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A autora já havia testado este formato nas primeiras temporadas de Malhação (1995), que implantou em parceria com Ricardo Linhares. A sinopse, contudo, não avançou – e a ideia da casamenteira foi adaptada em Luz do Sol (2007), com a organizadora de festas Verônica (Paloma Duarte) vivendo entre tapas e beijos com Tom (Petrônio Gontijo), advogado especialista em divórcios.

No ano seguinte, Ana Maria Moretzsohn voltou a propor uma renovação no modelo em vigência desde o primórdio dos folhetins. Definiu, em parceria com a filha Patrícia Moretzsohn – responsável pela próxima temporada de Malhação – as linhas gerais de Deusa da Ilusão, mirando, outra vez, o horário das 19h. Uma matéria da Folha de São Paulo, de 16 de maio de 2004, trazia detalhes da produção: Deusa de Ilusão flertaria com a febre dos “shows de realidade” na TV.

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Ambientada numa indústria de cosméticos, a novela apostaria fortemente numa crítica aos padrões de beleza e medidas extremas tomadas em relação ao físico – como a busca por emagrecimento que descamba para transtornos alimentares. O ponto de partida: a descoberta, numa expedição à floresta amazônica, de um creme “mágico” contra o envelhecimento. O componente “reality” se daria por duas vias: a participação por telefone, numa votação a cada 15 dias para definir os rumos da história; e em vídeo, com telespectadoras sorteadas para passar por uma transformação visual “de verdade” na fictícia fábrica da beleza – hoje expediente comum em muitos programas de TV.

Se aprovada, Deusa da Ilusão seria apresentada no segundo semestre de 2005, após A Lua Me Disse, de Maria Carmem Barbosa e Miguel Falabella. O sucesso de textos mais tradicionais, no entanto, determinou o “engavetamento” do projeto. Na época, a Globo experimentava êxitos em todas as faixas, com o remake de Cabocla às 18h, Da Cor do Pecado às 19h e Celebridade às 20h.

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Ana Maria Moretzsohn acabou deixando a emissora em maio de 2005. Migrou para Band, onde ensaiou implantar um novo núcleo de teledramaturgia em parceria com Herval Rossano, egresso da Record. O projeto não vingou e a autora acabou contratada pelo canal de Edir Macedo, meses depois. Já a substituta de A Lua Me Disse foi, curiosamente, uma novela pretensiosa e pouco eficaz: Bang-Bang, antigo sonho de Mário Prata, que quase foi exibida pelo SBT em 1990. Mas isto já é história para um outro post…


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