Autora do livro se irritou com mudanças em Éramos Seis: “É demais”

06/12/2021 às 11h47

Por: Thell de Castro
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Autora do premiado livro Éramos Seis, que deu origem a cinco adaptações para a televisão brasileira no formato de novela – a mais recente foi exibida pela Globo entre 2019 e 2020 – Maria José Dupré (1898-1984) ficou muito irritada e não aprovou uma inserção feita nas adaptações da obra: o romance extraconjugal de Júlio com Marion.

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Éramos Seis

Apresentada ao elenco da segunda versão da Tupi na noite da estreia, em 6 de junho de 1977, Dupré demonstrou seu aborrecimento com o caso do personagem, vivido naquela trama por Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), posteriormente Othon Bastos (SBT) e Antônio Calloni (Globo).

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“É demais. Sempre me culpei por ter criado a Dona Lola tão sofrida, agora o marido a desrespeita”, disse aos artistas, desaprovando o fato inserido na trama por Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho.

O caso foi relatado pelo pesquisador Ismael Fernandes (1945-1997) no livro “Memória da Telenovela Brasileira”, publicado em 1982.

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Ellen Roche em Éramos Seis

A escritora, que morreu alguns anos depois da exibição da Tupi, disse que não veria a trama por conta do ocorrido.

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“Não me apresentem a aventura de Júlio, será demais para mim”, enfatizou, de acordo com o livro.

A dançarina de cabaré Marion não consta no livro, lançado em 1943. Ela foi vivida por Carmem Marinho em 1977, Elisangela, em 1994, e Ellen Roche, na versão mais recente.

Locomotivas

Éramos Seis

Além do problema envolvendo Júlio e Marion, a versão da Tupi teve outro problema: o sucesso de Locomotivas, novela das sete exibida pela Rede Globo basicamente no mesmo período, em 1977.

Estrelada por Eva Todor (1919-2017), Lucélia Santos, Aracy Balabanian, Walmor Chagas (1930-2013) e grande elenco, a trama de Cassiano Gabus Mendes (1929-1993) caiu no gosto do público e atrapalhou a trajetória de Éramos Seis, apesar da qualidade da adaptação da Tupi, prejudicando seus números no Ibope.

Numa tentativa de melhorar a audiência da trama, a Tupi mudou o horário da novela para 19h30, começando logo após Locomotivas – estratégia que seria adotada por Silvio Santos alguns anos depois, na versão exibida pelo SBT.

Eva Todor em Locomotivas

Para destacar o fato junto ao público, a emissora publicou um anúncio nos jornais:

“A Rede Tupi mudou a novela Éramos Seis para as sete e meia da noite. Assim você não perde as Locomotivas. Éramos Seis, a novela mais humana e comovente da televisão, a partir do dia 15 de agosto, vai começar às sete e meia da noite. A Rede Tupi mudou o horário para você não perder nenhuma das duas novelas de que você gosta. E o novo horário coincide com o início da segunda fase de Éramos Seis. Se por acaso você perdeu a primeira, não tem importância. A vida continua. Em cada capítulo da vida de Dona Lola você vai encontrar muito da sua própria vida. A Rede Tupi está marcando audiência com você”.

“Podem me chamar de maluco. E eu posso quebrar a cara. Mas não vamos mais dar uma de avestruz e enfiar a cabeça dentro da terra para não ver as evidências”, declarou Rubens Furtado, diretor da Tupi, à revista Veja de 24 de agosto de 1977.

A estratégia deu certo: a trama, que alcançava míseros 3,3 pontos, contra 65 de Locomotivas, chegou a quase 13.

No novo horário, a novela foi exibida até 31 de dezembro daquele ano, terminando com 165 capítulos.

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