Primeira novela de Ivani Ribeiro na Globo, Final Feliz estreava há exatamente 40 anos, no dia 29 de novembro de 1982. A autora, já consagrada, vinha de grandes sucessos em outras emissoras.

Sem procurar impressionar, e trilhando seus personagens como sempre fez, Ivani mais uma vez demonstrou o seu talento e eficiência em criar tramas sedutoras.

Final Feliz

Apesar do sucesso na época de sua primeira exibição (novembro de 1982 a junho de 1983), Final Feliz é uma novela pouco lembrada da autora, hoje suplantada por outras de enorme sucesso (A Gata Comeu, Mulheres de Areia, A Viagem). Vale uma reprise, no Viva, ou ser disponibilizada no Globoplay.

Abaixo, listo 10 curiosidades sobre Final Feliz.

Confira:

Experiência frustrante

Ivani Ribeiro

Para finalmente acertar com a Globo (anteriormente ela havia sido sondada algumas vezes), pesou na decisão de Ivani a frustrante experiência em sua última novela, Os Adolescentes, na TV Bandeirantes, da qual afastou-se antes do término por problemas de ordem de produção e direção.

Única inédita

Final Feliz foi a única novela inédita de Ivani na Globo. Seus outros trabalhos na emissora foram remakes ou baseados em antigas novelas suas:

– Amor com Amor se Paga (1984), baseada em Camomila e Bem-Me-Quer (Tupi, 1972-1973);
– A Gata Comeu (1985), remake de A Barba Azul (Tupi, 1974-1975);
– Hipertensão (1986-1987), baseada em Nossa Filha Gabriela (Tupi, 1971-1972);
– O Sexo dos Anjos (1989-1990), baseada em O Terceiro Pecado (Excelsior, 1968);
– o remake de Mulheres de Areia (1993), a partir da novela da Tupi, de 1973-1974, com a adição de tramas de O Espantalho, de 1977;
– e o remake e A Viagem (1994), a partir da novela da Tupi, de 1975-1976.

O apelo de Ivani

Final Feliz

Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia” (do Projeto Memória Globo), Gilberto Braga deu o seguinte depoimento, citando Final Feliz:

Ivani Ribeiro era fantástica! (…) Eu me lembro (…) que um determinado capítulo terminava com um gancho absolutamente ridículo. Era inacreditável que alguém se interessasse por aquilo. A Natália do Valle falava: ‘Conto o que você quer saber se você prometer me levar para passear de jangada’. O suspense para o capítulo seguinte era: será que ele [José Wilker] a levará para passear de jangada? No dia seguinte, liguei a televisão porque queria saber se ele ia levá-la para passear de jangada. Quando a coisa é verdadeira, o telespectador vai atrás. Ivani levava aquilo a sério e ficava bacana”.

Último trabalho de veterana

Final Feliz

Final Feliz foi o último trabalho da atriz Elza Gomes, em uma inesquecível caracterização: a trambiqueira e cativante velhinha Dona Sinhá, que vendia gato por lebre – literalmente – a um restaurante. Elza Gomes faleceu em 17 de maio de 1984, quase um ano após o término de Final Feliz, aos 73 anos, vítima de câncer no pâncreas.

Destaque também para a relação de amizade entre Mestre Antônio (Stênio Garcia), um simplório pescador, e Rafael (Irving São Paulo), adolescente com autismo. E para o divertido casal Alaor e Jandira, com Milton Moraes e Célia Biar em ótimos momentos.

Personagem autista

Final Feliz

Para compor o personagem Rafael, um rapaz com QI abaixo do normal, a autora recorreu à consultoria do psiquiatra e professor Stanislau Krynski, especialista em neuropsiquiatria infantil e então membro da direção da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE).

O Nordeste na novela

Final Feliz

Além do Rio de Janeiro, os estados de Pernambuco e Ceará serviram de ambientações para a trama. A novela destacou as belezas naturais do litoral cearense, como as praias de Morro Branco, Mucuripe e Canoa Quebrada. E retratou características do Nordeste, por meio da usina de açúcar de Alaor (Milton Moraes) e César (Roberto Maya), em Recife, e da pesca da lagosta praticada por Mestre Antônio (Stênio Garcia), em Fortaleza.

Por sua interpretação como Mestre Antônio, Stênio Garcia ganhou o prêmio Destaque do Ano da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA). A empatia do personagem e a boa repercussão da novela fizeram com que o ator fosse contratado pelo governo cearense para promover o turismo no estado durante um ano.

“Venha conhecer as praias do Mestre Antônio!”, foi o slogan da campanha promovida pela Empresa Cearense de Turismo (Emcetur) para as férias de julho de 1983. O personagem ainda entrou para a culinária de Fortaleza, com a “peixada à Mestre Antônio”, peixe servido com pimentão, cebola, pirão de farinha e ovo cozido.

Primeira incursão do diretor Paulo Ubiratan no Ceará, estado que ele gostava muito. Ubiratan voltou a ambientar uma novela em terras cearenses em 1994: Tropicaliente.

Em 1998, o diretor retornou para a pré-produção de Meu Bem-Querer, mas faleceu em seguida, em 29 de março de 1998, vítima de um ataque cardíaco.

Campanha antifumo

Na época de Final Feliz, boa parte dos personagens de novelas apareciam fumando em cena, fruto de uma parceria da Globo com fabricantes de cigarros. Contrariando essa prática, a autora Ivani Ribeiro promoveu em sua trama uma campanha antitabagismo: a personagem Lucinha (Cissa Guimarães) era uma fumante inveterada que não compartilhava a vida naturalista do marido, Ivan (Ney Sant’Anna).

Ex-fumante, Ivani garantiu em entrevista que não houve pressões contrárias à abordagem na novela:

“Avisei ao Boni que ia fazer campanha contra o fumo e tive toda a liberdade para escrever”.

No início, a autora baseou-se em artigos de jornais e revistas para desenvolver sua cruzada contra o fumo, mas, depois da novela no ar, conheceu o livro “Tabagismo”, de José Rosemberg. Não só passou a usá-lo como fonte como também o mencionou no ar: Ivan leu trechos do livro para convencer a mulher a parar de fumar.

Lucinha fumava inclusive grávida – hoje, algo impensável na televisão às 19 horas, mesmo para uma campanha desse tipo. No capítulo 145, com uma barriga de seis ou sete meses, a personagem finalmente abandona o fumo. Porém, era tarde: seu bebê nasceu com problemas de pulmão e peso abaixo da tabela, em decorrência do vício da mãe.

Os nomes do casal de personagens Lucinha (Cissa Guimarães) e Ivan (Ney Sant’Anna) eram uma alusão ao então casal Lucinha e Ivan Lins, ela, cantora e atriz, e ele, cantor e compositor.

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Abertura inesquecível

Vale registrar a excelente abertura: em uma plateia de cinema, personagens de filmes famosos assistem a uma edição de beijos clássicos de Hollywood, ao som da música “Flagra”, de Rita Lee e Roberto de Carvalho. A gravação da abertura foi realizada no antigo Teatro Delfim, no Rio de Janeiro, com 16 atores caracterizados em meio à plateia.

Entre os filmes exibidos na abertura, clássicos como E o Vento Levou, Casablanca, Depois do Vendaval, Nasce uma Estrela, A Primeira Noite de um Homem, A um Passo da Eternidade, Quando Fala o Coração, A Ponte de Waterloo, Uma Aventura na Martinica e outros.

Músicas de sucesso

Final Feliz

Os LPs com a trilha da novela estavam recheados de sucesso da época (1982-1983). Do disco nacional, além da deliciosa “Flagra” (Rita Lee): “Coisa Acesa” (Moraes Moreira), “O Que É Que Há” (Fábio Jr.), “Down em Mim” (Barão Vermelho), “Menino Deus” (A Cor do Som), “Embarcação” (Francis Hime), “Simples Carinho” (Ângela Ro Ro), “Pensamento” (Fagner) e outras.

Do disco internacional, vários hits: “Try My Side” (Chi Lites), “Got to Be There” (Chaka Kha), “Everybody” (Madonna), “It Started With a Kiss” (Hot Chocolate), “Never Gonna Let You Go” (Sergio Mendes), “Maneater” (Hall & Oates), “I’m Never Gonna Say Goodbye” (Billy Preston), “Don’t Go” (Yazoo), “The Lion Sleeps Tonight” (Smoothsayer) e outras.

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Retorno rápido

Final Feliz foi uma das novelas que mais rápido retornou em reprise: terminou em junho de 1983 e pouco mais de um ano depois já estava de volta, no Vale a Pena Ver de Novo, reapresentada de 3 de setembro de 1984 a 8 de fevereiro de 1985.

AQUI tem tudo sobre Final Feliz: a trama, elenco, personagens, trilha sonora e mais curiosidades.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor