Apesar do grande sucesso, O Clone não foi a melhor novela de Glória Perez

14/11/2021 às 5h27

Por: Sergio Santos
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De volta no Vale a Pena Ver de Novo, a elogiada e inesquecível O Clone, de 2001, não foi a melhor novela de Glória Perez. Isso porque ela escreveu, em 2017, A Força do Querer. Nessa trama, a autora soube se reciclar, corrigindo os vários erros observados em tramas como Caminho das Índias, América e a já citada Salve Jorge.

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A missão de Glória era complicada. Levantar a média do horário nobre da Globo, após uma sucessão de novelas fracassadas e/ou problemáticas. Para culminar, o seu retorno era cercado de desconfianças, em virtude da equivocada Salve Jorge, seu pior folhetim, exibido em 2013.

Mas a autora conseguiu cumprir o objetivo com louvor e calou a boca de quem duvidava. A Força do Querer elevou a média da faixa em nove pontos, ao longo de 173 capítulos, obtendo 36 de média geral (contra 27 de A Lei do Amor), se firmando como o maior sucesso do horário desde Amor à Vida (também com 36 pontos). Não é pouca coisa. E todo esse resultado fez jus ao que foi apresentado para o público.

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Após abusar do recurso da exploração de culturas estrangeiras, a autora resolveu apostar em um enredo 100% nacional, tendo o Pará (através da fictícia Parazinho) como um dos locais de sua história. Ainda assim, o ambiente esteve presente apenas no primeiro mês, sendo logo ‘abandonado’ quando todos os personagens de lá se mudaram para o Rio de Janeiro. E foi ótimo não ter ‘dancinhas’ ou bordões com expressões estrangeiras. Estava bastante repetitivo.

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Outra medida adotada com êxito foi a escolha do protagonismo. Em meio ao empoderamento feminino, Glória colocou três mulheres como figuras centrais em A Força do Querer, intercalando o destaque de cada uma. E escalou três atrizes de peso: Paolla Oliveira, Juliana Paes e Isis Valverde. O trio honrou a confiança da escritora, fazendo de Jeiza, Bibi e Ritinha tipos marcantes, que caíram na boca do povo.

O enredo em torno do transgênero Ivan/Ivana (Carol Duarte) foi mais um êxito da novela, funcionando como importante merchandising social. A trajetória daquela menina que não tolerava o próprio corpo cativou o telespectador, despertando atenção desde o início e revelando o talento de Carol para o mundo. A atriz deu um show de dramaticidade e se entregou ao papel, sofrendo transformações físicas desafiadoras.

Todos os conflitos familiares protagonizados pela personagem foram primorosos, sendo necessário destacar ainda Maria Fernanda Cândido e Dan Stulbach, que voltaram aos folhetins em grande estilo – ambos estavam afastados há um bom tempo. A dificuldade que Joyce e Eugênio tiveram com a nova condição do filho se mostrou crível, rendendo grandes momentos.

O núcleo de Parazinho se mostrou outro trunfo da produção. Tonico Pereira e Zezé Polessa preencheram o espaço cômico da história com precisão, fazendo de Abel e Edinalva uma dupla imbatível. As brigas eram hilárias e os exageros deles fizeram bem ao contexto.

Nem tudo foram flores, todavia. A vilania de Irene (Débora Falabella) deixou a desejar. Glória nunca foi uma autora muito boa em criar vilãs e essa foi mais uma prova. A psicopata que fazia de tudo para atingir seus objetivos virou uma chata, cuja única função era atazanar a vida de Eugênio e Joyce.

No início, a trama empolgava. Mas, depois que levou uma surra de Ritinha e sapatadas da rival, sendo desmascarada, a mau-caráter ficou avulsa no enredo, se contentando em mandar fotos para Joyce com o intuito de irritá-la. Até o golpe da gravidez ela tentou dar. Enfim, decepcionou.

O vício em jogo de Silvana (Lília Cabral) foi um enredo promissor, mas acabou repetitivo. A trama rendeu ótimas situações, mesclando bem drama e comédia. Porém, depois que Silvana finalmente se internou para se tratar, o contexto simplesmente retrocedeu. Ela fugiu e tudo voltou à estaca zero, ou seja, o núcleo passou a andar em círculos, ficando cansativo. A cegueira do marido ultrapassou os limites da estupidez e a autora ter deixado essa conclusão só para o último capítulo foi equivocada. Poderia ter encaminhado o desfecho antes, evitando atropelos.

Glória só errou na conclusão de sua história. Ela deixou absolutamente tudo para o último capítulo. O resultado, obviamente, foi uma correria desnecessária, deixando muitos desfechos rasos, eliminando cenas que renderiam muito. Uma das situações mais aguardadas, por exemplo, era a descoberta de Eurico a respeito da verdadeira profissão de Nonato (Silvero Pereira). Mas ele só descobriu no final do penúltimo capítulo. Ao menos todo o restante do último capítulo foi maravilhoso, com finais coerentes e bem conduzidos.

A Força do Querer foi uma novela que deu gosto de assistir e fez jus ao horário nobre da Globo. Após tantas novelas problemáticas, a faixa mais prestigiada da emissora voltou aos bons tempos.

Glória Perez viveu seu melhor momento como novelista, fazendo uma parceria bem-sucedida com o diretor Rogério Gomes, que soube exibir tudo o que a escritora queria – vale lembrar a dificuldade da autora com a direção de Jayme Monjardim, em América, e Marcos Schechtman, em Salve Jorge.

Esse folhetim foi um belo exemplo de uma produção vitoriosa e será sempre lembrada como um exemplo a ser seguido. O sucesso de público e crítica foi mais do que merecido.

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