Autora da próxima novela das nove da Globo nega inspiração em O Clone e Mulheres de Areia
04/11/2021 às 0h15
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No dia 8 de novembro, a Globo estreia, após o Jornal Nacional, a novela Um Lugar ao Sol, assinada por Lícia Manzo, com direção artística de Maurício Farias. A produção marca o retorno das novelas completamente inéditas na faixa das nove da noite da emissora.
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Por causa do Covid-19, seus 107 capítulos foram escritos durante a pandemia e Um Lugar ao Sol estreia já totalmente gravada, o que faz dela uma “novela fechada”. Não há, desta forma, a possibilidade de fazer alterações no decorrer de sua exibição, de acordo com as exigências do público/audiência – o que caracteriza as “novelas abertas”.
A trama central é sobre gêmeos (vividos por Cauã Reymond) separados na primeira infância, de condições sociais opostas e que se conhecem adultos. Enquanto o rico é morto, o pobre assume seu lugar e sua vida.
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Um clássico do folhetim, já visitado por muitos autores, de Ivani Ribeiro a Janete Clair, passando por Aguinaldo Silva e João Emanoel Carneiro: O Outro, Mulheres de Areia, A Usurpadora, Cara e Coroa, Da Cor do Pecado e tantas outras. O próprio Cauã Reymond já viveu gêmeos, na minissérie Dois Irmãos, exibida em 2017.
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Na última quinta-feira (28/10), a Globo promoveu a coletiva de imprensa (virtual), com a autora, diretor e parte do elenco.
Perguntada sobre o risco de levar ao ar uma obra já pronta, sem a possibilidade de aferir a aceitação do público, Lícia Manzo argumentou:
“Isso resultou em um tempo maior de feitura [roteiro e direção], no tempo de preparação do capítulo. Se eu tenho tempo para errar, provavelmente eu vou chegar em um resultado melhor, que infere em um cálculo maior (…) A gente tem uma segurança maior. A gente está trabalhando em um ritmo um pouco menos industrial e, nesse sentido, um pouco menos arriscado“.
Questionei Lícia sobre a escolha por uma trama tão recorrente em novelas. A autora foi enfática:
“Não acredito em trama repetida. Acredito em modo de contar. Acho que a autoria vem antes da história”.
“Vou tentar comunicar [ao público] como para mim é original. Porque não importa a troca [dos gêmeos]. Não é o fato o que está em jogo. É a repercussão do fato dentro dos personagens. Eu estou mais interessada na subjetividade dos personagens e nas camadas psicológica e social que esse jogo me traz”.
Lícia ainda assegura que não é seu objetivo inovar nada.
“Eu não persigo uma novidade. Persigo uma história que me mova, que seja verdadeira para mim. E, nesse sentido, acho que ela é nova, porque é minha, porque nasceu de uma necessidade legítima minha de contar essa história”.
Lícia narrou como concebeu a trama de sua novela: “Na hora não lembrei de O Clone e Mulheres de Areia – embora sejam novelas ótimas que estejam no nosso imaginário, no meu também”.
Impactada com depoimentos de jovens que, ao completarem a maioridade tiveram de deixar o abrigo para menores onde foram criados, a autora, ao assistir ao documentário Meus 18 Anos, da GloboNews, começou a pensar a trama central de Um Lugar ao Sol.
“Ao perceber na maioria daqueles jovens a esperança preservada de estudar e ter um futuro, uma pergunta me veio de imediato: no Brasil de hoje, com apenas 14% dos adultos com curso superior, cerca de 13 milhões de desempregados, e um quarto da população vivendo em situação de pobreza – serão seus sonhos realizáveis?”, refletiu a autora.
Lícia imaginou um protagonista nessas condições, com um sentimento de que as oportunidades lhe tivessem sido usurpadas.
“A história era realista, me parecia boa, mas eu não tinha um elemento de folhetim. Ele quer outra vida, ele quer uma vida que foi vetada a ele. Como na história do duplo, que diz que todos nós temos, que alguém está vivendo a sua vida em algum lugar em uma trama paralela que não é a sua. E se essa outra vida existisse em algum lugar e ele ficasse obcecado por isso?”.
“Então a história é muito mais sobre alguém que fica obstinado pela vida que foi roubada dele. Você pode pensar ‘ah, o gêmeo foi separado’, mas pode pensar também que no Brasil oportunidades são roubadas, diariamente, da maior parte da população, e que é legítimo que eles olhem pro outro lado com muita cobiça”.
“Então minha tentativa é não vilanizar esse irmão que toma o lugar do outro. Ele não conspira, nem faz nada nesse sentido. Ele é um criminoso semiacidental”.
O diretor Mauricio Farias saiu em defesa da autora:
“Lícia foi buscar a tragédia que passa por dentro do folhetim. Ela busca, dentro dessa trama aparentemente folhetinesca, as consequências da tragédia, o destino operando [sobre os personagens], que às vezes joga em um caminho que não tem mais como retornar. Como é a vida“.
“Lícia usa o folhetim para fazer uma narrativa absolutamente contemporânea. Usa isso com uma elegância e uma precisão muito interessantes. A novela vem com vários avanços na narrativa. O mais interessante são os temas que acompanham, os assuntos que Lícia traz sob o formato do folhetim“.
Lícia: “A novela pode ser lida da proposta realista, mas é também um folhetim clássico”.
AQUI tem tudo sobre Um Lugar ao Sol: a trama, o elenco completo, personagens e muitas curiosidades.