Maratonei os 10 primeiros capítulos de Verdades Secretas 2. Pouco restou da novela original. A segunda parte não é somente uma outra produção, com alguns poucos personagens remanescentes, mas uma outra proposta, bem diferente. Nem Angel (Camila Queiroz) e Giovanna (Agatha Moreira) parecem as mesmas. Todas as qualidades aclamadas na novela de 2015 (que considero uma das melhores da década passada) diluíram-se na parte 2.

O texto de Walcyr Carrasco, então comedido, desta vez está escancarado e sem freios, como conhecemos de suas novelas do horário das nove. A cargo de Amora Mautner, a direção – que era cheia de personalidade nas mãos de Mauro Mendonça Filho – agora tenta contornar, por meio de pirotecnias imagéticas, o enredo fraco, a superficialidade de diálogos e perfis de personagens e a inexperiência de alguns atores.

Mas é em vão. Sobra exagero da direção em iluminação, arte e figurinos (tudo over) e falta direção de atores. A frieza de Camila Queiroz é só frieza mesmo, não há camadas. Agatha Moreira lembra Maria Paula nas sátiras a novelas do Casseta & Planeta. Em figurinos high-tech, a personagem Giovanna saltita e se contorce pelas paredes como um bicho no cio. Riso involuntário.

O sexo – o grande chamariz para a novela – é totalmente coreografado e, como não poderia ser diferente quando em grande quantidade, está no roteiro apenas para chamar a atenção na tentativa de causar repercussão. Poucas sequências eróticas têm algum contexto. Nem dá para chamar de erótico, porque o erótico provoca reações. O que chama a atenção mesmo são as dancinhas de acasalamento, que no máximo renderiam esquetes de humor.

Destaco quatro sequências:
1. O investigador, rapidamente, se depara com um projétil no barco de onde um magnata foi dado como desaparecido cinco anos antes. C.S.I for dummies;
2. A garota é expulsa do colégio por pagamento atrasado em uma sequência totalmente absurda e inverossímil, beirando o grotesco;
3. Essa mesma garota, fazendo cara de ódio e olhando para o nada, profere: “Eu odeio a Angel!“;
4. A chantagem de Giovanna para pressionar o irmão: “Eu conto para nossa mãe que você é gay!“.
Francamente!

A trama tem um start no primeiro capítulo, arrasta-se por mais sete e movimenta-se nos dois últimos, a fim de gerar um bom gancho para a próxima leva de capítulos (ao todo são 50, a serem disponibilizados no Globoplay de dez em dez a cada duas semanas). Provavelmente este será o modus-operandi dos próximos 40 episódios. E, no recheio, muito sexo coreografado (sim, sexo no audiovisual pode ser coreografado, “interpretado”, mas VS2 pesa a mão).

Apesar do exagero nas escolhas de Amora Mautner, há algumas decisões que agradam. Particularmente, gosto da trilha sonora e das transições de cenas, em que os cenários abrem para fora dos edifícios e a câmera corre para o cenário seguinte em outro prédio – o que põe o espectador na condição de voyeur e isso tem tudo a ver com a proposta da novela.

Carrasco até poderia se repetir na questão das drogas, bem abordada na novela anterior, mas estaria apenas se repetindo. Em Verdades Secretas 2, o autor faz um outro tipo de abordagem, no vício em estimulantes e remédios para emagrecer (drogas também, claro), uma trama interessante envolvendo a personagem de Érika Januza. Ainda que sem sutilezas: na primeira cena a moça recebe a medicação, na seguinte já está loucona.

Outro ponto bom é que Viscky (Rainer Cadete) está mais humanizado – talvez porque tenha um apartamento financiado para pagar, como repetiu inúmeras vezes. Ah, e Ariel e Percy são “sócios em uma casa noturna“, como fazem questão de frisar. Enfim, Carrasco (fiquei traumatizado com “O melhor advogado criminalista do país” e “O juiz, o delegado e o psiquiatra“).

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Amora Mautner se contorce em malabarismos visuais para imprimir um acabamento chique a Verdades Secretas 2. O esforço da diretora é louvável, mas não segura trama e diálogos. 50 capítulos requerem uma história empolgante e bem amarrada, em um bom texto e atores bem dirigidos. Verdades Secretas 1 tinha quase tudo isso.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor