Com trama fraca e conflitos bobos, Pega Pega ainda não disse a que veio
11/07/2017 às 10h00
A atual novela das sete da Globo estreou no dia 6 de junho, ou seja, está há pouco mais de um mês no ar. E a emissora só tem motivos para comemorar. Isso porque a audiência está nas alturas, obtendo índices surpreendentes até para os mais otimistas, já marcando mais que a anterior, a ótima e elogiada Rock Story. O telespectador parece que foi mesmo conquistado por Pega Pega. Porém, a trama da estreante Claudia Souto, dirigida por Luiz Henrique Rios, não tem feito jus aos números expressivos.
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A história até então não disse a que veio. Aliás, a estreia da produção já tinha se mostrado pouco convidativa e com dramas bastante rasos. O mote central é o roubo milionário do Hotel Carioca Palace, principal cenário da novela, praticado pelos funcionários do lugar — todos ladrões de primeira viagem.
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Malagueta (Marcelo Serrado), Júlio (Thiago Martins), Sandra Helena (Nanda Costa) e Agnaldo (João Baldasserini) toparam o plano mirabolante do primeiro e acabaram levando os 40 milhões de dólares oriundos da venda do hotel. Apesar do contexto nada crível, a licença poética é aceitável.
No entanto, essa foi a única situação atrativa do enredo até agora. E desde então nada mais tem despertado interesse, nem mesmo o quarteto de ladrões. Afinal, eles roubaram, mas e daí? Todos ficam apenas circulando entre os núcleos sem protagonizar nenhum conflito realmente bom.
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Júlio é o típico mocinho sofrido que faz cara de triste o tempo todo, arrependido do crime que cometeu. Seu romance com a policial Antônia (Vanessa Giácomo) parece uma relação de pré-adolescentes, cujo recente término foi provocado por um mal entendido a respeito de um beijo dado em uma festinha da vila. Já Malagueta, Sandra Helena e Agnaldo são perfis bem mais carismáticos, mas ainda não ganharam contornos que valham a pena.
E o que dizer do casal Eric e Luiza? O par não tem química alguma e os personagens se mostram sem qualquer densidade. Mateus Solano e Camila Queiroz nem têm culpa, pois não podem fazer milagres. A própria relação deles se mostrou um erro. A autora resolveu juntar os dois logo no primeiro capítulo, em uma trama de amor à primeira vista bastante forçada.
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Em menos de 24 horas, os dois já tinham se beijado, transado e se declararam perdidamente apaixonados, passeando a cavalo e de helicóptero. Como comprar um relacionamento que não foi construído e sim jogado na cara do telespectador subitamente? Impossível. Para piorar, ambos não conseguem se destacar com seus enredos individuais.
Luiza não tem história. Neta de Pedrinho Guimarães (Marcos Caruso vivendo o mesmo personagem de A Regra do Jogo), a menina teve uma vida de luxo e agora precisa se virar na pobreza. Mas ela ama Eric, que agora é dono do hotel do avô dela. Ou seja, teoricamente sua vida continua boa. E seu drama acaba aí. Seu único foco de conflito é a vilã Maria Pia (Mariana Santos, ótima), secretária completamente apaixonada por Eric. Ainda assim, as situações se resumem em armações para separar o par. Já Eric tem um drama um pouco melhor por causa da filha, a problemática Bebeth (Valentina Herszage, grata revelação). Todavia, é um conflito que destaca muito mais a menina do que ele.
O trauma de Bebeth, por sinal, vem sendo conduzido com sensibilidade. É um dos poucos acertos desse começo. Aparentemente ridícula nos primeiros capítulos, a relação da garota com um canguru de pelúcia foi sendo explicada aos poucos. Ela se sente culpada pelo acidente da mãe, morta em uma batida de carro, e desde então vem tendo problemas psicológicos.
As cenas dela com o brinquedo foram ficando delicadas, embora tenham cessado desde que a menina se deu conta que não está bem. É um contexto que desperta interesse e a atriz estreante está muito bem. Outro ponto positivo é a dupla formada por Nicette Bruno e Cristina Pereira. Elza e Prazeres são duas fofoqueiras carismáticas e as intérpretes fazem uma deliciosa parceria.
Por outro lado, os demais personagens não vêm conseguindo bons momentos. O núcleo do teatro de bonecos, protagonizado por Danton Mello (Borges) e Dani Barros (Tereza), é entediante e parece solto, sem ligação com o restante do enredo. E tem sido um desperdício a participação da grandiosa Irene Ravache. A arrogante Sabine parecia um perfil promissor, mas até agora participa de situações que nada acrescentam e só suas frases de efeito não bastam para honrar o talento da intérprete.
Reginaldo Faria, Ângela Vieira, Milton Gonçalves e Guilherme Weber são outros grandes nomes que até então estão apenas ‘marcando presença’, sendo subaproveitados. Nem potencial nos personagens é possível observar.
Pega Pega ainda está no início de sua jornada e não há motivos para qualquer preocupação com audiência. Mas deveria ter, sim, preocupação com a qualidade da história que está indo ao ar. Porque até o momento o que tem sido visto é um enredo bobo, repleto de conflitos fracos e personagens desinteressantes.
SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas