Em 1971, Roberto Gómez Bolaños trouxe à televisão mexicana a história do pobre garoto que vivia dentro de um barril em uma vila com vários personagens caricatos e carismáticos. El Chavo del Ocho conquistou o coração de crianças e adultos por todo o México, liderando a audiência no horário que era exibido.

Em poucos anos, o seriado cruzou as fronteiras e chegou até a outros países da América Latina, tornando-se um fenômeno: públicos lotavam estádios onde a trupe se apresentava. Mas levou alguns anos para que El Chavo se transformasse em Chaves.

Há 40 anos, em 1981, entrava no ar o SBT e, logo de cara, Silvio Santos trouxe uma ideia simples e barata: mostrar novelas mexicanas. A primeira exibida pela TVS foi Os Ricos Também Choram, que acabou caindo no gosto popular e trazendo bons índices de audiência para a emissora da Vila Guilherme. Esse era o início da parceria entre SBT e Televisa.

Com este acordo, Silvio trouxe muitas novelas à grade de programação, sempre conquistando boa audiência com tramas baratas e de qualidade duvidosa.

Um dia, a Televisa envia para a TVS um lote de fitas com programas variados. A oferta era muito boa, todos os direitos seriam do SBT, mas com uma condição: assinado o acordo, a exibição era obrigatória.

Em uma dessas fitas, o dono do Baú encontrou aquele menino pobre que vivia em um barril. Silvio notou que a produção era antiga, os cenários precários e as piadas ingênuas. Um estilo bem diferente que as emissoras viviam no auge da década de 1980.

Antes de tomar qualquer decisão, Silvio decidiu que alguns episódios seriam dublados para que os diretores da TVS tomassem conhecimento daquele seriado.

Dessa forma, Silvio entregou fitas para alguns diretores da casa, entre eles Luciano Callegari, Orlando Macrini e Vanderlei Villa Nova. Ele pediu que cada um assistisse e trouxesse um parecer se aquele seriado deveria ser exibido ou não.

Em uma reunião, os diretores foram diretos: o programa era pobre, o cenário era péssimo, as piadas eram infames e jamais faria sucesso na tela da TVS. A reprovação foi unânime.

Após ouvir a sentença, Silvio agradeceu os diretores e simplesmente disse: “vou comprar”. Eles não entenderam e ficaram indignados com a decisão do patrão.

Silvio enxergou que a simplicidade do seriado agradaria o público do SBT e que a realidade pobre e difícil, vivida por aquele garoto e seus vizinhos, era parecida com a de milhões de brasileiros assolados pela pobreza e pelo descaso do governo. A visão de Silvio Santos foi de espectador, e não de diretor.

Em 24 de agosto de 1984, El Chavo virava Chaves e começou a conquistar o público brasileiro. O primeiro episódio exibido foi O Caçador de Lagartixas. Não diferente dos outros países, a série virou febre, aumentando a audiência da emissora e conquistando um horário fixo.

Em 1988, alem do horário do almoço, Chaves e Chapolin entravam no horário nobre, batendo de frente com o Jornal Nacional e a novela das oito.

Não sabemos ao certo se Silvio Santos aprecia o humor que o seriado apresenta, mas Chaves se tornou uma peça fundamental em seu tabuleiro. Não importava quantas mudanças de horário o seriado sofria na maluca grade de programação do SBT, a audiência continuava firme e forte.

Essa parceria infelizmente foi interrompida há um ano, quando questões de direitos autorais cessaram a exibição de Chaves e Chapolin no mundo todo. Mesmo assim, sem sombra de dúvidas, eles foram feitos um para o outro.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor