Malhação – Pro Dia Nascer Feliz repetiu todos os erros de Malhação – Seu Lugar No Mundo

03/05/2017 às 10h00

Por: Sergio Santos
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A vigésima quarta temporada de Malhação chega ao fim nesta quarta (03/05), em virtude do novo esquema equivocado da Globo em encerrar produções no meio da semana por causa de uns míseros números a mais de audiência – muitas vezes pouco eficaz. As únicas tramas que vêm escapando dessa estratégia equivocada são as do horário nobre. Ao menos a próxima fase começará na segunda-feira, como tem que ser.

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E Malhação – Pro Dia Nascer Feliz quebrou uma tradição que já vinha sendo adotada pelo seriado adolescente há alguns anos: a de mudar os autores e o elenco a cada temporada. A história recém-terminada foi escrita pelo mesmo Emanuel Jacobina, que foi o responsável por Malhação – Seu Lugar No Mundo e fez questão de manter alguns personagens de seu enredo passado. Infelizmente, a experiência foi decepcionante. Ele conseguiu repetir todas as falhas da temporada anterior.

Malhação – Seu Lugar No Mundo apresentou um começo interessante, mas logo depois começou a se perder em meio a conflitos bobos, personagens superficiais e situações forçadas. Para culminar, houve ainda uma gritante falha na abordagem de questões relevantes, como a AIDS, por exemplo. O saldo final foi o pior possível, colocando a trama na lista das piores temporadas do seriado. A audiência foi satisfatória, mas o conjunto nunca fez por merecê-la. Ou seja, o fato de continuar no comando do seriado adolescente era a chance que o autor tinha para se redimir, apresentando uma nova fase com tudo o que não teve na outra, corrigindo seus erros e apresentando um enredo de qualidade – como o que foi escrito por ele em 2010, quando o público se encantou por tipos carismáticos como Catarina (Daniela Carvalho), Maicon (Marcelo Mello Jr.), Raquel (Ariela Massoti), Pedro (Bruno Gissoni), entre outros.

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E o começo de Malhação – Pro Dia Nascer Feliz foi muito promissor. Realmente parecia que Emanuel Jacobina estava disposto a apresentar um roteiro bem melhor estruturado para o telespectador, repleto de tipos bem mais densos. A trama central era bem interessante e girava em torno da família de Ricardo (Marcos Pasquim), dono da Academia Forma, que era pai justamente dos três melhores perfis femininos: Bárbara (Bárbara França), Juliana (Giulia Gayoso) e Manuela (Milena Melo).

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A relação conflituosa dos quatro – em função da morte da mãe delas em um acidente de moto, provocando a culpa do viúvo e acusações do cunhado Caio (Thiago Fragoso) – despertava atenção, assim como a saga da mocinha Joana (Aline Dias), que veio ao Rio de Janeiro em busca do seu pai biológico (o mesmo dono da academia). As situações se interligavam de forma competente.

Os dramas individuais de cada filha eram mais um êxito da produção. Bárbara era uma vilã complexa que não media consequências para ficar com o mocinho Gabriel (fraco Felipe Roque) e ainda fazia de tudo para chamar atenção do pai, expondo sua carência. Juliana era uma menina extrovertida que sofria com um amor platônico por Giovani (Ricardo Vianna), ao mesmo tempo que se envolvia com o grafiteiro Lucas (Bruno Guedes) em uma relação entre tapas e beijos ardentes. Manu era uma menina introvertida que descontava toda sua raiva na luta e acabou iniciando uma rivalidade com o implicante Fábio (Caio Manhente), protagonizando divertidas cenas de gato e rato com o colega de escola. Já a luta de Joana em provar que Ricardo era seu pai também funcionava, assim como sua inimizade imediata com Bárbara.

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Até mesmo a permanência de Nanda (Amanda de Godoi) e Jéssica (Laryssa Ayres), oriundas da temporada passada, se mostrava um acerto, pois ambas ganharam o destaque que sempre mereceram e não tiveram em Malhação – Seu Lugar No Mundo. Uma se recuperava do baque da morte de Filipe (Francisco Vitti) através de um novo amor e a outra mergulhava em um relacionamento de pura implicância com Belloto (Sérgio Malheiros), protagonizando momentos bem engraçados. Os erros – como a permanência do colégio Dom Fernão (que ficou sem função no enredo) e dos personagens irritantes Cleiton (Nego do Borel), Krica (Cynthia Senek) e Arthur (Gabriel Kaufmann); além da fraca interpretação de Felipe Roque como Gabriel e da falta de enredo do mocinho – ficavam menores diante dos acertos. Mas, lamentavelmente, ao longo dos meses todos os êxitos da produção foram ficando no passado, se transformando em falhas e se juntando aos equívocos já observados no começo.

A história foi se perdendo nitidamente. Após provar que Ricardo era seu pai, Joana passou a renegá-lo e nem mais o nome em sua certidão queria. Ou seja, a situação ficou irreal depois de tanta batalha para encontrar o pai. Ela e Bárbara, por sinal, começaram a protagonizar frequentes cenas de briga que no início eram ótimas, mas depois ficaram repetitivas, até mesmo no texto proferido pelas duas. Todo capítulo tinha alguma discussão entre as irmãs e chega até a assustar constatar que as personagens brigaram ininterruptamente desde agosto de 2016. Onze meses discutindo pelas mesmas coisas. Infelizmente, essa situação ainda fez Bárbara perder toda a sua complexidade inicial, virando uma vilã descontrolada e que transbordava agressividade gratuitamente. Seria muito mais benéfico para o perfil ter seu lado humano explorado, como pôde ser visto nos primeiros meses quando demonstrava amor pelas irmãs e carência pela atenção do pai. Mas tudo foi esquecido pelo autor sem maiores explicações.

Outra mudança que arruinou o enredo foi o término da relação promissora e cheia de química entre Juliana e Lucas. Jacobina resolveu juntá-la com o até então arrogante Jabá (Fábio Scalon) e ainda fez o grafiteiro se apaixonar subitamente por Luíza (Bárbara Maia). Os dois novos pares foram insossos e acabaram fazendo os atores perderem destaque. Viraram meros figurantes. Para culminar, criou-se um enredo estapafúrdio em torno da gravidez de Martinha (Malu Pizzato), transformando Lucas no pai do bebê, sendo que os dois nunca tiveram qualquer tipo de relação. A própria Martinha teve sua personalidade alterada, virando uma menina obcecada pelo pai do seu filho – levando em consideração, ainda, que até pouco tempo era apaixonada por Jabá. Aliás, essa temporada se superou em tratando de mudança súbita de comportamento. Não foram poucos os perfis bruscamente alterados, deixando a coerência de lado.

Além dos citados, incluindo Jabá, o mais gritante foi Caio. Thiago Fragoso novamente mostrou seu talento, mas acabou prejudicado em virtude da falta de lógica que cercou seu personagem. Nos primeiros meses, o tio de Bárbara, Juliana e Manu era um treinador rígido e tinha uma forte mágoa do cunhado por causa da morte da irmã em um acidente de moto. Ele sempre culpou Ricardo pela tragédia e a relação deles era péssima. Entretanto, o perfil tinha um carinho verdadeiro pelas meninas, principalmente por Manu. E não tinha falha de caráter. Era um sujeito íntegro. Mas, sem maiores explicações, o autor resolveu transformá-lo em um psicopata nos últimos meses, culminando até em várias tentativas de assassinato – Caio tentou matar o cunhado várias vezes no hospital enquanto Ricardo estava em coma. O treinador, por sinal, virou mesmo um assassino, pois matou Tita (Paula Possani), ex de Ricardo, sumindo com seu corpo. Situações que soaram forçadas e sem o menor nexo.

Nanda foi outra vítima do autor. A melhor personagem da temporada passada, após um bom começo na nova fase, virou uma sonsa e as idas e vindas com Romulo (inexpressivo Juliano Laham) cansaram rapidamente. O casal também não funcionou, fazendo o autor criar uma trama piegas envolvendo Renato (Jayme Matarazzo), personagem que entrou depois da metade da história dizendo que tinha recebido o coração de Filipe (Francisco Vitti) em um transplante. Mas o par também não despertou interesse, prejudicando um enredo que já estava falho. Para piorar tudo, inseriram o fantasma do Fil para aconselhar Nanda e ‘assombrar’ Romulo, protagonizando momentos constrangedores. Até a Jéssica acabou prejudicada, pois seu enredo com Belloto se diluiu, apagando os perfis ao longo do tempo. A única situação que chegou a agradar por um tempo foi a aproximação de Romulo e Sula (Malu Falangola, ótima surpresa do elenco), mas o escritor preferiu juntá-lo com Nanda no final, romantizando ainda a traição do rapaz, que foi desleal com a menina que sempre o apoiou.

A única história que chegou a ter um desenvolvimento razoável foi a protagonizada pela grande Joana Fomm, intérprete da querida Dona Cleo. O Alzheimer da personagem foi piorando e a atriz viveu alguns momentos tocantes que valorizaram seu talento, apesar de ter sido quase uma figurante em vários momentos. Foi bom ver uma das atrizes que marcaram a história da televisão de volta. Mas, sem dúvida alguma, o maior êxito da temporada foi Bárbara França. Ela foi a maior revelação da trama e carregou o enredo nas costas do início ao fim. Mesmo diante dos vários equívocos do enredo e das alterações feitas em sua vilã, a atriz brilhou e mostrou que vai muito longe na carreira. Seu rosto estará nas próximas novelas da Globo com certeza. Todas as cenas exigiram muito dela dramaticamente, que segurou bem. Outros ótimos nomes do elenco, além dos já mencionados, foram Milena Melo, Giulia Gayoso, Amanda de Godoi e Laryssa Ayres.

Outro problema do autor foi o seu texto, vide a desastrosa fala de Giovane para Joana, dizendo que a namorada deveria engordar para ninguém assediá-la. Para culminar, a mocinha disse que jamais engordaria porque senão ele iria largá-la. O politicamente correto é péssimo para a teledramaturgia e limita os enredos, mas esse caso foi grave porque Jacobina colocou a fala em um perfil íntegro. Se fosse um vilão ou vilã dizendo, por exemplo, não teria problema. A conversa repercutiu tão mal que semanas depois inseriram uma personagem gorda na trama, cuja popularidade era alta e sua autoestima bem elevada, vivida por Raquel Fabbri. Mas além desse equívoco, vale lembrar o caso de xenofobia no texto de Sula, quando a cearense disse que no Rio de Janeiro tinha tanta gente bonita que ela estava com saudade de ver gente feia.

A última semana da trama se mostrou ainda mais estapafúrdia, abusando de situações que subestimaram a inteligência do telespectador. A separação de Lucas e Luíza, por exemplo, foi gratuita e ele ainda fez uma declaração de amor para Martinha que não fez o menor sentido para o público que acompanhou o enredo desde o início. O autor ainda premiou a traição, pois o rapaz chifrou a até então namorada com a mãe de seu filho. Todo o contexto envolvendo a psicopatia de Caio também ficou irreal, principalmente quando o ‘vilão’ fingiu para Manuela que ele e Tita ‘brincavam’ assim que a menina flagrou o corpo da madrasta coberto por um lençol. Além de ela ter acreditado, ninguém mais sentiu a ausência de Tita. Só mesmo nos últimos capítulos que Tânia (Deborah Secco) o desmascarou. O único bom momento na reta final foi o desespero de Bárbara descobrindo que não era filha biológica de Ricardo, virando a bastarda que ela tanto desprezava ao xingar Joana. Bárbara França brilhou como de costume.

Malhação – Pro Dia Nascer Feliz teve um início animador e um desenvolvimento decepcionante. Todos os erros da temporada anterior foram repetidos por Emanuel Jacobina, incluindo até mesmo o subtítulo da trama. Afinal, o “Seu Lugar No Mundo” da fase passada nunca teve correlação com o que era mostrado, assim como não houve nada de “dia nascendo feliz” na atual história. Muito pelo contrário, eram dias de constantes discussões e repetitivas brigas. A audiência foi ótima, mas não fez jus ao que foi apresentado ao público. Os números elevados não refletiram a qualidade. O enredo chegou ao fim com vários problemas de condução e com uma sensação de dever não cumprido. Já vai tarde!

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas


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