No dia 13 de março, a RecordTV estreou sua nova história bíblica, O Rico e Lázaro. É a terceira produção religiosa no formato de novela (considerando-se as duas temporadas de Os Dez Mandamentos como uma única obra), agora assinada pela autora Paula Richard e com a direção de Edgard Miranda. Os primeiros capítulos deixaram uma impressão inicial positiva, em face da evolução gráfica e textual destas obras ao longo do tempo.

A nova obra é a adaptação de uma parábola contada por Jesus Cristo a seus discípulos sobre dois homens que seguem destinos diferentes: um deles enriquece, porém, vai para o inferno por seus pecados. O outro passa por diversos sofrimentos, mas consegue a salvação ao final.

Nesta história, eles são Zac e Asher, a serem vividos por Igor Rickli e Dudu Azevedo – não se sabe ainda qual deles é o Rico e qual é Lázaro. Os dois homens são grandes amigos até disputarem o amor de Joana (Milena Toscano), que também cresceu com eles.

A saga dos dois homens acontece em meio à invasão de Jerusalém pelo tirano Nabucodonosor (Heitor Martinez), imperador da Babilônia. Com a morte de Josué, o povo hebreu se afastou de Deus e começou a idolatrar falsos deuses. O profeta Jeremias (Vitor Hugo) tenta salvar seu povo alertando para os perigos da idolatria, mas acaba apedrejado e tachado de falso profeta.

Inesperadamente, sua profecia se cumpre com a chegada do rei, que invade Jerusalém e destrói o Templo de Salomão, iniciando o período conhecido como “cativeiro da Babilônia”, que dura 70 anos.

O primeiro capítulo se iniciou com uma sequência do Rico no inferno, pedindo ajuda para Abraão (Paulo Gorgulho), pedindo que ele mande Lázaro à Terra para alertar seus familiares para não cometerem os mesmos equívocos, sem sucesso. Após esta sequência, teve início o desenrolar da história, com foco na profecia de Jeremias e na invasão de Jerusalém por Nabucodonosor, que deu o tom dos episódios seguintes.

Por tudo que foi apresentado até agora, ficou evidente a evolução da produção das tramas bíblicas, com efeitos especiais muito bem-produzidos e cenários ricos em detalhes, com boas reconstituições de época (evitando ao máximo possível falhas como a caracterização dos personagens ao final da segunda temporada de Os Dez Mandamentos). A associação da Record com a produtora Casablanca, que assumiu o controle dos estúdios do complexo RecNov, mostrou-se benéfica.

Também é perceptível uma sensível melhora nos diálogos, fazendo com que a mensagem bíblica seja mostrada de uma forma menos doutrinária. O revezamento de autores ao longo das últimas tramas contribui decisivamente para isto, com as incursões de Paula Richard e de Renato Modesto (autor de A Terra Prometida), em contraposição ao estilo de Vivian de Oliveira (autora da maioria dos trabalhos bíblicos da emissora).

No elenco, Heitor Martinez foi um dos principais destaques. É um ator talentoso que se destaca especialmente em papeis de vilões, como o bandido Jacson de Vidas Opostas (2006/2007). Vitor Hugo também foi outra grata presença como o profeta Jeremias. Também merecem elogios os ótimos Henri Pagnoncelli (Chaim), Zécarlos Machado (Fassur), Lucinha Lins (Zelfa), Denise Del Vecchio (Elga) e Adriana Garambone (Amitis, esposa de Nabucodonosor, que constrói para ela os famosos jardins suspensos da Babilônia).

Um ponto negativo foi a longa duração do capítulo de estreia, sem comerciais, deixando o ritmo arrastado em alguns momentos – embora não comprometesse totalmente o resultado final. Outro detalhe que deve ser observado é a sensação de “déjà vu” que a caracterização da novela e dos personagens provoca, involuntariamente. Tem-se a sensação de que os figurinos e cenários são “reaproveitados” em cada trama.

O saldo de O Rico e Lázaro, em seus primeiros capítulos, é positivo e reafirma os investimentos da RecordTV no nicho bíblico, além de seu poderoso potencial de exportação, em virtude das boas audiências de novelas como Os Dez Mandamentos e A Terra Prometida em países da América Latina (a primeira, em sua exibição na Argentina, impôs grandes derrotas a A Regra do Jogo, trama global de João Emanuel Carneiro). Que a boa impressão se confirme ao longo dos capítulos e que a emissora, além do filão religioso, também continue investindo em histórias “laicas” (como a ótima Escrava Mãe e a vindoura Belaventura).


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