BBB 17 se mostra uma edição sem lealdade, sem verdade e sem alma

10/03/2017 às 11h00

Por: Sergio Santos
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A décima sétima edição do Big Brother Brasil tinha o grande desafio de não ter Pedro Bial apresentando, mas havia outra missão a ser encarada: apresentar um bom elenco, após o fenômeno Ana Paula (participante que entrou para a história do reality ano passado, provocando uma imensa repercussão e elevando a audiência). Embora Tiago Leifert jamais consiga ser igual ao apresentador anterior (nem teria como), ele acabou se encontrando no comando do formato. Porém, o time selecionado fracassou incontestavelmente.

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A seleção parecia promissora e houve uma clara preocupação em priorizar a diversidade, fugindo daqueles padrões que o público do BBB já estava acostumado, onde os sarados, jovens e ‘gostosonas’ eram maioria e os ‘normais’ exceções. Quase todos da atual edição se encaixavam na categoria de pessoas ‘comuns’ e o time chegou a empolgar no começo. Mas foi um mero ‘fogo de palha’. Com o passar das semanas, foi ficando evidente que vários ali não se entregaram ao programa e muito menos se mostraram jogadores carismáticos.

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O que costuma mover um bom reality show é a formação de alianças e ótimos embates, despertando rivalidades empolgantes. Tanto que isso resulta em torcidas ferrenhas em provas do líder, do anjo, da comida, enfim… O jogo bem disputado provoca um clima de tensão constante ao mesmo tempo que não impede momentos de diversão.

E absolutamente nada disso tem acontecido na atual edição. Não há qualquer tipo de vínculo mais forte entre os participantes e nem uma disputa que desperta interesse. É uma temporada fria, sem alma.

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Os selecionados não criaram afetos no programa. Todos se aliam por conveniência e os laços mudam a cada paredão, de acordo com quem retorna da berlinda. Ninguém defende ninguém. É cada um por si, ainda que tentem disfarçar, aparentando amizades inexistentes. Claro que um jogo que vale um milhão e meio de reais provoca interesses e disputas, mas nunca na história do reality houve um grupo que não tenha demonstrado ao menos carinho por alguém, nem que seja para chegar à final. Talvez a única exceção seja Ilmar, que demonstra um claro afeto por Marcos, embora não receba de volta esse sentimento na mesma proporção (afinal, o médico não deu a imunidade do Anjo para o amigo e ainda fez questão de tentar ‘queimá-lo’ em um discurso deprimente sobre os supostos erros que teria cometido).

Para culminar, todos fogem de confrontos diretos. Não há enfrentamentos e nem maiores discussões. Os populares ‘barracos’ são elementos extintos nessa edição. E nem é uma reclamação a favor da ‘baixaria’, pois um mero desentendimento defendendo interesses já valeria. Mas eles preferem agir com comentários pequenos e pelas costas, fingindo respeito pela frente. Ou seja, é um conjunto péssimo para qualquer reality. Um verdadeiro banho de água fria em quem esperava algo atrativo para acompanhar ao longo de quase três meses.

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Essa falta de verdade provoca uma perda de interesse em torcer por alguém. Até porque falta carisma e atitude nesse grupo. Nem mesmo lealdade há, vide as várias traições que ocorreram, como o voto de Roberta em Mayara e depois em Emilly, a tentativa de Emilly em destruir a amizade de Marcos e Ilmar, e o voto de Rômulo em Ilmar, por exemplo – nem assim resultando em enfrentamentos, vale ressaltar.

Um dos poucos focos de conflitos, despertando alguma atenção, era Elis. A participante era uma fofoqueira nata e tentava colocar um contra os outros o tempo todo. Era uma quase vilã, mas tinha humor e carisma, características vitais para um bom entretenimento. Taxada de “agente do caos” por Tiago Leifert, a ‘louca’ acabou sendo queimada a cada dia pela edição, que valorizava seus atos com uma lente de aumento, como se ela fosse uma malvada em meio aos anjinhos da casa. O resultado foi uma eliminação com mais de 80% de rejeição em um paredão triplo. O curioso é que no dia da saída dela, o apresentador fez questão de elogiar seu jogo, tentando incentivar os demais a se entregarem ao programa. Mas foi tarde, até mesmo para os demais acreditarem naquilo – afinal, Elis acabou eliminada.

O que sobrou no reality, infelizmente, é um conjunto desanimador. Marcos e Emilly formam um casal insuportável, onde ele é um banana manipulado por uma menina fútil, egoísta e mimada. Rômulo se mostra um defensor da moralidade ao lado de Marcos e os dois cansam com seus discursos em prol da perfeição do ser humano, como se fossem discípulos de Cristo. Pedro, Roberta e Vivian ficaram juntos por força de circunstância e a agora dupla (Pedro foi eliminado na última terça) só fala, ao invés de agir, demonstrando um contraponto raso ao jogo de Marcos e Emilly. É uma aliança frágil e artificial. Já Ieda altera bons momentos de jogo com outros desnecessários, reclamando dos outros pelas costas e fugindo do confronto. Já Marinalva e Daniel são duas plantas que nada acrescentam. A única exceção é mesmo o já citado Ilmar, que vem se mostrando uma pessoa verdadeira, com qualidades e defeitos, se entregando mesmo ao programa.

A última tentativa da produção de tirar a edição do marasmo foi na segunda-feira (06), quando um muro dividiu a casa, tendo um lado mexicano e um americano, fazendo uma clara referência ao presidente dos EUA, Donald Trump.

Entretanto, a situação foi claramente criada para beneficiar Emilly, que é a única ‘rendedora’ de assunto naquela mansão. Afinal, o mais votado pelos participantes teria uma falsa eliminação (já ocorrida com Maroca no BBB 13 e com Ana Paula no BBB 16) e ficaria do outro lado do muro, podendo escolher quatro colegas para lhe acompanhar.

Era óbvio que Emilly tinha muito mais chances de ser a escolhida, pois foi para o paredão com seis votos. E foi exatamente o que ocorreu, para a alegria da produção, que não sentiu um pingo de constrangimento de ter realizado essa ‘virada’ com a votação do público em curso. Ela foi a falsa eliminada, levando Marcos, Ilmar, Daniel e Marinalva. O resultado disso foi ‘apenas’ um auxílio e tanto para a menina ficar em seu segundo paredão, aumentando sua popularidade – antes do muro, Pedro sairia pelas enquetes tendo cerca de 54% dos votos e depois do muro ele saiu com mais de 70%, pois não rendeu nenhum maior conflito na casa.

O BBB 17 vem se mostrando uma grande decepção e já pode ser considerada uma das piores edições do reality, empatando com a sexta edição, lembrada como a mais fraca até hoje. Não por acaso a média geral da atual edição é a pior em 16 anos de programa. Falta carisma, lealdade, atitude e muita verdade nos participantes. Falta tudo.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas


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