Reprise de Por Amor no Viva relembra a essência de Manoel Carlos
27/06/2017 às 10h00
Por Amor foi um dos maiores sucessos do consagrado Manoel Carlos e deixou sua marca na história da teledramaturgia. Qualquer telespectador que ama novelas lembra o enredo desse folhetim tão envolvente do autor. A trama foi reprisada no Vale A Pena Ver De Novo entre julho de 2002 e janeiro de 2003, repetindo o êxito com o público. Já em 2010, pouco tempo depois da inauguração do Viva, foi a vez de ser reexibida no canal a cabo. Agora, passados sete anos, a produção vem sendo reprisada novamente pelo mesmo Viva.
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Inicialmente, essa re-reprise foi bastante questionada pelos telespectadores do canal, que acharam um absurdo passar mais uma vez uma obra que já tinha ido ao ar anos antes, tendo tantos outros folhetins antigos disponíveis.
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De fato, a decisão do Viva surpreendeu. Porém, embora realmente reprisar uma trama já reexibida seja discutível, Por Amor é um produto que nunca se esgota. Maneco esteve inspiradíssimo e esse foi um de seus melhores e mais aclamados trabalhos. Tanto que a qualidade do conjunto pode ser mais uma vez observada com clareza.
A Helena vivida por Regina Duarte foi uma das melhores do escritor, levando em consideração que a grande atriz já havia interpretado outra Helena em História de Amor, do mesmo Maneco, tão bem construída quanto, e outra em Páginas da Vida.
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O título da obra, inclusive, foi claramente referente ao ato assustador da protagonista, que não titubeou em trocar o neto morto pelo seu filho vivo em uma das cenas mais marcantes e densas da teledramaturgia. A sequência em que aquela mãe priva o marido e a si mesma de criar um herdeiro para evitar o sofrimento da filha, que perdeu o bebê e o útero, foi brilhantemente interpretada por Regina e Marcelo Serrado, intérprete do médico César. Impossível esquecer.
A novela não marcou só a carreira da eterna namoradinha do Brasil. A sua filha também se destacou na pele da mimada Maria Eduarda, protagonizando grandes momentos ao lado da mãe da vida real e da ficção. Ela viveu com dignidade a filha irritante de Helena, que virou outra marca do autor — vide Joyce (Carla Marins), de História de Amor, e Camila, de Laços de Família, por exemplo. Foi seu grande papel na televisão. Aliás, Gabriela entrou para a galeria de grandes cenas da ficção logo no início do folhetim, quando Eduarda empurrou a venenosa Laura (Vivianne Pasmanter) na piscina, ignorando o fato da rival estar em uma cadeira de rodas.
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E Vivianne foi outra atriz em estado de graça. A debochada filha de Meg (Françoise Forton) tirava Eduarda do sério e era obcecada por Marcelo (Fábio Assunção), sendo a responsável pelas melhores tiradas da trama, destacando o talento da atriz que ainda estava no começo da carreira na época.
Mas não tem como mencionar vilanias sem enaltecer o trabalho de Susana Vieira. A veterana ganhou seu melhor papel e aproveitou todas as chances dadas por Manoel Carlos para ela brilhar. Branca Letícia de Barros Mota é uma das maiores víboras da história das novelas e foi vivida sem afetações ou caricaturas. A intérprete soube moderar o tom, deixando a ricaça elegante, arrogante e irônica na medida certa.
Foram muitas cenas ótimas protagonizadas por Susana, principalmente ao lado de Regina Duarte, Gabriela Duarte, Fábio Assunção, Cássia Kiss (Izabel), Carolina Ferraz (Milena), Antônio Fagundes (Atílio), Carlos Eduardo Dolabella (Arnaldo) e Murilo Benício (Leo). O desprezo que a matriarca sentia por Léo, a rigidez com que tratava Milena, e a superproteção que tinha com Marcelo sempre rendiam momentos envolventes, assim como sua rivalidade com Helena e sua paixão por Atílio. Vale lembrar ainda uma emblemática sequência protagonizada ao lado da sempre entregue Cássia Kiss, quando Branca e Izabel saem no tapa e rolam as escadas. Barraco típico do Maneco.
A trama ainda teve uma excelente abordagem em cima do alcoolismo e do racismo. O drama de Orestes (Paulo José, irretocável) comoveu o público e a cumplicidade do pai alcoólatra com a filha Sandrinha (Cecília Dassi) foi um dos pontos altos da novela, sendo preciso citar ainda o grande trabalho de Regina Braga vivendo a batalhadora Lídia. E a ideia de mostrar um branco casado com uma negra que se negava a ter um filho negro foi ousada, retratando com nitidez a hipocrisia que ainda reina na sociedade. Os conflitos protagonizados por Maria Ceiça (Márcia) e Paulo César Grande (Wilson) despertavam interesse, mesmo fazendo parte do núcleo secundário.
Já o melhor casal do enredo foi formado por Milena e Nando. A química entre Carolina Ferraz e Eduardo Moscovis arrebatou desde o início e a música tema do par (Palpite, de Vanessa Rangel) marcou o folhetim, sendo ainda o instrumental da vinheta de intervalo. O romance da ricaça rebelde com o piloto de helicóptero pobretão virou o principal com facilidade, ainda que a relação de Atílio e Helena também tenha sido linda e bem conduzida pelo autor.
Vera Holtz, Carolina Dieckmann, Marco Ricca, Maria Zilda, Ângela Vieira, Odilon Wagner (intérprete do homossexual Rafael, que se revelou durante a trama), Eloísa Mafalda, Rosane Gofman, Beatriz Lyra, Tonico Pereira e Otávio Augusto foram mais alguns ótimos nomes do elenco.
Por Amor foi um novelão e esse imenso sucesso de Manoel Carlos vem repetindo o êxito no Viva, liderando a audiência do canal desde o começo da sua re-reexibição, sendo ainda a novela mais vista atualmente do aplicativo Globosat Play. É uma história que ninguém esquece e todo mundo faz questão de rever quando pode. Maneco na sua essência.
SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas