Os clichês “Morte anunciada” e “O fim de uma era” estão liberados quando o assunto é o anúncio pela Som Livre do fim da comercialização de CDs com trilhas de novelas (em mídias físicas).

A notícia pegou de surpresa os colecionadores de LPs e CDs de folhetins. Logicamente as novelas continuarão a ter trilhas sonoras produzidas, com canções embalando cenas e personagens, mas ficarão restritas às mídias digitais, para adquirir, baixar ou ouvir pela internet.

Morte anunciada

É sabido que as trilhas de novelas já não vendiam mais como nas décadas de 1980 e 1990 – ou seja, não faturavam mais como antes. Já a partir de 2010, as vendas (e, em consequência, as tiragens dos CDs) vinham despencando ano a ano. Todavia este é um fenômeno do mercado fonográfico em geral, que passou por uma grande transformação a partir da década de 2000, quando o consumo de música pela internet explodiu.

Com a queda das vendagens, caiu também o afinco dos produtores de trilhas de novelas em ofertar novidade. A cada ano, as seleções foram ficando cada vez mais inchadas de músicas requentadas, já ouvidas em outras novelas, ou de regravações de sucessos do passado. Diminuiu consideravelmente a prática de compor e gravar uma música especialmente para um personagem ou ambientação de novela.

Como uma coisa puxa a outra, a repercussão das trilhas e o entusiasmo do público também diminuíram. As seleções musicais não causavam mais o furor de antigamente, de quando, por exemplo, ansiava-se conhecer a música da abertura ou por começar a tocar a trilha internacional na novela. E isso não é papo de velho saudosista (apesar de eu ser um).

O fim de uma era

Na última década, quais músicas originais em novelas ficaram diretamente associadas às tramas ou personagens? De bate-pronto, sem pesquisar, cito o “Oi oi oi” de Avenida Brasil e o “Ex-Mai Love” de Cheias de Charme (bem como “Vida de Empreguete“), novelas de 2012. Claro que existiram outras, mas pouquíssimas quando comparado com as décadas de 1970, 1980 e 1990.

Se você ouve “Dancin´Days”, “Pecado Capital”, “Ti-ti-ti”, “Tieta” ou “A Viagem”, automaticamente associa às novelas homônimas. O “lerê-lerê”, todo mundo sabe que é de Escrava Isaura. “Menino do Rio”, é de Água Viva; “Pai”, de Pai Herói; “Modinha para Gabriela”, de Gabriela; “Brasil” de Vale Tudo; “Sexy Yemanjá”, de Mulheres de Areia; “Vítima” de A Próxima Vítima; e assim sucessivamente.

Este é um pequeno exemplo de como o cenário mudou, reflexo da grande transformação pela qual passa a forma como consumimos telenovela e televisão. Como exemplo, o streaming, que chegou para revolucionar nossa relação com a TV. Não se trata unicamente de “as novelas do passado eram melhores“. Meça o quanto de memória afetiva e saudosismo há nessa afirmação.

Desde sempre a televisão, até mesmo para sobreviver, acompanha as mudanças da sociedade e dos hábitos de consumo do público. A TV se transforma e as telenovelas idem. O fenômeno dos cantores desconhecidos que viraram ídolos da noite para o dia, porque tiveram uma música tocando em novela, pode até se repetir de tempos em tempos. Mas não mais com a profusão de outrora. Sigamos para frente.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor