Pilar, de Nos Tempos do Imperador, existiu? Conheça a primeira médica do Brasil
23/11/2021 às 2h30
A atual novela das seis da Rede Globo, que estreou no início de agosto, apresenta um enredo que tem como pano de fundo o Segundo Reinado. Nos Tempos do Imperador é a sequência de Novo Mundo (2017) e começa em 1856, mais de 30 anos após a Independência do Brasil.
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Ambientada no Rio de Janeiro, a novela fala sobre conquistas, batalhas, vitórias e derrotas, mostrando um Brasil jovem que ainda busca sua identidade. Seu elenco é composto por nomes como Selton Mello, Mariana Ximenes e Letícia Sabatella.
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A trama ganhou destaque entre os telespectadores por contar com personagens reais da história do Brasil. Entre os principais nomes estão Dom Pedro II, Imperatriz Teresa Cristina, Condessa de Barral, Princesa Isabel, Princesa Leopoldina e Marquês de Caxias.
Por outro lado, a novela conta com personagens ficcionais que são marcados ou inspirados por histórias de força e superação. É o caso da personagem Pilar, interpretada por Gabriela Medvedovski.
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A história de Pilar
A jovem enfrenta, desde pequena, o peso de ser uma mulher do século XIX. Determinada, tenta convencer o pai Eudoro (José Dumont), fazendeiro e coronel da Bahia, a deixá-la estudar. Viúvo, ele criou sozinho ela e a irmã, Dolores (Júlia Freitas/Daphne Bozaski).
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Pilar passou anos em um convento, onde estudou e teve ainda mais certeza de que queria ir em busca do sonho de se tornar médica, um objetivo quase impossível na época, visto que as mulheres eram proibidas de ingressar nas faculdades. Enquanto isso, a irmã Dolores sofreu com sua ausência, mas sempre pode contar com o seu amor.
Quando as meninas ainda eram bem pequenas, Eudoro prometeu casar Pilar com Tonico (Alexandre Nero), futuro candidato a deputado pela Bahia, filho de seu compadre, coronel Ambrósio (Roberto Bomfim). A união seria vantajosa para ambas as famílias, pois permitiria aumentar o número de terras na região e somar forças, visando os interesses pessoais dos coronéis.
A ideia era que o casamento acontecesse quando os dois estivessem mais velhos, para o desespero de Pilar. Ciente da chegada de Tonico para o casamento e da ameaça de perder sua liberdade, ela revela à irmã seu plano de fugir em busca de seu maior sonho.
Pilar quer chegar à Faculdade de Salvador para tentar convencer a banca de que é apta a cursar medicina como outros homens da sua idade.
A verdadeira primeira médica do Brasil
Embora a personagem interpretada por Gabriela Medvedovski não tenha existido na vida real, sua inserção no folhetim é uma forma de homenagear a primeira médica formada no Brasil, Rita Lobato Velho.
Ela nasceu em Rio Grande, no Rio Grande do Sul, e viveu toda sua infância no sul do país ao lado dos pais e de 13 irmãos. Ainda criança, já demonstrava aptidão para a medicina e sempre se destacou na vida escolar pela sua força e dedicação.
Ao concluir o primário, foi matriculada pelos pais em um curso preparatório para desenvolver as competências necessárias para alcançar o sonho de se tornar médica e se especializar em obstetrícia. O sonho da gaúcha ganhou ainda mais força e significado quando sua mãe faleceu ao dar à luz o seu último filho. Rita decidiu, então, que lutaria para que nenhuma mulher morresse mais daquela forma.
A jovem ingressou na Universidade de Medicina do Rio de Janeiro e, logo após, se transferiu para a Universidade de Medicina de Salvador. Contudo, seu ingresso só se tornou possível graças ao decreto de 1879, que permitia mulheres frequentarem faculdades e adquirirem títulos acadêmicos nas áreas de sua preferência.
Caminho aberto
Ao se formar na faculdade de medicina em tempo recorde, Rita se tornou, em 1887, a primeira mulher médica no Brasil e a segunda latino-americana a adquirir diploma na área. Ela seguiu o caminho aberto por Elizabeth Blackwell (foto acima), primeira mulher do mundo a se graduar na área.
Após se graduar, Dra. Rita retornou para o Rio Grande do Sul, praticando a medicina para uma clientela majoritariamente feminina, em Jaguarão. Seu atendimento tinha como objetivo retirar o estigma de que o pudor de mulheres deveria vir à frente da saúde. Assim, a médica levava mulheres que se recusavam a serem examinadas por médicos homens a se consultarem com ela.
Dra. Rita se casou com Antônio Maria Amaro Freitas, seu companheiro durante toda a vida, com quem teve uma única filha, Ísis. Viveu com seu par durante 37 anos, até o falecimento do esposo, em 1926.
Após contribuir para a medicina local em Jaguarão, Rita saiu do Brasil para aperfeiçoar seu conhecimento médico e melhorar seus atendimentos. Regressou em 1910 para o Rio Grande do Sul, com o objetivo de realizar atendimentos na Estância Capivari, em Rio Pardo, onde viveu com o marido e a filha. Ela se destacou por prestar serviços e distribuir medicamentos de forma gratuita para os pacientes necessitados que iam à sua procura.
Fora da vida profissional, Rita Lobato também se posicionou a favor das mulheres e apoiou ativamente o movimento feminista, lutando pelo direito das mulheres ao voto, o que levou a médica a conquistar o cargo de primeira mulher vereadora de Rio Pardo.
Aos 73 anos, sofreu um AVC que lhe causou uma deficiência parcial auditiva e visual. Anos mais tarde, Dra. Rita Lobato Velho faleceu na Estância de Capivari, no dia 6 de janeiro de 1954, deixando um enorme legado às futuras médicas e às mulheres como um todo.