Remake disfarçado? Novela ficou parecida com Chocolate com Pimenta
20/01/2023 às 11h49
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A vingança é um dos maiores clichês da ficção e até hoje faz sucesso. Nada mais empolgante do que ver uma pessoa injustiçada se voltando contra todos que a arruinaram. O Conde de Monte Cristo, romance da literatura francesa, escrito por Alexandre Dumas, em 1844, é a maior referência do gênero. Tanto que vários filmes, peças teatrais, séries e novelas já se inspiraram na obra. Fera Radical, por exemplo, ou o seriado americano Revenge, além de Avenida Brasil, entre tantas outras produções.
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Novela que estreou em 23 de outubro de 2017, O Outro Lado do Paraíso foi outro folhetim que se baseou nesse recurso. E, curiosamente, Walcyr Carrasco acabou se inspirando também em outra novela sua: Chocolate com Pimenta, exibida em 2003 e atualmente reprisada em edição especial.
Sucesso da faixa das seis
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O folhetim de sucesso das 18h até hoje é lembrado e a saga da doce Ana Francisca (Mariana Ximenes) arrebatou o telespectador na época. É uma das produções de maior êxito do autor, marcada pelo humor delicioso, personagens carismáticos, muita guerra de torta e enredo empolgante.
Após ser ridicularizada na fictícia cidade de Ventura, recebendo um banho de tinta verde durante uma festa de formatura, a mocinha promete voltar e destruir todos que riram dela, entre eles o banqueiro, o delegado, a maior rival, o prefeito, entre outros.
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E ela consegue graças ao querido Ludovico (Ary Fontoura), homem muito mais velho que se casa com a menina apenas por amizade e para deixar sua herança com uma boa pessoa, evitando que a irmã ambiciosa ficasse rica.
O juramento que Ana fez, diante de uma paisagem deslumbrante e no topo de um quase morro, marcou a virada da personagem.
“Por essa terra que eu piso, por esse barro de que sou feita, nunca mais vão rir de mim. Pelo céu que desce do horizonte, pela chama que arde em meu coração, eu vou me vingar um dia. Eu vou me vingar”.
Olho por olho, dente por dente, disse a magoada protagonista, pegando a terra do chão e encostando em seu peito.
A partir daí, a novela ficou ainda melhor e a trajetória da até então ingênua Aninha ganhou contornos dignos de uma justiceira. Pois foi exatamente isso que aconteceu com Clara (Bianca Bin), mocinha da novela das nove, a partir do início da esperada segunda fase da trama.
Vingança
Após ter se dado conta de que foi internada no hospício (isolado em uma ilha) graças ao plano da ex-sogra, Sophia (Marieta Severo), a protagonista jurou vingança diante de um penhasco, prometendo destruir todos que provocaram essa desgraça em sua vida.
“Pela lua, pelas estrelas, pelo sol, pelo raio, relâmpago e trovão, por esse mar, pelas pedras, pela terra… Eu juro que vou sair desse lugar e vou me vingar de todo mundo que me fez mal. Um por um. Vou me vingar do delegado, do juiz, do psiquiatra… E de quem me chamava de querida. Vou te destruir, Sophia! Agora é olho por olho, dente por dente”, disse a indignada heroína, olhando fixamente para a imensidão do mar.
Assim como o protagonista de O Conde de Monte Cristo e de Aninha Francisca, Clara contou com a ajuda de uma mentora: Beatriz, interpretada pela grandiosa Nathalia Timberg.
A inteligente senhora foi internada na mesma clínica pela neta e contou para a mocinha sobre a fortuna que tem em quadros caríssimos, escondidos em sua antiga casa. Prometeu que ela seria uma jovem rica e culta quando saísse daquele inferno. Para isso, deu-lhe aulas de idiomas, ensinou a ler e falar corretamente, além de ter mostrado como se portar.
Mudança de fase
As cenas ficaram lindas e sensíveis, destacando o talento das intérpretes de diferentes gerações. Aliás, o mesmo ocorreu em Chocolate com Pimenta, expondo a competência de Mariana Ximenes e Ary Fontoura. Outra similaridade foi a morte desses verdadeiros anjos. Ludovico faleceu diante de sua grande amiga e Beatriz idem. Por sinal, o mentor do principal personagem do romance de 1844 também acabou não resistindo.
A mudança de fase, com uma passagem de 10 anos, marcou a virada da novela e da mocinha, que deixou definitivamente a burrice de lado. Esperta e vingativa, preparou-se para arruinar a vida de todos os seus inimigos. Os capítulos empolgaram o público, apesar das críticas da imprensa.
O autor errou ao demorar demais para o início da vingança. Duas semanas eram suficientes para explorar o calvário da protagonista, mas o contexto ficou repetitivo com 30 capítulos. Tanto que alguns cortes foram feitos para agilizar o processo. E as bem produzidas cenas marcando essa nova saga de Clara deixaram evidente o potencial do enredo da novela, assim como o interesse do público em acompanhá-la. Afinal, uma boa história de revanche nunca falha.
A trama central de O Outro Lado do Paraíso lembrou bastante a de Chocolate com Pimenta, tendo como única grande diferença o peso das histórias: enquanto a motivação de Ana Francisca era um bullying sofrido diante de todos, a de Clara foi a ruína de sua vida, incluindo perda do filho recém-nascido, terras ricas em esmeraldas sendo roubadas e internação em um hospício aterrorizante. Ou seja, uma destinada ao horário das seis e a outra voltada para a faixa das nove – ambas com muito êxito.