A humanidade pisava na Lua há exatamente 52 anos, na noite de 20 de julho de 1969. As emissoras brasileiras transmitiram a saga da Apollo 11 e o primeiro passo de Neil Armstrong (1930-2012) ao vivo, através do recém-inaugurado sistema via satélite. Mas a Globo quase ficou de fora da festa.

Na época do acontecimento, Silvio Santos era imbatível e tinha a maior audiência da televisão brasileira, contribuindo para o crescimento da emissora, que havia sido inaugurada em 1965. Para se ter uma ideia, a audiência de seu programa naquele domingo chegou a ser praticamente a mesma que o feito da NASA, a agência especial norte-americana, exibido no Brasil no final da noite.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

 

Por causa disso, a Globo foi a última a entrar em cadeia para a transmissão das imagens. Walter Clark (1936-1997), que era um dos diretores da emissora, conta sobre isso em sua biografia “O campeão de audiência”, destacando que o fato rendeu uma bronca de Roberto Marinho (1904-2003).

“Quando a Apolo 11 desceu na Lua, a Globo foi a última a entrar em cadeia, com as imagens geradas pelos americanos. É que o Silvio Santos estava no ar e o Luiz Guimarães, diretor artístico da emissora em São Paulo, teve escrúpulos de cortá-lo. Tinha medo de que se aborrecesse. Dessa vez, até o Roberto Marinho me ligou indignado. Por conta do Guimarães, levei talvez a minha única e justificada bronca do patrão”, relatou. No final das contas, deu tudo certo.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE


Jornalista quase apanhou

Apesar de serem em preto e branco, a perfeição das imagens foi tal que levou alguns telespectadores a duvidar de que o feito realmente foi realizado – aliás, muita gente duvida até os dias de hoje. “As transmissões diretas da Apollo 11 para a Terra foram consideradas excelentes pelos técnicos de TV de Cabo Kennedy. A câmera de TV usada pelos astronautas não é um aparelho qualquer. Basta dizer que custa US$ 7,5 milhões”, informou a Folha de S.Paulo do dia seguinte.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

 

Mas, ao contrário do que os céticos dizem – que foi uma armação da NASA, algumas pessoas pensaram que se tratava de uma produção da própria Globo.

Pelo menos esse foi o relato de Hilton Gomes (1924-1999) ao projeto Memória Globo. O jornalista fez diversas coberturas internacionais, como a primeira transmissão via satélite da televisão brasileira, diretamente de Roma, em fevereiro daquele ano, quando a estação da Embratel em Itaboraí (RJ), que recebia os sinais do Intelsat III foi inaugurada, e também foi o primeiro apresentador do Jornal Nacional, ao lado de Cid Moreira, em setembro.

No dia seguinte à chegada na Lua, quando tomava um café no bar da esquina da emissora, a moça que sempre o atendia olhou o jornalista com cara feia. “Você é um mentiroso. O homem não foi à Lua coisa nenhuma”, disparou. De acordo com Gomes, como outros fregueses também olhavam desconfiados, ele desistiu do café e saiu de fininho antes que algo pior acontecesse.

O jornalista fez uma verdadeira maratona para a transmissão. Acompanhou o lançamento da nave, alguns dias antes, nos Estados Unidos, voltou para o Rio de Janeiro e foi direto para o estúdio. “Quando chegamos, a nave estava se aproximando da Lua e tivemos que narrar simultaneamente o diálogo dos três astronautas. E, com toda aquela preocupação, as emoções iam surgindo enquanto eles falavam”, relatou Gomes ao Memória Globo.

Compartilhar.
Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor