A novela das sete se encaminha para o final e a trama de Daniel Ortiz merece elogios. O autor conseguiu criar uma trama com traços bastante infantis que conquistou o público e acertou na escalação de grande parte do elenco. Todavia, Salve-se Quem Puder também teve problemas visíveis e um deles foi a pouca valorização do elenco negro.

Inicialmente, causou a melhor das impressões a escolha de vários intérpretes negros que não estavam na condição de empregados ou pobres – estereótipo corriqueiro nas novelas. Todos tinham uma boa condição e pareciam ter boas tramas. Mas só parecia. Ao longo dos meses, foi ficando visível a função de quase todos eles: serem ‘escada’ ou antagonistas dos brancos. Caso tivessem um bom destaque, até valeria a intenção. Só que não foi o caso.

Renatinha (Juliana Alves) e Úrsula (Aline Dias) são os maiores exemplos. As duas agiram como vilãs em quase toda a história e só apresentaram uma ‘redenção’ na reta final. A primeira é ex-namorada e secretária de Rafael (Bruno Ferrari), por quem nutria uma paixão obsessiva.

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Passou o tempo todo se rebaixando por ele. Já a segunda era namorada de Teo (Felipe Simas) e sempre foi viciada em antidepressivos. Nunca superou o término do relacionamento. As duas eram ‘rivais’ de Kyra (Vitória Strada) e Luna (Juliana Paiva), respectivamente. E não tiveram um bom destaque.

Bel (Dandara Mariana) é uma dançarina que se interessou por Zezinho (João Baldasserini). Não demorou para virar a ‘adversária’ de Alexia (Deborah Secco) na disputa pelo caipira. Se a situação ao menos rendesse boas cenas para a atriz, daria para relevar. Mas a personagem interpretada pela talentosa Dandara teve ainda menos destaque que Renatinha e Úrsula. O autor resolveu criar de última hora um interesse de Bel em Alejandro (Rodrigo Simas), novo perfil que entrou após a interrupção da novela, apenas para não deixá-la mais avulsa do que já estava.

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Outro papel que não teve qualquer relevância foi Dionice, melhor amiga de Bia (Valentina Bulc). Interpretada por Bárbara Sut, a personagem teve poucas cenas. No caso, ainda é possível justificar em virtude do encurtamento do folhetim. Como as gravações foram paralisadas com a pandemia do novo coronavírus e só retornaram meses depois, com um encurtamento de 55 capítulos, o núcleo da ginástica artística acabou bem prejudicado. Mas os outros casos citados nada tiveram a ver com o enxugamento da história.

Vale citar também a ótima Ana Carbatti, que vive a Consulesa Adriana, que oferece proteção para o trio protagonista. Dá para contar nos dedos as sequências que contaram com a presença da atriz. E o que comentar sobre Cosme dos Santos, o Edgar? Pior ainda o que houve com Vicky, vivida por Mila Carmo. A funcionária do Empório era amiga de Luna, tinha poucas cenas, e do nada virou uma mau-caráter.

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É de se lamentar ainda a pouca relevância da ótima Gabriela Moreyra, que entrou na chamada ‘segunda parte’ para viver Aurora, prima de Renzo (Rafael Cardoso). A personagem só foi criada para substituir Cristina Pereira (Lúcia), intérprete da avó do rapaz, porque a veterana é do grupo de risco. Mas o autor não criou nenhum novo conflito para o perfil. A menina serve apenas para ouvir os desabafos de Renzo e aparece raras vezes.

A única exceção do elenco negro da trama é Babu Santana. O ator também entrou na ‘segunda fase’ e tem um bom destaque como Nanico, policial que passou a proteger as protagonistas e acabou se envolvendo com Ermelinda (Grace Gianoukas). Pena que seja um caso isolado.

Salve-se Quem Puder pecou no desenvolvimento dos personagens negros. Não adianta escalar um elenco mais diverso se nenhuma história relevante se mostra presente nos núcleos onde os atores foram colocados. Esse fato sempre gerou um incômodo e vale a reflexão. Até para Daniel Ortiz.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor