Um clássico da televisão brasileira, a novela A Gata Comeu, de Ivani Ribeiro, está de volta no Globoplay a partir desta segunda-feira, dia 7. Exibida originalmente em 1985, a novela é cultuada por uma legião de fãs que foram crianças na época, devido ao forte apelo infantojuvenil da trama. Para celebrar seu retorno, destaco 10 curiosidades sobre a produção.

1 – Remake

Já era um remake. Da novela A Barba Azul, que Ivani Ribeiro escreveu para a TV Tupi entre 1974 e 1975, com o casal Eva Wilma e Carlos Zara como os protagonistas Jô Penteado e Fábio, papeis de Christiane Torloni e Nuno Leal Maia na nova produção. Fez sucesso nos anos 70, fez sucesso nos anos 80.

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2 – Título estranho

O primeiro nome pensado para o remake foi Pancada de Amor Não Dói, um título péssimo, por sinal, trocado por A Gata Comeu. Quando começaram as primeiras chamadas, o nome causou estranhamento: o que a gata comeu, afinal?

A referência estava na música da abertura: “Ela comeu meu coração, trincou, mordeu, mastigou, engoliu, comeu…”. Jô era a gata que comia o coração de seus pretendentes. Outra interpretação pode vir da frase de apelo infantil “O gato comeu!”.

A Barba Azul, o título da novela original, era o apelido jocoso da protagonista Jô – uma referência ao personagem do conto francês que casara-se seis vezes, mas ninguém sabia o que tinha acontecido com as esposas, que desapareceram.

Em A Gata Comeu, Jô tinha o apelido de Lucrécia Bórgia, por ser uma megera que fez sofrer seus pretendentes – referência à controversa figura da Renascença italiana.

3 – Tapas e beijos

Politicamente incorreto aos olhos de hoje, o romance entre tapas e beijos – literalmente – do casal Jô e Fábio ganhou notoriedade com o bordão de Fábio “Bateu, levou!”, ao revidar os tapas de Jô. Algo absolutamente impensável na atualidade, por gerar gatilhos e por fazer apologia ao machismo, misoginia e à violência contra a mulher.

Comento sobre isso neste texto: por que um remake de A Gata Comeu seria impossível hoje em dia.

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4 – Clube dos Curumins

Qual criança da época não queria fazer parte do Clube dos Curumins? Inesquecível o elenco infantil, formado, entre outros, por Danton Mello (com 10 anos na época), Juliana Martins (11 anos) e Oberdan Jr. (14 anos), que seguiram carreira na TV.

Os membros do Clube dos Curumins eram: Cuca (Danton Mello) e Adriana (Kátia Moura), filhos do Professor Fábio; Xande (Oberdan Jr.) e Suely (Juliana Martins), filhos de Martim e Ofélia; Nanato (Silvio Perroni), filho de Oscar e Conceição; e Cecéu (Rafael Alvarez) e Verinha (Juliana Lucas Martin), filhos de Vicente. Havia outras crianças, que apareciam esporadicamente.

5 – Abertura icônica

A abertura da novela marcou época justamente por representar tão bem a década, esteticamente falando. Ao som de “Comeu” – um rock irreverente de Caetano Veloso gravado pelo grupo Magazine, de Kid Vinil –, a abertura era vibrante, com formas geometrizadas em cores fluorescentes, letterings onomatopeicos e estilização das HQs e referências artísticas da Pop Art.

6 – Música de Madonna proibida

Assim que chegou às lojas de discos, a trilha internacional da novela teve de ser recolhida pois não houve a autorização da gravadora da cantora Madonna para que a sua música “Crazy For You” estivesse no LP/cassete. Sobre este fato, comentam Guilherme Bryan e Vincent Villari no livro “Teletema, a História da Música Popular através da Teledramaturgia Brasileira”.

Os representantes nacionais da Warner Music liberaram a faixa para inclusão no álbum e ela começou a tocar. Porém, os representantes internacionais da mesma gravadora, tardiamente consultados, proibiram a inclusão da música no disco e na novela. Com isso, os LPs distribuídos foram retirados das prateleiras – o que leva os colecionadores, até hoje, a disputarem as poucas cópias do LP com ‘Crazy For You’.

Em substituição, optou-se por um fonograma do catálogo da Sony Music, à qual pertencia o selo Opus Columbia, para evitar eventuais problemas na liberação e, assim, devolver rapidamente o disco às lojas. O tapa-buraco foi ‘Smooth Operator’, da cantora nigeriana Sade Adu.

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7 – Perdidos na ilha

Antológicas as cenas dos primeiros capítulos em que um grupo de personagens, em uma excursão marítima, vai parar em uma ilha quando o barco sofre uma pane e sai de sua rota.

Jô convida um grupo de amigos para um passeio no barco de seu pai: a irmã Lenita; o ator Tony Duarte e seu amigo Vitório; e o casal Gustavo e Tereza. Ao embarcar, eles descobrem que terão de dividir a viagem com desconhecidos, já que a embarcação foi emprestada para uma excursão escolar promovida pelo professor Fábio, que leva com ele a noiva Paula e mais seis alunos. O, barco é conduzida por Edson, amigo de Fábio e funcionário do pai de Jô.

Uma pane nos motores faz com que a embarcação desvie de sua rota e acabe parando em uma ilha desconhecida e distante. Dados como mortos, os viajantes passam um tempo perdidos. Porém, a convivência é difícil, porque Jô e Fábio antipatizam à primeira vista. Descobertos por dois pescadores, os náufragos são resgatados.

8 – Referências a outras novelas

Na trama da novela, Tony Duarte (Roberto Pirilo) era ator de televisão. A Gata Comeu fez referências ao universo novelístico, com citações a novelas famosas, personagens e outros atores. O próprio diretor Herval Rossano apareceu dirigindo uma novela fictícia (novela dentro da novela).

O personagem Gugu (Cláudio Corrêa e Castro), quando encontra a atriz Neuza Amaral, a elogia pela novela Cabocla (1979), em que ela e Cláudio Corrêa e Castro atuaram como marido e mulher: “Gostei muito de Cabocla… aquele seu marido hein!”. No que Tetê (Marilu Bueno), mulher dele, fala: “É igual ao Gugu!”

Tetê, por sua vez, passou boa parte da novela grávida. Ao final, quando dá à luz um casal de gêmeos, batiza os bebês de Rodrigo e Débora, uma alusão ao casal romântico central da novela Final Feliz (1983), da própria Ivani Ribeiro, interpretado por José Wilker e Natália do Valle.

Várias outras novelas e produções da Globo foram citadas nas falas de Televina (Kleber Macedo), que era novelomaníaca assumida. Eventualmente, a personagem aparecia vestindo uma camiseta que estampava o logotipo da novela Um Sonho a Mais, a atração das sete horas quando A Gata Comeu estreou.

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9 – A Urca

A novela teve o bairro da Urca, no Rio de Janeiro, como cenário para várias externas, pontos hoje reconhecidos e visitados pelos fãs da novela.

Os prédios que serviram de fachada para as residências da família Penteado (um edifício de classe média-alta) e do Professor Fábio (um prédio mais simples); as casas conjugadas onde moravam a família de Paula, de um lado, e a família de Ivete, do outro; o prédio que foi fachada para a escola em que Fábio lecionava; a pracinha para crianças onde ficava a banca de Seu Vicente; a ponte de onde Fábio jogou Jô ao mar; e a igreja em que Jô tentou impedir o casamento de Fábio e Paula.

10 – A moda dos anos 80

A moda dos anos 80 pode até parecer “excêntrica” aos olhos de hoje. Roupas largas, ombreiras, estampas gráficas, cores vibrantes (azul piscina e rosa choque) ou fluorescentes (laranja, amarelo e verde limão), cabelos repicados e mullets.

Christiane Torloni chamou atenção com seu corte de cabelo poodle (encrespado) assimétrico. E o corte de Mayara Magri – curto, repicado, com rabicho – fez sucesso entre as jovens – ficou conhecido como “rabicho da Babi”, sua personagem. Porém, Mayara manteve o rabicho por pouco tempo.

AQUI tem tudo sobre A Gata Comeu: trama, elenco completo, personagens, trilha sonora e mais curiosidades.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor