Fazendo jus ao seu nome, nem parece que A Vida da Gente foi feita há 10 anos

07/06/2021 às 17h30

Por: Sergio Santos
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A reprise de A Vida da Gente na Globo tem mostrado que, ao contrário de algumas reexibições, o folhetim de Lícia Manzo segue atrativo, envolvente e com dramas que não envelheceram mal. A produção nem parece que tem 10 anos.

Os dramas criados pela autora evitam aquele lugar comum de vilão versus mocinho e ressalta as fragilidades dos personagens com uma maestria invejável. Todos os lados são compreensíveis e dignos de defesa. Justamente por isso, há até hoje muitas discussões nas redes sociais sobre a conduta de cada perfil.

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Com o despertar de Ana (Fernanda Vasconcellos), a relação de Manuela (Marjorie Estiano) e Rodrigo (Rafael Cardoso) ficou estremecida. A história central da novela viveu seu ápice quando a ex-tenista descobriu através de Eva (Ana Beatriz Nogueira) que sua irmã estava casada com o seu ex-futuro-namorado.

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A partir da descoberta, a relação sólida das irmãs sofreu um forte abalo, mas acabou em parte reestruturada por causa do blog criado por Manuela desde que Ana entrou em coma. A preocupação de Manu em deixar uma espécie de diário para a irmã acompanhar o crescimento da filha, Júlia (Jesuela Moro), ajudou a uni-las novamente.

Mas a aparente paz não dura muito. Isso porque Rodrigo se aproveita de um momento de fragilidade emocional de Ana e a beija, reavivando o sentimento de anos atrás. Após a traição com Manuela, os dois passam a se encontrar escondido. Ana sempre se mostra desconfortável e querendo fugir daquela situação, mas acaba cedendo todas as vezes.

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Tanto que o beijo se repete, mas desta vez é flagrado por Manu, graças ao plano de Eva (Ana Beatriz Nogueira), que arma para a filha que despreza sofrer. O flagrante da traição decreta o fim da relação das irmãs e o rompimento com Rodrigo. Uma nova fase se inicia no enredo.

É justamente na atual fase que os ânimos do público se exaltam mais. Inevitável o telespectador não tomar um lado. E há 11 anos, as redes sociais ferveram. Uma parte fazia questão de atacar Ana e defender Manuela, enquanto outra atacava Manuela e dizia que Ana estava apenas ‘pegando de volta’ o que lhe era de direito, como se Rodrigo fosse um objeto ‘roubado’ por Manu. Os Team Ana sempre chamavam Manu de ‘talarica’ e sonsa. Já os Team Manu diziam que Ana era a sonsa e egoísta. Isso em uma época onde as redes nem tinham tanta importância assim e os comentários sobre novelas não eram tão ativos quanto hoje. Essa ‘guerra’ não mudou, o que prova a força do enredo de A Vida da Gente.

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A autora Lícia Manzo aborda os conflitos dos personagens de uma maneira muito coerente e com uma sensibilidade rara. Analisando friamente, o grande culpado é Rodrigo, que não consegue lidar com seus sentimentos e prefere agir com covardia através de uma traição que Manu jamais merecia. Mas ainda assim ele também é uma vítima dos acontecimentos do destino. Não tanto quanto Ana e Manuela. As duas, aliás, são as protagonistas da novela. A história não marcou tanto por acaso. Nunca foi um enredo sobre romance. Isso fica em segundo ou até terceiro plano. É uma trama sobre o amor de duas irmãs e como esse sentimento sobrevive a tantas armadilhas do destino.

A verdade é que a escritora foi hábil na construção de Manuela. A personagem nasceu com uma deficiência na perna e sempre foi humilhada pela mãe. Enquanto era tratada feito um lixo, Ana recebia todos os mimos e privilégios. Algo que também acabou sendo sufocante, mas como a própria personagem disse em uma cena, com um peso menor. Afinal, o excesso se apara. Já lidar com a falta é mais difícil. Manu tinha tudo para odiar Ana e ser a clássica irmã invejosa e amargurada, um clichê dramatúrgico. Mas nunca foi. Sempre teve um amor incomensurável por Ana e era sua cúmplice. Lícia criou um contexto para impedir o telespectador de rejeitar Manu. E funcionou. Embora uma parte recrimine o romance com Rodrigo, há uma outra que a defende com unhas e dentes.

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E quando Manu e Rodrigo se envolveram, Ana estava em coma já há três anos e sem qualquer esperança dos médicos. Era quase uma morte não declarada. Ana nunca teve um namoro com Rodrigo. Foi apenas uma transa, que resultou em uma filha. Ana ainda fugiu grávida e escondeu a gravidez do rapaz. Nem uma relação existia. Portanto, passou longe de uma traição, ainda que seja uma situação complicada e dê para entender o lado de Ana quando acorda.

Já o beijo de Ana e Rodrigo ocorre quando o rapaz está casado com Manuela. Ou seja, ali sim houve uma traição, embora os defensores de Ana não aceitem. Mas, ao mesmo tempo, é impossível não observar a confusão mental de Ana, que dormiu com 17 anos e acordou com 24. Ela nem viveu o seu amadurecimento como mulher e é normal ainda ter o pensamento da adolescente deslumbrada. Tanto que acaba usando e magoando Lúcio (Thiago Lacerda) durante sua indecisão com Rodrigo e rompimento com Manuela. A história é muito bem conduzida e amarrada.

A causa para esse envolvimento do público é simples. A Vida da Gente é uma novela que faz jus ao título que tem. Absolutamente nenhuma trama que é contada soa forçada ou inverossímil. Todos os telespectadores acabam se identificando em muitas situações ou se vendo em algum personagem. São poucos os autores que criam papéis tão reais. E a reprise apenas está comprovando que as discussões provocadas por Lícia Manzo não envelheceram em 10 anos. Isso é ótimo.

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