Há 50 anos, Tarcísio Meira seria Jesus em novela da Globo, mas acabou virando ET
14/06/2021 às 7h30
Em 1971, logo depois do sucesso de Irmãos Coragem, a mesma autora (Janete Clair), os mesmos diretores (Daniel Filho e Milton Gonçalves) e metade do elenco da trama, incluindo Tarcísio Meira e Glória Menezes, seguiram na faixa das oito da Globo. Essa prática era comum na época, vide também, por exemplo, O Bem-Amado e Os Ossos do Barão (1973), mas seria impensável nos dias de hoje. A nova produção deveria sugerir a vida de Jesus Cristo, mas foi vetada pela Censura – no final das contas, o protagonista acabou virando um extraterrestre.
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Só que, ao contrário de Irmãos Coragem, o resultado não foi um sucesso arrebatador, apesar de ter audiência satisfatória: O Homem que Deve Morrer, que estreou em 14 de junho de 1971, no Rio de Janeiro, e em 16 de julho, em São Paulo, terminava em 8 de abril de 1972, na capital fluminense (dia 11, foi a vez da capital paulista, já que a emissora ainda não transmitia totalmente em rede).
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Em texto sobre as novelas mais elogiadas e mais criticadas de Janete, nosso colunista Nilson Xavier falou sobre os principais problemas de O Homem que Deve Morrer:
Novela retalhada pela Censura Federal. Segundo a autora, o protagonista Ciro Valdez (Tarcísio Meira), deveria sugerir a alegoria da vida de Cristo em sua passagem pela Terra. O tema foi considerado impróprio e acabou totalmente censurado. Os scripts dos 10 primeiros capítulos foram vetados.
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Janete Clair decidiu então fazer uma adaptação do livro “Eram os Deuses Astronautas?”, de Erich Von Daniken, para relacionar os poderes mediúnicos de Ciro aos extraterrestres. A autora completou a novela com Ciro Valdez incorporando um médico comum.
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Daniel Filho destacou em seu livro “Antes que me Esqueçam”: “Em O Homem que Deve Morrer, uma mulher virgem tinha um filho que era educado fora (…) Falava-se muito na história do nascimento dele, sendo a mãe uma donzela. Dizia-se que ela tinha tido um romance com um camarada. Depois, era discutido o hímen complacente. Resultado: a novela foi proibida. Esse tema foi cortado quando faltavam dois dias para a estreia. E Tarcísio Meira acabou sendo um extraterrestre mesmo”.
O pesquisador Cláudio Ferreira narrou no livro “Beijo Amordaçado – A Censura às Telenovelas Durante a Ditadura Militar”: “No parecer dos dez primeiros capítulos, (…) a lista de restrições era enorme, de adultério a misticismo, passando por desmoralização da Justiça, ridicularização aos símbolos religiosos e telepatia. Em letras maiúsculas, a sentença final: NOVELA NÃO PODERÁ SER APROVADA – FERE CONSTITUIÇÃO – LEI DE SEGURANÇA NACIONAL. (…) um ofício do diretor geral da Polícia Federal, general Nilo Caneppa Silva, mostra que houve negociações para liberar a novela“.
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Infelizmente, isso tudo nunca mais poderá ser revisto: as fitas da novela se perderam nos incêndios sofridos pela Globo nos anos 1970 e não existem mais imagens dessa novela.