A novela Dona Beija, da TV Manchete, estreou há 36 anos, em 31 de março de 1986. Trata-se de um dos primeiros grandes sucessos da emissora de Adolpho Bloch, que, à época, tinha apenas três anos de existência.

Era a segunda novela da emissora. No ano anterior, foi ao ar o remake da novela Antônio Maria, que passou despercebido. A Manchete também já exibira minisséries: Marquesa de Santos, Viver a Vida, Santa Marta Fabril e Tudo em Cima.

Abaixo, 8 curiosidades sobre esse sucesso:

1 – Fórmula repetida

Maitê Proença

Dona Beija foi a sua primeira superprodução da TV Manchete, feita com requinte e lançada com grande alarde. Repetia-se a ambientação de época e o par romântico da minissérie Marquesa de Santos (1984) – Maitê Proença e Gracindo Júnior -, e o mesmo autor, Wilson Aguiar Filho.

2 – Novela cara

A emissora investiu pesado, com belos figurinos e cenas externas enriquecendo o visual da obra. Foram 20 milhões de cruzados (moeda da época) para fazer com que a novela tivesse cenários e figurinos condizentes com a paisagem brasileira do século 19.

Foram gastos 3 milhões de cruzados só na construção de uma cidade cenográfica em Santa Cruz, então zona rural do Rio de Janeiro, para fazer as vezes do Arraial de São Domingos do Araxá, onde transcorria a trama. Com 8 mil metros quadrados, a cidade cenográfica abrigava igreja, cemitério, pelourinho, casas e até um aviário, com 300 galinhas, perus e patos.

3 – Profissionais da Globo

Herval Rossano

A TV Manchete contratou o diretor Herval Rossano, vindo do sucesso da novela A Gata Comeu, da Globo. Herval levou consigo, para Dona Beija, os atores, Bia Seidl, Mayara Magri, Marilu Bueno, Arlete Salles, Jayme Periard, Monah Delacy, João Signorelli e Nina de Pádua, todos com participação em A Gata Comeu, além de vários outros do casting global.

4 – Erotismo

Com os ares liberais da Nova República, Dona Beija foi a primeira novela a apostar no erotismo e a explorar a sensualidade para chamar a atenção do público. Ficaram famosas as cenas de nudez de Maitê Proença, em banhos de cachoeira, coberta de lama medicinal de Araxá, em cenas de amor com os amantes de sua personagem, ou nos passeios a cavalo (a atriz dispensou dublês de corpo).

Contudo, a repercussão maior se deveu à própria Maitê, no auge da beleza realizando o seu melhor trabalho na TV, pelo qual ficou para sempre marcada.

5 – Empurrãozinho de Sarney

O capítulo em que Maitê Proença aparece tomando banho nua em uma cachoeira só foi ao ar graças a uma decisão pessoal do então presidente da República José Sarney.

A Censura Federal havia vetado, em cima da hora, o capítulo inteiro, que só foi exibido, mesmo assim com alguns cortes, devido a um providencial telefonema de Adolpho Bloch, dono da TV Manchete, ao presidente meia hora antes de a novela entrar no ar.

Sarney não só liberou o capítulo como se derramou em elogios a Dona Beija.

6 – Sucesso no exterior

A novela fez uma carreira internacional de sucesso, em países como França, Espanha, Portugal, Cuba, República Dominicana, Congo, Chile e Uruguai. No Estados Unidos, pela primeira vez (em 1991) uma novela brasileira foi exibida em horário nobre, às 20h30, pela Univision, a maior rede em língua espanhola no país.

7 – Reprise surpresa no SBT

Em 2009 o SBT reprisou a novela, entre abril e junho. Depois da polêmica reexibição de Pantanal (em 2008), durante semanas anúncios sobre uma suposta “arma secreta” do SBT davam a entender que emissora reprisaria outra trama da Manchete, A História de Ana Raio e Zé Trovão (de 1990-1991). Porém, a escolhida foi Dona Beija.

Assim como aconteceu com Pantanal, os próprios profissionais envolvidos na produção de Dona Beija ficaram surpresos. Alguns nem sabiam que a novela havia estreado no SBT.

Esta reprise foi ainda mais surpreendente porque, na época, se noticiava que o SBT pretendia fazer um remake de Dona Beija – e, com isso, estaria fora dos planos a exibição da produção original. Outros motivos estavam relacionados à qualidade (precária) das fitas adquiridas pelo SBT da massa falida da TV Manchete.

8 – Inspirações

O autor Wilson Aguiar Filho teve como base os romances “Dona Beija, a Feiticeira do Araxá”, de Thomas Leonardos, e “A Vida em Flor de Dona Beija”, de Agripa Vasconcelos. Porém, para criar a protagonista, o autor fundiu suas características com as de outras personagens históricas.

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“Ela tem um pouco de Dama das Camélias, Xica da Silva, Maria Antonieta, Marquesa de Santos e Lucrécia Bórgia”, disse Wilson em entrevista ao Jornal do Brasil, publicada em 6 de abril de 1986.

A passagem em que Beija cavalga nua é claramente inspirada na lendária Lady Godiva.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor