Em 1988, sucesso da TV Pirata incomodou medalhões do humor brasileiro

05/04/2021 às 8h35

Por: Thell de Castro
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O humorístico TV Pirata estreou na Rede Globo há exatamente 33 anos, no dia 5 de abril de 1988, e trazia uma promessa de renovação na linguagem do gênero. Após anos de programas com personagens fixos, bordões e rotinas que todos conheciam, a emissora investia em um projeto que satirizava a própria televisão e tinha na linha de frente atores como Marco Nanini, Ney Latorraca e Regina Casé, entre outros. Só que também incomodou muita gente: logo após o lançamento, nomes como Jô Soares, Agildo Ribeiro (1932-2018) e João Kleber criticaram a atração.

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Enquanto o tradicional Chico Anysio Show alcançou 62% de audiência na mesma semana do início do novo humorístico, o TV Pirata ficou com “apenas” 43%. Isso já foi o suficiente para levantar dúvidas sobre a eficácia do projeto.

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Reportagem de Jorge Espírito Santo na Folha de S. Paulo de 17 de abril de 1988, trazia como destaque o menosprezo de humoristas e especialistas quando o assunto era TV Pirata.

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Jô Soares, que estava em seu primeiro ano no SBT, à frente do Veja o Gordo, disse que não havia muita diferença da estrutura do TV Pirata para a sua atração. “Meu programa é feito de esquetes longos e rápidos, e não sei em que muda a estrutura quando eles fazem esquetes rápidos e longos que se alternam. Não vejo nada de novo nisso”. Detalhe: Jô admitiu que ainda não havia visto o programa, que já tinha sido apresentado duas vezes.

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Agildo Ribeiro, que comandava o Agildo no País das Maravilhas, na Band (e concorria diretamente com o TV Pirata) também não havia assistido ao novo humorístico. “Ele acredita que existe humor bom ou ruim e não uma nova fórmula de fazer rir os telespectadores. “O humor do TV Pirata deverá viver do bom trabalho dos atores, da direção e, principalmente, dos redatores”, disse Agildo. Como profissional, ele diz torcer para o programa dar certo, pois “quanto mais programas de humor, melhor para os telespectadores e melhor para esse país””, trouxe a matéria da Folha.

João Kleber também era do time que reprovava a atração. “Em determinados quadros, fica-se sem saber o que vai rolar, ficar indefinido”, disse. “Para João Kleber, o que falta no TV Pirata é humorista. “Não importa quem seja”, porque no duelo entre um humorista e um ator, o primeiro leva vantagem, diz ele”.

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Já Walter Clark (1936-1997), um dos responsáveis pela criação do Padrão Globo de Qualidade no final dos anos 1960, ao lado de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, disse à reportagem que riu mais com o programa do Chico Anysio (1931-2012). “Para ele, o TV Pirata poderia ter sido feito rigorosamente há 15 anos, com o mesmo Nanini. A impressão que os dois primeiros programas lhe passaram é que o TV Pirata reuniu o maior número de bons comediantes já visto num programa brasileiro. “Mas não saiu para fórmula nova nenhuma. O que o diferencia do Chico e do Jô é que estes estão apoiados no brilho de um grande ator”, diz Clark”.

Santa ingenuidade

Coordenador de textos do TV Pirata, Cláudio Paiva, recentemente em grande evidência com suas séries na Globo, defendia a atração, dizendo que não estavam querendo fazer nada de genial, mas um programa que conseguisse bom índice de audiência, a partir de um projeto que, até então, parecia inviável. “Acho que o que a gente faz é novo em uma parte e velho em outra. Nós temos uma função mercadológica e fazemos um trabalho que o espectador se acostume. Seria ingenuidade pensar de outra maneira. Como diria o Robin (o menino prodígio do Batman), ‘santa ingenuidade’”, afirmou.

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Rubens Furtado (1931-2011), que havia sido diretor geral da Manchete, também gostou. “Acreditava que depois de Chico Anysio, Jô Soares e Max Nunes, não apareceria nada mais em termos de humor no Brasil. Há uma tentativa de encontrar novas fórmulas, mas já querem cobrar uma coisa consolidada. Nada nasce perfeito, é uma contingência natural”, declarou. Ele também contou que existia um projeto semelhante na emissora dos Bloch, que se chamaria Cabe Tudo e seria comandado por Miguel Falabella e Geraldo Carneiro.

Apesar do início difícil, o TV Pirata logo começou a fazer sucesso e até hoje é apontado como inovador, tendo se transformado em cult. Quadros como Fogo no Rabo, TV Macho, Campo Rural e As Presidiárias fizeram muito sucesso, assim como o personagem Barbosa (Ney Latorraca).

Na temporada de 1989, todos foram renovados e o programa começou a perder fôlego. Em 1990, após uma malsucedida troca de dia de exibição – das terças para as quintas – a audiência minguou de vez e o humorístico foi cancelado, retornando para uma temporada derradeira em 1992, com elenco bem modificado.

O TV Pirata é considerado o pai do Casseta & Planeta, Urgente!, que estreou em 1992. Todos os integrantes do Casseta, inclusive, eram roteiristas da atração desde o início. Mais recentemente, o Tá no Ar: a TV na TV, de Marcelo Adnet e Marcius Melhem, também bebeu dessa água, alcançando repercussão positiva de público e crítica.

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