Penúltima novela de estrela que nos deixou cedo terminava há sete anos

10/07/2022 às 11h46

Por: Sergio Santos
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O que é bom dura pouco. Esta frase conhecida pode ser aplicada facilmente ao segundo folhetim de Lícia Manzo na Globo. Sete Vidas chegava ao fim há exatamente sete anos, em 10 de julho de 2015, exibindo um último capítulo recheado de sensibilidade e cenas emocionantes, onde todo o contexto da trama foi fechado com maestria. O horário das seis foi premiado com uma produção que priorizou o cotidiano, excluindo a presença de vilões clássicos. A vida era a antagonista de todos.

Sete Vidas

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A novela, que ficou marcada como o penúltimo trabalho de Domingos Montagner, que morreu no ano seguinte, durante as gravações de Velho Chico, teve apenas 106 capítulos e ficou cerca de quatro meses no ar. A curta duração evitou qualquer tipo de enrolação, mas não há como negar que deixou um gosto de quero mais.

Após o êxito da elogiada A Vida da Gente, Lícia se aventurou novamente no horário das seis com uma história que tratava de arranjos familiares. Inicialmente prevista para a faixa das 23h, a duração da obra foi aumentada (seria ainda mais curta do que foi), mas o conjunto não foi mexido.

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E a autora apenas comprovou a sua competência ao contar uma história tão bem construída e envolvente quanto a exibida em 2011, marcando, na época, sua estreia como autora solo. As novas famílias (nem tão novas assim, diga-se) foram abordadas com um extremo detalhismo e a humanidade dos personagens cativou o telespectador, que logo se viu mergulhado naquele enredo tão bem elaborado.

Drama

Sete Vidas

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O drama do solitário navegador Miguel (Domingos Montagner), que doou sêmen anos atrás no Estados Unidos, implicando no surgimento de cinco vidas, despertou atenção logo no primeiro capítulo, quando o mesmo iniciava sua saga, que era atormentada por um traumático acontecimento do passado. Toda a trama foi brilhantemente entrelaçada pela autora, onde a história de cada um foi sendo contada à medida que as semanas se passavam. E as inúmeras passagens de tempo serviram como uma saída inteligente para a narrativa da novela, uma vez que havia uma preocupação em colocar acelerações de dias, semanas e meses, e não anos, o que implicaria em ‘mudanças’ mais bruscas.

As sete vidas do título foram se encontrando aos poucos e a responsável pela reunião destas pessoas, que nem sabiam da existência uma da outra, foi Júlia (Isabelle Drummond). Através da internet, a menina conseguiu primeiro achar Pedro (Jayme Matarazzo), justamente o seu grande amor, que provocou um imenso conflito familiar, obviamente em virtude do fato de ‘serem irmãos’. Os dois ainda conheceram Joaquim, único filho de Miguel gerado por ‘meios naturais’, e logo ficaram próximos. Depois vieram os gêmeos Laila (Maria Eduarda de Carvalho) e Luís (Thiago Rodrigues), e o solitário Bernardo (Ghilherme Lobo). O último foi Felipe (Michel Noher), que surgiu de forma inesperada e dramática, pois necessitava de um transplante de fígado.

Sete Vidas

O argentino, aliás, foi o foco das grandes reviravoltas envolvendo todos. Afinal, quando o mesmo chegou, Júlia e Pedro já sabiam que não eram irmãos e estavam vivendo uma relação delicada. A gravidade de seu estado ainda implicou no reaparecimento de Miguel, até então dado como morto. Para culminar, Felipe e Júlia ainda se envolveram, dando início a um incômodo triângulo amoroso ‘familiar’. E a autora foi conduzindo estas relações minuciosamente, explorando as fragilidades e os conflitos internos de cada um. Mesmo não tendo sido uma trama ágil, a novela conseguiu apresentar os dramas de uma forma rica e nada monótona. A sensação de estar espiando a vida daqueles personagens pelo buraco da fechadura se fazia presente em todo instante, devido ao grau de realismo daquelas situações.

E cada irmão tinha alguma característica mais marcante, que acabava o diferenciando em relação aos demais. Júlia era a acolhedora, Laila a desbocada (‘sincericida’), Luís o centrado, Pedro o voluntarioso, Bernardo o introspectivo e Felipe o solidário. Claro que perfis tão distintos entrariam em conflito juntos, como de fato aconteceu várias vezes, apimentando a história. E toda a questão deles envolvendo o pai biológico – que tinha a fuga como maior aliada, devido ao passado traumático envolvendo seus pais – serviu para engrandecer ainda mais estas nada simples relações. Lícia soube desenvolver um enredo extremamente atual de uma forma coerente e muito bem amarrada.

Sensibilidade e profundidade

Sete Vidas

A novela encantou e os diálogos repletos de sensibilidade e profundidade de Lícia Manzo nortearam o enredo com extrema competência. A autora sabe como tocar a alma das pessoas através de conversas e relacionamentos que refletem o cotidiano de muitas famílias. Mas é necessário aplaudir a direção de Jayme Monjardim, que novamente conseguiu passar tudo o que a escritora pretendia, repetindo o êxito de A Vida da Gente. A linda fotografia, o foco nas expressões dos personagens e a valorização dos cenários completaram o belo conjunto.

Os grandes destaques foram Débora Bloch, Domingos Montagner (os dois honraram o protagonismo e ganharam excelentes papéis), Isabelle Drummond (viveu seu melhor momento), Ghilherme Lobo, Michel Noher, Jayme Matarazzo, Maria Eduarda de Carvalho, Regina Duarte, Gisele Fróes, Cláudia Mello, Letícia Colin, Malu Galli, Maria Manoella, Leonardo Medeiros, Walderez de Barros, Cyria Coentro e Fábio Herford. Todos estiveram em estado de graça e protagonizaram cenas dificílimas.

Sete Vidas foi aclamada por público e crítica. Todos os elogios feitos fizeram jus ao lindo conjunto apresentado e a novela ainda conseguiu aumentar a audiência da faixa das 18 horas – aumentou em dois pontos a média do horário. A saga do solitário navegador e dos seus sete filhos envolveu do primeiro ao último capítulo.

Lícia Manzo, mais uma vez, conseguiu emocionar através de uma belíssima história e mostrou que estava apta para o horário nobre da Globo. Não há dúvidas de que todas as vidas (não só as sete do título) ficaram marcadas na memória de quem se ‘alimentou’ deste delicioso enredo ao longo de quase quatro meses, que passaram rápido demais. Ficou a saudade.

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