O fim do ano vai chegando e com ele as tradicionais premiações elegendo quem mais se destacou na televisão. O Melhores do Ano, do Domingão do Faustão, já é um dos eventos ‘clássicos’ de encerramento e, óbvio, só seleciona produções da Globo. Como são apenas três indicações por categoria, quase sempre há esquecimentos imperdoáveis. Entretanto, nos últimos anos, houve uma certa justiça nas seleções, priorizando os realmente merecedores, com raras exceções. Mas, em 2017, muitas escolhas provocaram um inevitável incômodo.

Em virtude do imenso sucesso de A Força do Querer, a novela de Glória Perez dominou todas as indicações. Vale lembrar que isso é algo normal e aconteceu algo semelhante com Avenida Brasil e Amor à Vida, outros grandes êxitos da faixa nobre da Globo. O problema é que o ano teve mais novelas ótimas e também com elencos dignos de muito reconhecimento.

O quase total esquecimento de Novo Mundo, por exemplo, é absurdo. O folhetim das seis teve uma excelente audiência, atores brilhantes e repercussão alta. O mesmo ocorre com Malhação – Viva a Diferença, conseguindo índices não obtidos na faixa há dez anos. Já Rock Story não teve índices estrondosos e nem gerou burburinho, mas também merecia a lembrança.

A categoria Revelação, por exemplo, foi uma das mais controversas, repetindo uma polêmica já vista em anos anteriores, selecionando ator que não é revelação de fato. As atrizes foram Carol Duarte, Karla Karenina e Vitória Strada. As três são talentosas, isso não se discute. Todavia, Karla brilhou como Dita em A Força do Querer, mas estreou na televisão na Escolinha do Professor Raimundo, em 1995. Também esteve ótima em Morde & Assopra, novela exibida em 2011. Ou seja, nem deveria estar ali.

E Vitória vem honrando o protagonismo de Tempo de Amar. É realmente mais uma grata surpresa do ano. O problema é que a novela não está nem na metade. Como ignorar Daphne Bozaski, Heslaine Vieira, Gabriela Medvedovski, Manoela Aliperti e Ana Hikari, as cinco protagonistas de Malhação? Claro que todas não poderiam ser indicadas, porém, ao menos uma era o mínimo. E Daphne merecia. Já Carol Duarte foi a única selecionada com razão. Seu show como Ivana/Ivan está eternizado. Venceu com mérito.

No quesito Ator Revelação houve uma maior preocupação em ser justo. João Vicente Castro se destacou como o canalha Lázaro, em Rock Story, e Silvero Pereira deu um banho de atuação como Nonato/Elis Miranda, em A Força do Querer. A questão é que Jonathan Azevedo não deveria estar junto com eles. Seu Sabiá na trama das nove foi um show à parte e virou um dos destaques do enredo, mas o ator já fez várias participações em novelas e esteve em Malhação Conectados (2011). Ou seja, deveria concorrer em Personagem do Ano, cedendo lugar para Matheus Abreu (pelo desempenho em Dois Irmãos e Malhação) ou Roberto Cordovani (pelo brilhantismo como Sebastião em Novo Mundo). Porém, a vitória de Jonathan foi bonita e ele fez jus ao troféu.

Aliás, a seleção de Personagem do Ano foi a mais vergonhosa. Criada ano passado para a valorização de veteranos, a categoria foi bem justa em 2016, colocando Pancrácio (Marco Nanini em Êta Mundo Bom!), Selma Egrei (Encarnação em Velho Chico) e Antônio Fagundes (Afrânio em Velho Chico) como concorrentes.

Em 2017, entretanto, selecionaram Silvana (Lília Cabral), Eurico (Humberto Martins) e Abel (Tonico Pereira), todos de A Força do Querer. Talvez o único que merecesse era Eurico, pelo crescimento do papel na trama em virtude das ótimas tiradas ao lado de Nonato. Se queriam tanto privilegiar o sucesso das nove, deveriam ter colocado o Sabiá e a Ritinha. Mas, além disso, deixaram de lado Elvira Matamouros (Ingrid Guimarães) e Germana (Vivianne Pasmanter), de Novo Mundo, além de Léo Régis (Rafael Vitti), de Rock Story, e até Benê (Daphne Bozaski), de Malhação. Ao menos Lília Cabral é sempre uma campeã com honras.

A categoria Atriz Coadjuvante foi outra que privilegiou exclusivamente A Força do Querer, causando uma grande injustiça. Débora Falabella é uma grande atriz e brilhou como Irene, mas a vilã deixou muito a desejar e será facilmente esquecida. Como pode ter ganhado ainda por cima? Zezé Polessa divertiu demais com sua Edinalva, mas ela e Débora não mereciam mais que Vivianne Pasmanter, Ingrid Guimarães (geniais como Germana e Elvira em Novo Mundo) ou Ana Beatriz Nogueira (impagável como Néia em Rock Story). Já Elizângela fez jus ao reconhecimento e tinha que ser a vitoriosa, pois a sua sofrida Aurora foi de arrebatar qualquer um. Finalmente recebeu o valor que merece, após tantos anos fazendo figuração de luxo em novelas. Mas, surpreendentemente, não levou. Uma decepção.

Melhor Ator de Série foi mais uma seleção injusta, embora não tenha havido indicações de atores de A Força do Querer, obviamente. Lázaro Ramos ser indicado novamente pelo Brau de Mister Brau? Sua interpretação caricata se mostra repetitiva e a série tem repercussão nula. Renato Góes foi muito bem como Renato em Os Dias Eram Assim, porém, não merecia mais que Daniel de Oliveira, outro destaque da trama, por exemplo.

Aliás, a mudança do nome de ‘novela das 23h’ para ‘supersérie’ acabou ‘roubando’ vagas das séries de fato, como Dois Irmãos. Cauã Reymond viveu o seu melhor momento na carreira interpretando os gêmeos Omar e Yaqub. O curioso é que o ator já foi indicado várias outras vezes quando não merecia e agora que merece não foi. Ao menos lembraram de Júlio Andrade pela sua total entrega em Sob Pressão e ele venceu. A vitória não podia ser de outra pessoa.

Já a categoria Atriz de Série, levando em conta a nova classificação da trama das 23h, mostrou-se a mais equilibrada. Sophie Charlotte e Julia Dalavia deram um banho de emoção em Os Dias Eram Assim, vivendo as irmãs Alice e Nanda, enquanto Marjorie Estiano novamente comprovou a baita profissional que é na pele da dedicada médica Carolina, em Sob Pressão. Que atrizes! Qualquer uma merecia o troféu. É de se lamentar apenas o esquecimento de Eliane Giardini pelo seu grandioso desempenho em Dois Irmãos, vivendo a passional Zana. Por sinal, a minissérie do início do ano é sempre ignorada nas premiações. O mesmo ocorreu com Ligações Perigosas (2015), por exemplo. O pessoal tem memória curta.

A seleção de Melhor Atriz acabou sendo, sem dúvida, a mais justa. Juliana Paes viveu seu auge na pele da Bibi Poderosa e virou um dos trunfos de A Força do Querer. E como não existia Bibi sem Jeiza, Paolla Oliveira também mereceu demais a indicação. Sua policial guerreira, empoderada e marrenta, caiu nas graças do público e ela brilhou ao lado da colega, protagonizando embates empolgantes. E Letícia Colin impressionou com sua composição irretocável em Novo Mundo, fazendo da Princesa Leopoldina uma das melhores personagens da novela das seis, conquistando o telespectador através de uma interpretação doce e um sotaque delicioso. Pelo menos em uma categoria o sucesso das seis foi lembrado. Mas, é preciso ser franco: Paolla deu show, mas não merecia mais que a Juliana Paes.

A categoria de Melhor Ator Coadjuvante, ao menos, lembrou de Novo Mundo com a indicação de Guilherme Piva, que divertiu demais com o burro Licurgo. Porém, sua seleção serviu para expor ainda mais a injustiça do esquecimento de Vivianne Pasmanter, a sua dupla inseparável da trama. Emílio Dantas foi outro indicado e o Rubinho se tornou um dos trunfos de A Força do Querer. Merecido reconhecimento. Todavia, o ator merecia estar na categoria principal no lugar de Rodrigo Lombardi, cuja atuação se mostrou apenas correta. E o traficante teve muito mais relevância para a novela do que o Caio, diga-se. Dan Stulbach foi o outro nome da categoria e sua volta à Globo e às novelas não poderia ter sido melhor. O passivo Eugênio ganhou um grande intérprete. Emílio venceu e teve méritos para isso.

E, por falar em Melhor Ator, como já mencionado, indicar Rodrigo Lombardi não teve o menor cabimento. Emílio Dantas era para estar em seu lugar e não em Coadjuvante. Ou então Caio Castro pelo seu grande desempenho como Dom Pedro, em Novo Mundo. Já Marco Pigossi fez jus ao posto, pois seu Zeca era um dos principais de A Força do Querer e o ator emprestou seu carisma para o papel, destacando-se do início ao fim e formando um casal arrebatador com Paolla Oliveira.

Mas como podem não ter premiado o trabalho irretocável de Vladimir Brichta em Rock Story? O roqueiro Gui Santiago foi o protagonista da gostosa novela das sete e o retorno do intérprete aos folhetins, após anos preso no seriado Tapas & Beijos, mostrou-se um grande acerto. Ele deveria ser o vencedor da categoria. Porém, Marco Pigossi ao menos foi um vencedor justo e melhor que Lombardi.

O quesito Ator/Atriz Mirim, infelizmente, mostrou-se outro erro desse ano – com exceção de João Bravo, o grande nome das pequenas revelações de 2017, emocionando na pele do sofrido Dedé, filho de Bibi, em A Força do Querer. Aliás, João foi o merecido vencedor. E nem poderia ser diferente. Porém, Theo de Almeida (o Quinzinho, de Novo Mundo) e Lara Cariello (a Chiara de Rock Story e a Adriana da primeira fase de O Outro Lado do Paraíso) não poderiam ser ignorados.

Os dois foram ótimos nas respectivas novelas e eram bem mais merecedores do que Mel Maia (a Duda em A Cara do Pai) e Drico Alves (o Iuri de A Força do Querer). Mel está muito bem na série dominical da Globo, mas em 2017 não tinha como ser indicada. E Drico teve boas cenas no folhetim das nove, mas bem menos que os citados.

As demais categorias não mudaram muito, seguindo o padrão dos anos anteriores. Renata Vasconcellos, Sandra Annenberg e William Bonner concorreram em Jornalismo, enquanto Marcelo Adnet, Welder Rodrigues e Lucas Veloso disputaram em Comédia. Por sinal, Lucas parece ter sido indicado somente porque participou da Dança dos Famosos – sua imitação do Didi em Os Trapalhões foi muito boa, porém, Guilherme Santana (Zacarias) e Mumuzinho (Mussum) se destacaram bem mais. Ele não merecia ter ganhado de Welder.

Luan Santana, Nego do Borel (?) e Wesley Safadão disputaram em Melhor Cantor. Já em Música do Ano concorreram Trem Bala (Ana Vilela), Paradinha (Anitta) e K.O. (Pabllo Vittar). Como Melhor Cantora concorreram Ivete Sangalo, Anitta e Marília Mendonça. Sandra venceu em Jornalismo, “K.O” como Música do Ano, Luan Santana como Cantor e Ivete como Cantora.

O Melhores do Ano de 2017 deixou bastante a desejar e as injustiças foram muitas. Todo ano há esquecimentos merecedores de críticas, até porque três indicados por categoria é um número insuficiente. Entretanto, este ano houve um excesso. A Força do Querer foi uma novela de merecido sucesso e fez jus aos inúmeros elogios ao longo de sua exibição, mas outros folhetins também se destacaram ao longo do ano e deveriam estar ao menos concorrendo – até porque dificilmente venceriam, o que nem é um problema. E Juliana Paes e Elizângela não terem ganhado foi decepcionante. Elas foram simplesmente brilhantes. Triste.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor