Tempo de Amar foi uma novela tradicional e teve a cara do horário das seis. Conseguiu bons índices de audiência, mas não explodiu e a repercussão foi baixa, além do ritmo ter se arrastado. Entre erros e acertos, cumpriu seu papel. A substituta não promete ser muito diferente e tem a missão de ao menos manter a média da faixa da Globo. Isso porque será baseada nas obras da escritora inglesa Jane Austen e manterá o clima de época, ambientada no século XX, explorando encontros e desencontros amorosos (o enredo da trama recém-terminada foi um grande e quase interminável desencontro, diga-se).

Chamada de Orgulho e Paixão (em alusão ao romance Orgulho e Preconceito, de Jane), a novela será o primeiro trabalho solo de Marcos Bernstein, após ter fracassado com Além do Horizonte, folhetim das sete escrito com o colega Carlos Gregório em 2013. Apesar do mal momento citado, o roteirista e cineasta também trabalhou como colaborador de João Emanuel Carneiro na irretocável série A Cura (2010) e de Lícia Manzo na primorosa A Vida da Gente (2011), por exemplo. Agora chegou a hora de provar que também sabe conduzir uma produção sozinho. Um desafio.

Os personagens viverão conflitos sociais e de conduta, sempre se contrapondo aos desejos pessoais de cada um. Um fictício Vale do Café, no interior de São Paulo, será a principal ambientação do enredo. Os mocinhos são Elisabeta (Nathalia Dill), uma mulher à frente do seu tempo, com pensamentos igualitários e interesses atípicos de uma jovem do século XX, e Darcy (Thiago Lacerda), um homem de caráter e bem sisudo.

Os dois logo se implicarão, mas aos poucos se descobrirão apaixonados, ao mesmo tempo que tentarão negar esse sentimento sempre que possível. A mocinha terá como confidente a sua melhor amiga, a doce Ema (Agatha Moreira), menina que é o seu oposto: romântica e idealizadora do casamento perfeito.

Elisabeta também será a paixão platônica de Ernesto (Rodrigo Simas), jovem contestador e filho de imigrantes italianos. Ele se apaixona por ela, mas vira seu amigo e aliado na busca pelos mesmos ideais igualitários. A protagonista ainda tem quatro irmãs e todas de personalidades distintas: Jane (Pâmela Tomé), Cecília (Anaju Dorigon), Lídia (Bruna Griphao) e Mariana (Chandelly Braz). As cinco são filhas de Ofélia (Vera Holtz) e Felisberto (Tato Gabus Mendes), casal que vive às turras por discordarem a respeito da criação das filhas. O pai, por exemplo, incentiva Elisabeta a correr atrás de seus sonhos, ao contrário da mãe, que espera um futuro tradicional.

As irmãs da mocinha também terão conflitos, obviamente. Jane, discreta e delicada, é considerada a irmã mais linda e viverá um romance com Camilo (Maurício Destri). Cecília é uma jovem sonhadora que vive entre livros de mistério e monta teorias para todo tipo de acontecimento. Se encantará pelo galanteador Rômulo (Marcos Pitombo), que deixará a vida festiva por ela. Lídia é a filha predileta de Ofélia e usará sua sedução como arma. Mimada e bem diferente das irmãs, se envolverá em uma grande confusão no enredo. Mariana é uma jovem que ama ler e sonha em vivenciar uma aventura. Odiará à primeira vista o coronel Brandão (Malvino Salvador), mas acabará se envolvendo com ele.

A trama ainda marca a volta de duas ótimas atrizes que não costumam emendar novelas: Gabriela Duarte e Alessandra Negrini. A primeira vive a poderosa Julieta, viúva que viverá apenas para os negócios (conhecida como a Baronesa do Café), até ter sua vida mexida por uma paixão inesperada por Aurélio (Marcelo Faria), pai de Ema. A segunda interpreta a maldosa Susana, personagem claramente inspirada no romance Lady Susan, de Jane Austen. A trama principal é baseada no clássico Orgulho e Preconceito, mas há alguns perfis e conflitos inspirados em outros romances da escritora, como já mencionado.

O elenco ainda conta com Murilo Rosa e Letícia Persiles formando um casal – Jorge é um sujeito gentil que cuida da esposa, Amélia (que tem uma doença incurável), mas ama secretamente Ema -; Ary Fontoura (Afrânio, o Barão do Café e avô de Ema); Bruno Gissoni, Miguel Rômulo, Oscar Magrini, Ricardo Tozzi, Grace Gianoukas, Laila Zaid, Joaquim Lopes, JP Rufino, Tarcísio Meira, entre outros.

A nova novela das seis é dirigida por Fred Mayrink e tem todos os elementos clássicos de um folhetim dessa faixa, embora o figurino chame atenção pelo tom mais lúdico (lembrando até o lindo, mas fracassado, remake de Meu Pedacinho de Chão, exibido em 2014). O tom teatral do elenco é algo que assusta nas chamadas, embora essa impressão possa se diluir com o tempo. As chances de ao menos manter a média da antecessora são altas. Resta aguardar os conflitos do enredo e se a adaptação da obra de Jane Austen vai funcionar na televisão.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor