No ar há mais de 25 anos, o Multishow sempre foi um dos canais a cabo mais prestigiados pelo público. Desde a sua estreia, o canal sempre teve como foco a música, vide o sucesso do TVZ (programa de clipes que está no ar desde 1999). Porém, a emissora da Globosat já há alguns anos vem investindo bastante no humor e acabou virando um lugar cativo para inúmeros humoristas, incluindo Paulo Gustavo, Tom Cavalcante, entre outros. Vários humorísticos passaram a fazer parte da grade e o mais popular é o Vai que Cola. Infelizmente, a maioria é bem fraca e tem pouca graça. O maior acerto é, sem dúvida, o Lady Night, talk show comandado por Tatá Werneck. E, no dia 21 de maio, houve um novo investimento na comédia: a estreia de Chaves e Chapolin.

Analisando friamente, parecia apenas uma tentativa do Multishow de preencher sua grade com reprises que todos já viram trocentas vezes no SBT. Mas o canal conseguiu o que parecia impossível: presentear os fãs do seriado com a exibição dos episódios em ordem cronológica e ainda exibir várias esquetes inéditas com a dublagem original. Há anos os admiradores de Chaves e Chapolin pedem para a emissora de Silvio Santos passar os chamados “episódios perdidos” e nunca foram atendidos. O canal até chegou a transmitir, em 2012, alguns episódios chamados de “semelhantes”, então inéditos, mas foram muito poucos e todos dublados sem as vozes de Nelson Machado, como Kiko, e Carlos Seild, como Seu Madruga.

O Multishow procurou fazer tudo o que os fãs sempre sonharam. Além de ter comprado o pacote da Televisa com todos os episódios de Chaves e Chapolin, a emissora fez questão de contratar todos os atores originais para a dublagem das esquetes inéditas e também as que foram redubladas pelo SBT sem Nelson e Carlos.
Infelizmente, alguns dubladores já faleceram – Marcelo Gastaldi (Chaves/Chapolin/Chapatin), Helena Samara (Dona Clotilde), Osmiro Campos (Professor Girafales) e Mário Vilela (Senhor Barriga) -, então alguns que trabalharam nas vozes dos episódios “semelhantes” do canal de Silvio Santos acabaram sendo aproveitados novamente, em virtude dos timbres parecidos. Ficou perceptível a preocupação em realizar um trabalho bem feito.

E é exatamente isso que tem sido visto. Os episódios ficaram com uma ótima qualidade de imagem e som, não havendo diferença nas esquetes dubladas recentemente e nas que mantiveram as vozes da época (décadas de 80 e 90). O canal ainda presenteou o público com uma novidade e tanto: a opção de áudio original. Quem tiver curiosidade de ouvir Roberto Gomes Bolaños (Chaves/Chapolin), Ramón Valdés (Seu Madruga), Maria Antonieta de Las Nieves (Chiquinha), Carlos Villagrán (Kiko), Florinda Meza (Dona Florinda), Edgar Vivar (Seu Barriga), Angelines Fernández (Dona Clotilde), Rubén Aguirre (Professor Girafales) e cia, pode clicar no ícone disponibilizado pelas operadoras de canais pagos que se sentirá no México. Nem o fã mais otimista poderia imaginar tantas surpresas.

Outro êxito dessa empreitada é proporcionar o prazer do telespectador em assistir esquetes inéditas de seus seriados favoritos. Parece até uma constatação óbvia, mas é algo difícil de acontecer em um produto gravado há mais de 35 anos. É uma volta à infância do público saudosista. O canal, inclusive, entrou em contato com vários fãs do Chaves (há milhares que comparecem sempre em eventos ‘nerds’ ou promovidos pelos próprios admiradores), procurando saber tudo a respeito da melhor forma de realizar a exibição em sua grade.

Também foi feito um evento de lançamento, contando com a presença de todos os dubladores e a luxuosa participação de Edgar Vivar. O único tropeço da emissora até agora foi uma redublagem em uma piada considerada homofóbica de Chapolin, onde o herói ironizava a relação de Batman e Robin. A própria produção reconheceu que exagerou e reconsiderou a decisão. Menos mal, pois não se pode censurar produções de humor da década de 70/80, levando em conta o politicamente correto. Tomara que não se repita.

Chaves e Chapolin viraram um ‘patrimônio’ do Brasil desde que os humorísticos mexicanos estrearam no SBT, em 1984. Tanto que o sucesso se mantém até hoje, mesmo com as inúmeras reprises — até mesmo o Cartoon Network, canal a cabo infantil, chegou a exibir as séries em 2012. O Multishow soube muito bem aproveitar essa febre e ainda conseguiu surpreender os telespectadores. A resposta veio na ótima audiência – elevou a média do horário consideravelmente. É bem provável que o menino pobre da vila e o herói mais covarde do mundo permaneçam na grade do canal pago por um longo tempo. Que bom.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor